sexta-feira, janeiro 08, 2021

Batismo do Senhor: Eis meu eleito

(Reflexões a partir de Isaías 42,1-4.6-7; Atos dos Apóstolos 10,34-38; Marcos 1,7-11)


Disponível em: https://pensoerepasso.blogspot.com/2021/01/batismo-do-senhor-eis-meu-eleito.html


As festas do ciclo natalino, que se iniciaram com o Advento e se prolongam com a celebração da Sagrada Família, com a celebração de Maria Mãe de Deus e a Epifania do Senhor.

Depois disso a Igreja nos propões celebrarmos o Batismo do Senhor para darmos sequência ao Ano Litúrgico e prosseguirmos com a primeira parte do “Tempo Comum”, período no qual acompanhamos o início da vida pública de Jesus. Por isso podemos dizer que a celebração do “Batismo do Senhor” é a conclusão do ciclo de Natal e o início do Tempo Comum.

E aqui estamos para celebrar o Batismo do Senhor, celebração que tem a finalidade de nos apresentar Jesus.

E como Ele é apresentado?

Essa apresentação começa com Isaías (42,1-4.6-7). Aqui o Senhor nos é apresentado como o Servo eleito que “promoverá o julgamento para obter a verdade” (Is 42,3). Também os primeiros cristãos nos apresentam Jesus. Nos Atos dos Apóstolos (10,34-38), no discurso de Pedro, o Senhor é apresentado como aquele que andou “fazendo o bem e curando a todos” (At 10,38), uma vez que “Deus não faz distinção entre as pessoas.” (At 10,34). Na narrativa dos evangelistas, Marcos (1,7-11) apresenta Jesus na cena do Batismo. Aqui, entretanto, quem fala a respeito de Jesus não são os profetas nem os apóstolos. Aqui quem fala e apresenta Jesus é o próprio Pai: “Tu és o meu Filho amado” (Mc 1,11).

A questão, agora, é saber: o que significa o fato de Jesus ser apresentado como Servo, como quem não faz distinção entre as pessoas e como Filho amado de Deus?

Foi apresentado como Filho amado de Deus porque, de fato, o é. Jesus é aquele de quem João fala no primeiro capítulo do Evangelho: é o verbo encarnado; é a palavra criadora do Pai (Jo 1,1-18); é aquele que dá o Espírito mediante o batismo (Mc 1,8). Em virtude disso, nós passamos a ser, além de criaturas de Deus, filhos do Pai que nos ama e nos adota mediante a ação do Santo Espírito. Assim sendo, podemos dizer que fazemos parte da família de Deus, pois nos adotou (Gl 4,5-7). É pela graça do Espírito que aprendemos a chamar a Deus de Pai, como Jesus nos ensinou a chamar (Mt 6,7-15).

E por que Jesus é apresentado como Servo?

Porque não se recusou a cumprir os desígnios do Pai. E não se trata de uma servidão, imposta, mas de uma missão assumida. Uma missão que tem objetivos bem específicos: promover o julgamento (Is, 42,1); manter a esperança, pois não “apaga o pavio que ainda fumega” (Is 42,3). O pavio fumegante indica que a chama da vida permanece e se existe vida, há esperança, como apregoa o ditado popular. Isso implica dizer que a vida humana é um dom precioso, pois é no transcurso da vida que nos aproximamos de Deus.

Mesmo que nos afastemos, diminuindo a chama, permanecendo apenas um pavio fumegante, Deus nos oferece novas oportunidades, motivo pelo qual “não quebra a cana rachada”. E essas novas chances nos são oferecidas por Jesus que não se deixa abater (Is 42,4). Ele é a “luz das nações” (Is 42,6). Ele é quem liberta e promove a justiça.

Sabendo que Jesus é aquele que ensina a manter a esperança e a valorizar a vida, somos levados a afirmar que estamos negando a presença de Deus entre nós enquanto existirem situações de exclusão: social, econômica, moral… Em todas as situações em que não há plenitude humana, o que existe é a ausência de Deus e nesse ambiente é que a luz da proposta divina se insere, com a finalidade de restaurar a vida a fim de que a plenitude humana manifeste a presença divina.

O que significa afirmar que em Jesus não existe distinção entre as pessoas?

Trata-se de um prolongamento da ação do Servo, pois não faz distinção justamente porque “ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (At 10,35). E, além disso: se somos obra da Palavra criadora, que é o próprio Filho; se somos filhos adotados no sangue de Cristo; se somos herdeiros pela adoção batismal, então não tem como o Senhor preferir a uns mais do que a outros. A todos oferece a mesma proposta de salvação. A todos o Senhor quer junto de si. A única exigência é que sejamos capazes de fazer as obras de Cristo: é necessário que continuemos “fazendo o bem e curando a todos” (At 10,38). A obra iniciada por Jesus Cristo tem que ser continuada por nós, para que, no mundo em que estamos inseridos, cresça a prática da justiça, como um dom de Deus.

Jesus é o eleito do Pai para oferecer a todos a condição de filhos, adotados pelo sangue de Cristo. Assim sendo, não mais um povo, mas a humanidade e cada uma das pessoas é eleita por Deus para a gloria definitiva. Por isso é que se faz necessária a prática da justiça social. A prática do altruísmo, a prática da solidariedade… e quando não fazemos isso ou quando pessoas ou grupos ou estruturas minimizam o ser humano ou geram situações de dor e morte, essas pessoas, grupos ou instituições se fazem representantes do anticristo e o que fazem é se interpor entre Deus e seu povo e destruir o plano da eleição. E, por mais que falem em nome de Deus, suas ações os denunciam como promotores da morte, contra a eleição divina.

Mas quando, no espírito da esperança e do Natal, promovemos a vida, tornamo-nos membros do corpo vivificante de Cristo. Isso ocorrendo, o Senhor Deus não dirá apenas de Jesus Cristo, mas a nosso repeito também dirá: Esse é meu eleito. Esse é meu filho. Esse é meu escolhido. Esse é amado por mim….


Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

sexta-feira, janeiro 01, 2021

Epifania: Vimos a sua estrela

(Reflexões baseadas em: Isaías 60,1-6; Efésios, 3,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12)


Disponível em: https://pensoerepasso.blogspot.com/2021/01/epifania-vimos-sua-estrela.html


Cenas marcantes nos são apresentadas neste tempo de Natal. E, se não formos insensíveis, certamente seremos tocados por elas ou, pelo menos, por algumas delas.

Entre todas as cenas do período natalino, uma delas, certamente é esta em que os três magos chegam onde está o menino (Mt 2,1-12): Quem são eles? De onde vieram? Por que vieram?

Pelo que nos informa Mateus, eles procuravam um rei (Mt 2,2). Por esse motivo, certamente eles acham estranha a cena: esperavam um rei e sua pompa e encontram uns animais, uns pastores e uns pobres coitados, cuidando de uma criança que nem roupa tinha para vestir. Realmente uma cena estranha ou, pelo menos, não esperada...

Olham novamente a cena: Os pais da criança, alojados no curral; a plateia de visitantes uns pastores, certamente também mal vestidos. Toda a cena denota pobreza. Uma cena que, em nada, lembra a pompa da realeza. Eles haviam saído de sua terra para visitar um rei… Mas por algum motivo, certamente por inspiração divina, afinal Deus acompanha os sábios, e até se manifesta como Sabedoria … eles entram na roda de conversa e sentam-se entre os presentes, para conversar.

Na roda de conversa os magos contam sua história: “vimos sua estrela no Oriente” (Mt 2,2). E explicam que partiram tão logo avistaram a estrela mensageira do nascimento do rei. Explicam que procuraram no palácio, pois procuravam o rei dos judeus. Explicam que o rei romano nada sabia do rei recém-nascido. E, principalmente, explicam que o rei, em Jerusalém, solicitava informações a respeito do rei que acabara de nascer, e que ali estava, majestosamente na manjedourauma criança simples, entre animais e pastores!

E eles, principalmente, explicam que não estão entendendo a cena, pois seus estudos e suas observações e suas informações lhes asseguravam que encontrariam um bebê envolto na realeza, mas o que de fato encontraram foi uma criança comum, filho de pessoas comuns… envolvidos, todos, na pobreza! Também isso coisa comum, no meio do povo, que não ostenta riqueza!

Não sabemos se nessa conversa, se foram os pastores, ou foram os pais do menino… ou apenas inspiração divina. O fato é que os magos entenderam a cena. Compreenderamm a natureza do reino do recém-nascido. Quem sabe alguém lhes tenha explicado o significado da profecia de Isaías (60,1-6). Quem sabe alguém lhes tenha dito que, da mesma forma que os magos viram a estrela mensageira, o profeta também anunciara sua visita. Talvez tenham lhes explicado que, com a chegada dessa criança, o mundo passava a ter um novo significado. Talvez tenham lhes explicado que essa era uma criança que estava ali para atrair a si todas as nações. Talvez tenham lhes explicado que o recém-nascido veio para acabar com as trevas que envolviam toda a terra, para que todos os povos pudessem voltar a caminhar na luz (Is 60,2-3).

Não sabemos se entenderam por si mesmos, se lhes foi explicado ou se tudo foi só inspiração divina, mas o fato é que os magos compreenderam que “uma criança nos foi dada” e a criança que nos foi dada é a luz para guiar os povos, como havia guiado os magos.

E todos entenderam, como o entendeu Paulo (Ef, 3,2-3a.5-6): esse recém-nascido, ao crescer vai anunciar uma mensagem transformadora. Não só para transformar as atitudes de quem o ouviria, mas também os rumos da história. Essa criança, ao crescer, anunciou que seu reino não se limita ao povo judeu, mas a todos que aceitarem a nova proposta e eles, os magos, estavam ali para comprovar isso.

Isso Paulo também entendeu e passou a ensinar: o anúncio feito pelo jovem que nasceu na estrebaria; esse mesmo jovem que havia sido anunciado pelo profeta, trouxe uma novidade: “os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho” (Ef, 3,6).

E então, tudo passa a fazer sentido para os magos: Deus está se manifestando! Eles entendem que Deus faz opção de classe social. Preferiu não nascer entre os ricos, pois eles já tem de tudo, inclusive seus deuses que satisfazem suas vontades. Entenderam que o rei que está à sua frente, não poderia ter nascido no palácio, pois precisa se manifestar àqueles que nada possuem para, com esse gesto, anunciar que a partir do Natal os deserdados, explorados, injustiçados, marginalizados… podem ter uma certeza: Deus está com eles. Por isso nasceu pobre entre os pobres. Veio para mostrar que um outro modelo de sociedade é possível, sem ser necessário cumprir as vontades do rei maldoso sentado no trono do palácio do mal. Em vez de cumprir com as ordens assassinas do rei eles “não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho” (Mt 2,12).

Os magos entendem que outro caminho é possível. Entenderam que o novo rei, não fez questão do luxo. Se o próprio rei nasceu entre os pobres, isso indica que há um caminho alternativo que leva ao Pai e que os empobrecidos são vítimas. Mas podem voltar a ser protagonistas, fazendo com que as vítimas passem a ser os primeiros destinatários da mensagem. E compreendem isso porque “viram o menino com Maria, sua mãe” (Mt 2,11). Então, percebendo a simplicidade da nova mensagem, reverenciam no novo rei e lhe entregam os presentes.

É assim a manifestação da nova realeza: não na ostentação, mas na simplicidade. Não em meio às artimanhas políticas do palácio, mas no meio do povo, representados pelos pastores. Não em obediência à antiga lei que aprisiona, mas seguindo outro caminho, como o caminho dos magose para seguir o novo rei basta seguir sua estrela.

 

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.


Sagrada Família: para se cumprir!

Reflexões baseadas em: Eclo 3,3-7.14-17a; Cl 3,12-21; Mt 2,13-15.19-23 Todos os que, de alguma forma, tiveram contato com os ensinamentos d...