(Reflexões a partir de Isaías 42,1-4.6-7; Atos dos Apóstolos 10,34-38; Marcos 1,7-11)
Disponível em: https://pensoerepasso.blogspot.com/2021/01/batismo-do-senhor-eis-meu-eleito.html
As festas do ciclo natalino, que se iniciaram com o Advento e se prolongam com a celebração da Sagrada Família, com a celebração de Maria Mãe de Deus e a Epifania do Senhor.
Depois disso a Igreja nos propões celebrarmos o Batismo do Senhor para darmos sequência ao Ano Litúrgico e prosseguirmos com a primeira parte do “Tempo Comum”, período no qual acompanhamos o início da vida pública de Jesus. Por isso podemos dizer que a celebração do “Batismo do Senhor” é a conclusão do ciclo de Natal e o início do Tempo Comum.
E aqui estamos para celebrar o Batismo do Senhor, celebração que tem a finalidade de nos apresentar Jesus.
E como Ele é apresentado?
Essa apresentação começa com Isaías (42,1-4.6-7). Aqui o Senhor nos é apresentado como o Servo eleito que “promoverá o julgamento para obter a verdade” (Is 42,3). Também os primeiros cristãos nos apresentam Jesus. Nos Atos dos Apóstolos (10,34-38), no discurso de Pedro, o Senhor é apresentado como aquele que andou “fazendo o bem e curando a todos” (At 10,38), uma vez que “Deus não faz distinção entre as pessoas.” (At 10,34). Na narrativa dos evangelistas, Marcos (1,7-11) apresenta Jesus na cena do Batismo. Aqui, entretanto, quem fala a respeito de Jesus não são os profetas nem os apóstolos. Aqui quem fala e apresenta Jesus é o próprio Pai: “Tu és o meu Filho amado” (Mc 1,11).
A questão, agora, é saber: o que significa o fato de Jesus ser apresentado como Servo, como quem não faz distinção entre as pessoas e como Filho amado de Deus?
Foi apresentado como Filho amado de Deus porque, de fato, o é. Jesus é aquele de quem João fala no primeiro capítulo do Evangelho: é o verbo encarnado; é a palavra criadora do Pai (Jo 1,1-18); é aquele que dá o Espírito mediante o batismo (Mc 1,8). Em virtude disso, nós passamos a ser, além de criaturas de Deus, filhos do Pai que nos ama e nos adota mediante a ação do Santo Espírito. Assim sendo, podemos dizer que fazemos parte da família de Deus, pois nos adotou (Gl 4,5-7). É pela graça do Espírito que aprendemos a chamar a Deus de Pai, como Jesus nos ensinou a chamar (Mt 6,7-15).
E por que Jesus é apresentado como Servo?
Porque não se recusou a cumprir os desígnios do Pai. E não se trata de uma servidão, imposta, mas de uma missão assumida. Uma missão que tem objetivos bem específicos: promover o julgamento (Is, 42,1); manter a esperança, pois não “apaga o pavio que ainda fumega” (Is 42,3). O pavio fumegante indica que a chama da vida permanece e se existe vida, há esperança, como apregoa o ditado popular. Isso implica dizer que a vida humana é um dom precioso, pois é no transcurso da vida que nos aproximamos de Deus.
Mesmo que nos afastemos, diminuindo a chama, permanecendo apenas um pavio fumegante, Deus nos oferece novas oportunidades, motivo pelo qual “não quebra a cana rachada”. E essas novas chances nos são oferecidas por Jesus que não se deixa abater (Is 42,4). Ele é a “luz das nações” (Is 42,6). Ele é quem liberta e promove a justiça.
Sabendo que Jesus é aquele que ensina a manter a esperança e a valorizar a vida, somos levados a afirmar que estamos negando a presença de Deus entre nós enquanto existirem situações de exclusão: social, econômica, moral… Em todas as situações em que não há plenitude humana, o que existe é a ausência de Deus e nesse ambiente é que a luz da proposta divina se insere, com a finalidade de restaurar a vida a fim de que a plenitude humana manifeste a presença divina.
O que significa afirmar que em Jesus não existe distinção entre as pessoas?
Trata-se de um prolongamento da ação do Servo, pois não faz distinção justamente porque “ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (At 10,35). E, além disso: se somos obra da Palavra criadora, que é o próprio Filho; se somos filhos adotados no sangue de Cristo; se somos herdeiros pela adoção batismal, então não tem como o Senhor preferir a uns mais do que a outros. A todos oferece a mesma proposta de salvação. A todos o Senhor quer junto de si. A única exigência é que sejamos capazes de fazer as obras de Cristo: é necessário que continuemos “fazendo o bem e curando a todos” (At 10,38). A obra iniciada por Jesus Cristo tem que ser continuada por nós, para que, no mundo em que estamos inseridos, cresça a prática da justiça, como um dom de Deus.
Jesus é o eleito do Pai para oferecer a todos a condição de filhos, adotados pelo sangue de Cristo. Assim sendo, não mais um povo, mas a humanidade e cada uma das pessoas é eleita por Deus para a gloria definitiva. Por isso é que se faz necessária a prática da justiça social. A prática do altruísmo, a prática da solidariedade… e quando não fazemos isso ou quando pessoas ou grupos ou estruturas minimizam o ser humano ou geram situações de dor e morte, essas pessoas, grupos ou instituições se fazem representantes do anticristo e o que fazem é se interpor entre Deus e seu povo e destruir o plano da eleição. E, por mais que falem em nome de Deus, suas ações os denunciam como promotores da morte, contra a eleição divina.
Mas quando, no espírito da esperança e do Natal, promovemos a vida, tornamo-nos membros do corpo vivificante de Cristo. Isso ocorrendo, o Senhor Deus não dirá apenas de Jesus Cristo, mas a nosso repeito também dirá: Esse é meu eleito. Esse é meu filho. Esse é meu escolhido. Esse é amado por mim….
Neri de Paula Carneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.
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