quinta-feira, novembro 14, 2024

Tempo de angústia, tempo de esperança


Reflexões baseadas em: Dn 12,1-3; Hb 10,11-14.18; Mc 13,24-32




Iniciemos nossa reflexão com um trecho do “apocalipse de Marcos” (Mc 13,24-32).

O evangelista nos fala sobre dificuldades: "Naqueles dias, depois da grande tribulação, o sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais (Mc 13,24). Porém, olhemos para isso sem susto e sem medo. Vamos contemplar nisso apenas a força da Palavra de Salvação. E isso por um motivo simples: a Palavra divina não nos é dirigida para assustar, mas para repor os ânimos. Indicar caminhos de esperança e de superação! É uma Palavra de Salvação!

Ao lado do texto de Marcos vamos olhar para outro trecho apocalíptico, agora de Daniel (Dn 12,1-3). Também o profeta fala de um tempo de angústia e sofrimento.

Entretanto, e isso vale para toda a Palavra do Senhor, a dor, o sofrimento, a angústia, a maldade humana que provoca sofrimento… nada disso é definitivo: chegará um tempo no qual aquele que cumpriu com o plano divino vai “brilhar como estrela”.

Sendo trechos com palavras, aparentemente assustadoras, como é possível ver nisso sinais de esperança? Tudo isso é possível por causa de Jesus de Nazaré. Ele, Filho de Deus, veio e cumpriu seu propósito: indicou o caminho para o Pai. E isso entendemos quando lemos hebreus 10,11-14. aqui podemos acompanhar a ação sacerdotal do Cristo Jesus!

Hebreus nos ensina que essa ação é muito diferente dos demais sacerdotes. Não se iguala aos sacerdócios do passado nem aos de hoje, porque a ação sacerdotal, tem poder de nos guiar de forma profética. Jesus se deu uma única vez e de forma definitiva, pois é o sacerdote perfeito; seu gesto nos conduz de forma exemplar, pois é o perfeito rei; suas palavras denunciam os erros e maldade das pessoas ao mesmo tempo que anuncia as trilhas da justiça, do amor, da solidariedade, do perdão e convida ao compromisso com o irmão, pois é o profeta perfeito. E faz tudo isso de forma perfeita e definitiva porque é o sacerdote perfeito. Só ele pode nos conduzir ao Pai: sua única oferta na cruz foi uma oferta definitiva. “De fato, com esta única oferenda, levou à perfeição definitiva os que ele santifica” (Hb 10,14).

Para deixar tudo bem claro, Hebreus indica a diferença no ato sacerdotal: “Todo sacerdote se apresenta diariamente para celebrar o culto, oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, incapazes de apagar os pecados. Cristo, ao contrário, depois de ter oferecido um sacrifício único pelos pecados, sentou-se para sempre à direita de Deus.” (Hb 10,11-12).

Como se pode ver, só com isso já temos motivo suficiente para alimentar não só a fé cotidiana, mas principalmente a esperança definitiva. Pois esse é o nosso destino: a eternidade. É esse o alerta de Daniel. A isso nos convida Marcos.

Partindo de “um tempo de angústia, como nunca houve até então, desde que começaram a existir nações” (Dn 12,1), somos convidados a rever nossas expectativas. Por quê? Por que esse tempo de angústia não é definitivo. Os nossos dramas, nossas dores, nosso mundo de sofrimento, a exploração dos empobrecidos, a degradação ambiental, a sede desenfreada pelo lucro… tudo isso manifesta as faces do mundo em que vivemos neste tempo de angústia.

Mas isso não é definitivo.

Tudo isso não é o fim nem é para isso que existe a criação. Não foi para isto que chegamos aqui. Esse mundo de angústia e sofrimento, produzido pelo “inimigo”, esse, sim, vai chegar ao fim; ele é mantido pelos colaboradores do anticristo, que estão entre nós. Mas tudo isso dirige-se para o ocaso. É por isso que o profeta lança seu brado de consolo anunciando novos tempos de paz e alegria. E, então, nesse novo tempo, diz o profeta, haverá salvação destinada a quem permanecer fiel. O povo, que é de Deus, será salvo. “Todos os que se acharem inscritos no Livro.” (Dn 12,1).

A cena descrita por Marcos pode parecer um cenário de horrores: “Naqueles dias, depois da grande tribulação, o sol vai se escurecer e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas” (Mc 13,24-25).

Mas não se desespere: o que está se desmoronando é o mundo da maldade. O mundo construído contra os filhos da luz, contra o amor solidário, contra os pequeninos do Reino, contra os anunciadores da paz… o mundo do mal que se ergueu contra toda a criação… esse vai desmoronar!

E quando o império do mal estiver sendo demolido, então se verá o príncipe da paz chegando com o fruto do bem, plantado por cada um dos que acreditaram no poder do amor sobre o mal: “Então vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória.” (Mc 13,26).

Este é o sinal da esperança. Este é o sinal da vitória do amor. Este é o tempo que esperamos: quando as pessoas estiverem sentindo o peso do desespero; quando os gritos de dor e sofrimento estiverem sufocando a esperança… quando o mal estiver se alastrando, serpente com cabeça de anjo, chegando às nossas portas, então é o momento de fazer valer a esperança: assim, “quando virdes acontecer essas coisas, ficai sabendo que o Filho do Homem está próximo, às portas” (Mc 13,29).

Os sinais estão postos. O alerta foi lançado. A promessa foi feita. O convite está aberto. A festa vai acontecer. Sabemos que a festa vai acontece e que fomos convidados. Porém não sabemos a data. Só temos o ingresso em nossas mãos, um ingresso que tem o selo da esperança.




Neri de Paula Carneiro

Mestre em Educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

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