Reflexões baseadas em: Deuteronômio 5,12-15; 2 Coríntios 4,6-11; Marcos 2,23-3,6
Qual a importância de guardar o dia do Senhor?
Quando devemos trabalhar e quando devemos prestar culto ao Senhor?
O que é mais importante: guardar o dia do Senhor ou ser solidário e ajudar quem precisa?
Em que momento se deve ajudar quem precisa: antes ou depois de ter cultuado ao Senhor?
E se meu ato solidário, altruísta; se meu gesto de socorro ao necessitado; se meu gesto de amor ao irmão… me impedir de prestar culto ao Senhor?
E se minhas preces forem interrompidas pelos gritos de socorro: continuo minha prece ou respondo ao pedido de socorro?
É claro que estas interrogações são só indagações… mas elas se encaixam e cobram uma postura quando ouvimos o trecho do discurso no livro do Deuteronômio (Dt 5,12-15).
Mais ainda, esse trecho chega a nós pedindo esclarecimentos diante de afirmações este preceito a respeito do sábado: “O sétimo dia é o do sábado, o dia do descanso dedicado ao Senhor teu Deus. Não farás trabalho algum, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu boi, nem teu jumento, nem algum de teus animais, nem o estrangeiro que vive em tuas cidades, para que assim teu escravo e tua escrava repousem da mesma forma que tu” (Dt 5,14). Ou seja, a Palavra do Senhor é taxativa: o dia do Senhor tem que ser respeitado! E o crente é aquele que respeita as leis do Senhor!
Mas aqui está a grande questão. Ela pede uma resposta. Os fariseus, no tempo de Jesus, pedira essa resposta. E, em nossos dias, a mesma indagação, pede uma resposta.
E de onde ela vem? Quem pode nos tirar da dúvida?
A resposta vem do próprio Senhor (Mc 2,23-3,6). E vem, justamento a partir de um questionamento dos concidadãos de Jesus. Os fariseus questionaram o comportamento de Jesus e seus discípulos. E Jesus responde.
Como reage o Senhor?
Reage com outro questionamento. Devolve o questionamento àqueles que o interrogam: Jesus “perguntou-lhes: ‘É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?’ Mas eles nada disseram.” (Mc 3,4). Quem não se deixa guiar pelo amor, não tem resposta que exige atitude amorosa.
Por esse motivo o Senhor, diante do silêncio dos adversários, afirma ser Senhor de tudo, inclusive do sábado: “Portanto, o Filho do Homem é senhor também do sábado” (Mc 2,28).
E vai além! O Senhor Jesus recoloca o sentido do sábado e do culto a Deus: o sábado está colocado não para gerar peso, mas libertação. Não para produzir medo, mas coragem. Não pelo seguimento cego á letra da lei, mas para afirmar a importância do ser humano. Por isso a afirma: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado” (Mc 2,27).
O que está em questão não é a norma que afirma a necessidade de um dia destinado ao culto e ao descanso. A afirmação diz respeito à necessidade de fazer o que tem que ser feito para que o ser humano seja preservado e Deus reverenciado.
O Senhor merece o culto e a ele devemos entregar nossas orações, dedicar nossas preces, entregar nossos louvores, destinar nossa gratidão… mas isso não é impedimento de levar ao outro aquilo que o outro precisa. Por isso, o Deuteronômio afirma a importância do sábado. Para destinar tempo ao Senhor e assegurar o descanso: “não farás trabalho algum” porque este é o momento de cultuar ao Senhor; mas também aqueles que te ajudam merecem o descanso: tanto os “escravos” como os animais. O respeito ao outro também passa pela defesa do direito do outro. E o argumento é simples: “lembra que foste escravo” (Dt 5,15). Lembrar do tempo da escravidão implica lembrar que o outro também não pode ser escravizado; implica lembrar que é o Senhor quem liberta. E se o Senhor liberta, como podemos nós gerar opressão?
Tanto a ação de Jesus, curando em dia de sábado, como o discurso do Deuteronômio são afirmações em defesa do outro e em favor da vida. É quando colocamos o outro no centro que vamos entender o discurso de Paulo (2Cor 4,6-11).
A preciosidade do ser humano transparece no discurso de Paulo: o dom de Deus é um tesouro. O ser humano é um dom de Deus. Portanto o ser humano é um tesouro. Isso leva o apóstolo a afirmar: “trazemos esse tesouro em vasos de barro, para que todos reconheçam que este poder extraordinário vem de Deus e não de nós” (2Cor 4,7).
Então, o que fazer no tempo destinado ao culto a Deus? Cultuar a Deus.
E se alguém precisar de nós, no momento do culto? O culto maior é a mão estendida!
Essa libertação é necessária porque o “Egito” continua em nós. Continua nos escravizando.
“Foste escravo”, e se não te libertas do legalismo, do egoísmo, das ambições e de todos os gestos de maldade, continuas “escravo”. Por isso, para superar as amarras de todas as escravidões, temos que nos lembrar: O sábado (ou seja, os preceitos) foi feito para o homem e não o contrário. Valorizar o que não valoriza a vida, é morrer na escravidão. Lembremo-nos de que Jesus é nosso libertador. É ele que, nos dias atuais, nos diz: “foste escravo… mas eu te libertei. Aceitas minha liberdade?”
Neri de Paula Carneiro
Mestre em Educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.
Mestre em Educação, filósofo, teólogo, historiador
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