quinta-feira, 25 de maio de 2023

Pentecostes – Ninguém pode dizer

(Reflexões baseadas em: At 2,1-11; 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23)




Existem alguns elementos que chamam nossa atenção nas três leituras do domingo de Pentecostes. E são elementos importantes!

Logo de início chama nossa atenção a afirmação que podemos ler em Atos dos Apóstolos (2,1-11). Ali diz que “os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar.” E essa afirmação tem um ponto central: todos reunidos. Trata-se de uma comunidade reunida! Uma comunidade que se reunia! A união é o centro dessa comunidade dos primeiros cristãos.

Bem, os discípulos estava reunidos. Mas onde e por que estavam reunidos? Para saber precisamos voltar ao capítulo 1 dos Atos do Apóstolos. Lá somos informados que após acompanharem a ascensão do Senhor os discípulos voltaram a Jerusalém e foram para uma sala “onde costumavam ficar” (At 1,13), quando Jesus ainda andava com eles pelas cidades.

Quanto ao motivo de se reunirem, podemos enumerar vários: o primeiro deles possivelmente era o medo, como afirma João 20,19-23. Podemos acreditar que esse motivo seja real, pois João estava entre os que se reuniam. O medo era tal que “as portas estavam fechadas”, pois os judeus, que haviam entregue Jesus, eram uma ameaça aos seus seguidores. Outro motivo para estarem reunidos é a orientação de Jesus (At 1,4), dizendo para não se afastarem de Jerusalém até que se cumprisse a promessa do Pai. Um terceiro motivo é a fidelidade à orientação de Jesus: esperar o batismo no Espírito, (At 1,5). E se lermos com atenção o texto do Evangelho, notaremos um quarto motivo: acolher a paz do Senhor (Jo 20,19). Como consequência da paz, vem um quinto motivo para estarem reunidos: a missão. Serem enviados, como o Pai enviou a Jesus. (Jo 20,21). Há, ainda, um sexto motivo, expresso no texto do Pentecostes: o forte vento do Espírito e as línguas de fogo (At 2,2-3).

Com base nisso, quase sempre nos detemos nesse aspecto do cumprimento da promessa: O Espírito foi dado como força e como fogo purificador.

Mas será que não podemos perceber mais um motivo para os discípulos terem permanecido reunidos? Talvez possamos dizer que, a partir do que ouviram das lições de Jesus de Nazaré e depois, também do Cristo ressuscitado, os discípulos entenderam que a vinda do Santo Espírito os libertaria do medo. Isso é compreensível quando notamos que tão logo as línguas de fogo se derramam os discípulos superam o medo e começaram a falar. E os ouvintes se admiravam pois eles anunciavam “as maravilhas de Deus”.

Entretanto, não só a necessidade de vencer o medo uniu os discípulos. Paulo, (1Cor 12,3b-7.12-13) nos fala de outros dons do Espírito. E ele faz uma pequena lista: reconhecer Jesus como Senhor; a diversidade de dons; a diversidade de ministérios… (1Cor 12,3-5).

Tem mais: Buscar o “bem comum” também é dom do Espírito. Isso nos leva a uma conclusão: quem não se ocupa do bem comum não está adequado ao Espírito. O Apóstolo também nos recorda que esses membros unidos formam um só corpo. E isso nos mostra a importância da diversidade. Ou seja, todo aqueles que condenam o diferente, estão condenando o próprio corpo… que está vinculado ao Cristo Senhor.

Tudo mostra que a união tem a ver com o Espírito, seus dons e sua força. De acordo com Paulo e com Jesus, tem algo a mais, nessa importante reunião: Paulo faz mais que uma lista de dons do Espírito. Ele explica o motivo do Espírito se derramar como dom: são dados “em vista do bem comum.” O bem de todos os membros que formam o corpo que tem a Cristo como cabeça (1Cor 12,12). O bem comum, portanto, é o bem da comunidade.

Cristo é a cabeça de um corpo, mas que corpo é esse? Nada mais que a própria Igreja. A Igreja é o corpo de Cristo e Cristo é a cabeça da Igreja. E a Igreja é a comunidade dos que se reúnem pelo Espírito, em nome de Cristo.

Além de tudo isso: Foi à Igreja que Jesus dirigiu suas palavras finais. E aqui está, talvez, o mais importante motivo dos discípulos terem permanecido reunidos: receber o dom de mediar do perdão (Jo, 20,23). Embora o perdão dos pecados seja um dom divino, Jesus, pela mediação do Espírito, concede esse dom à Igreja. Ou seja, por mandato do Pai a Igreja é mediadora do perdão como de um dom trinitário. Ao anunciar o perdão, a Igreja o concede “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.

O envio feito por Jesus, é uma missão para o perdão: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados” (Jo 20,23).

De fato, “ninguém pode dizer Jesus Cristo é o Senhor, a não ser pelo Espírito” (1 Cor 12,3). Mas essa profissão de fé só tem sentido, para uma vida eclesial. É na comunidade que podemos proclamar e reconhecer, pelo Espírito, que Jesus é o Senhor.




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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