quarta-feira, 5 de abril de 2023

Paixão do Senhor: Resgatou nosso pecado

(Reflexões baseadas em: Isaías 52,13-53,12; Hebreus 4,14-16; 5,7-9; João 18,1-19,42)




Todos sabemos que a Semana Santa é um período de forte apelo à conversão. E, se não à conversão, pelo menos de reconciliação; de convite a uma profunda revisão de vida e de posturas… Isso significa que este período do ano litúrgico é carregado de desafios à nossa fé e ao nosso comportamento de cristãos. Este é um período em que refletimos sobre o significado, para nós, dos últimos momentos da vida de Jesus de Nazaré (João 18,1-19,42).

Creio, também, que a maioria de nós, pelo menos uma vez já assistiu algum filme ou encenação, retratando a Paixão de Cristo. E quando ela é teatralizado, são tomadas cenas dos quatro evangelistas que narram os passos da prisão, julgamento, condenação e execução de Jesus. O que nem sempre é reforçado nessas encenações, ou filmes, é que esses episódios dos últimos momentos da vida de Jesus – aliás, como de toda sua vida pública – estão, de alguma forma, prefigurados nos textos do Antigo Testamento.

Na palavra dos profetas, nos escritos da sabedoria bíblica, nos salmos… em diferentes passagens podemos encontrar algo que pode ser associado à vida de Jesus. Ao longo de todo o Antigo Testamento podemos encontrar cenas que podem ser relidas à luz do que viveu Jesus de Nazaré…. Isso nos permite dizer que Jesus, sua vida, seus feitos e sua paixão, foram retratados nas Escrituras Sagradas. Seus passos retratam as Escrituras.

Um desses retratos nos é mostrado pelo profeta Isaías. Quando o profeta comenta o sofrimento do Servo (Is 52,13-53,12), podemos identificar cada um dos traços de Jesus e, principalmente, suas dores no suplício de sua prisão; sua entrega às dores e, como consequência de sua morte, a ressurreição: “O meu Servo será bem sucedido”, pois, ressurgirá da morte para a vida. E mais: “Diante do Senhor ele cresceu como renovo de planta ou como raiz em terra seca”. Senhor da vida e da morte ressuscitou para mostrar o caminho da vida.

Mas, porque esse Servo sofredor passou por todas essas dores? Porque só ele é o redentor e,como tal, “ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores; e nós pensávamos fosse um chagado, golpeado por Deus e humilhado!” Entretanto, tudo que fazia era para nos livrar da condenação, como afirma o profeta: “a punição a ele imposta era o preço da nossa paz, e suas feridas, o preço da nossa cura”.

Não apenas sofrimentos, mas a própria morte foi realizada num plano de resgate dos pecadores.Nas palavras de Isaías, ele “entregou o corpo à morte, sendo contado como um malfeitor; ele, na verdade, resgatava o pecado de todos e intercedia em favor dos pecadores”.

Isso e muito mais, encontramos no Antigo Testamento. Passagens que remetem a Jesus e ao seu sacrifício em favor de todos aqueles que aceitam sua proposta de amor. De amar ao extremo de dar a vida em favor de outros; como ele a deu para nos resgatar!

Esse ciclo é tão completo que a Carta aos Hebreus (4,14-16; 5,7-9), relê as Escrituras identificando Jesus com o Sumo Sacerdote. Um Sumo Sacerdote diferente daqueles da velha Lei. Ele é o único Sumo Sacerdote “capaz de se compadecer de nossas fraquezas”. Tendo dedicado a vida aos que mais sofriam, fez da morte resgate dos que a ele se entregaram: “Na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem”.

Sua paixão e morte, portanto, tinham um propósito: ser oportunidade de conversão.No entanto, mesmo oferecendo seu exemplo de vida… Mesmo oferecendo uma vida plena… Mesmo entregando a vida em resgate de muitos… Mesmo tendo passado seus últimos anos de vida com um grupo de discípulos… apesar de tudo isso, houve quem o traísse; houve quem o negasse; houve quem o abandonasse... Mas, diferentemente de tudo isso e deles todos, Jesus não se desviou: ele não fugiu de seu propósito. Ele não perdeu nem deixou que molestassem seus discípulos. Ele não deixou de cumprir as escrituras. Ele se manteve fiel ao plano do Pai: oferecer as condições para a conversão; e, aos que aderiram seus ensinamentos, resgatou-os, como lemos na carta aos Hebreus: “na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem.”

Jesus, o justo, o Servo sofredor, cumpriu as escrituras e em seu corpo realizou toda a obra da salvação. Em razão disso, sua morte causada pela maldade humana, foi fonte de vida nova plena de luz e, como disse o profeta: “Por esta vida de sofrimento, alcançará luz e uma ciência perfeita. Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas”. Tudo isso porque, com sua morte, “resgatava o pecado de todos”, salvando-nos!




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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