Reflexões a partir de Mc 16,1-6; Mt 28,1-6; Lc 24,1-6; Jo 20,1-2.11-18)
Todos sabemos como é desagradável a sensação de perder um amigo, um parente...Por mais que seja um fato natural, a morte não é uma realidade agradável… Saber que uma pessoa querida se foi! O vazio da ausência… Dor!
Com isso em mente é que hoje, ao ver o entardecer e o sol pondo-se no horizonte, penso nas mulheres que acompanharam Jesus. Quanta amizade nutriam por ele! Quanto bem dele haviam recebido… e a impotência diante de um império explorador e assassino que levou e matou aquele que havia sido o único a lhes perceber o valor de pessoas, marginalizadas pela sua sociedade e sua cultura!
Fico a imaginar sua agonia na sexta feira, vendo o mestre ser executado. O desespero durante todo o sábado, querendo crer, mas ainda na incerteza do porvir, apenas com aquela certeza trágica: Mataram o senhor!
Elas sabem pois viram acontecer. Acompanharam sua agonia. Sofreram em cada chicotada e se sentiram feridas em cada queda: Mataram o Senhor!
O único alívio, se é que isso serve de consolo, elas veem no horizonte: Finalmente o sábado está findando. O dia consagrado à celebração da Libertação, o dia da páscoa, está chegando ao fim… Mas em seguida vem a noite… e será mais uma noite de inquietação: Mataram o Senhor!
Possivelmente elas nem dormiram à noite. Possivelmente em pranto passaram a noite pensando e se preparando para o ritual do último encontro. Mataram o Senhor!
Podemos acompanhar sua angústia seguindo as palavras dos evangelistas, narrando os passos das mulheres, encaminhando os últimos preparativos:
“Passado o sábado, Maria Madalena e Maria, a mãe de Tiago, e Salomé compraram perfumes para embalsamar o corpo de Jesus. E bem cedo no primeiro dia da semana, ao raiar do sol, foram ao túmulo”. Essa é a informação que Marcos nos deixou (Mc 16,1).
Em Mateus (Mt 28,1) encontramos as seguintes palavras: “Depois do sábado, ao raiar o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro”.
Para Lucas (Lc 24,1), não foi diferente”: “No primeiro dia da semana, bem de madrugada, as mulheres foram ao túmulo, levando os perfumes que tinham preparado”.
Palavras semelhantes encontramos em João (Jo 20,1): “No primeiro dia da semana, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, Maria Madalena foi ao túmulo e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo”.
E, nas quatro narrativas, o que encontraram? O túmulo vazio. A sensação de angústia deve ter se multiplicado. O medo, a incerteza, a angústia… que pode ter acontecido com o corpo do Mestre? Que fizeram com nosso amigo e senhor?
Só então um primeiro sinal de alento lhes é concedido: não só por receberem a notícia da maravilha que havia se realizado, mas por ouvirem a notícia em primeira mão: Ressuscitou!
Claro que, de imediato não entenderam o alcance e o significado do fato: Ressuscitou?
Podemos visualizar seus rostos ao receberem a noticia: Marcos (Mc 16,6) é o primeiro a registrar o fato. As três mulheres ouvem, ainda com medo, o que lhes fala aquele rapaz estranho, mas com atitude reconfortante: “O jovem lhes disse: ‘Não vos assusteis! Procurais Jesus, o nazareno, aquele que foi crucificado? Ele ressuscitou!’”
Mateus (Mt 28, 5-6) fala que um anjo, um bom mensageiro, traz a notícia: “Então o anjo falou às mulheres: ‘Vós não precisais ter medo! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui! Ressuscitou, como havia dito!’”
A novidade à porta do túmulo, é informada às mulheres, por dois homens com roupas brilhantes, na narrativa de Lucas (Lc 24,4-6): “Dois homens com vestes resplandecentes pararam perto delas. Tomadas de medo, elas olhavam para o chão. Eles, porém, disseram-lhes: ‘Por que procurais entre os mortos aquele que está vivo? Não está aqui. Ressuscitou! Lembrai-vos do que ele vos falou’”.
Não deixa de ser emocionante a cena narrada por João (Jo 20,11-18). Solitária, Maria se põe a chorar, diante do túmulo vazio. Então o próprio Jesus lhe vem consolar: “Então, Jesus falou: ‘Maria!’ Ela voltou-se e exclamou, em hebraico: ‘Rabûni!’ (que quer dizer: Mestre). Jesus disse: ‘Não me segures, pois ainda não subi para junto do Pai. Mas vai dizer aos meus irmãos: subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus’. Então, Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: ‘Eu vi o Senhor!’
Aquelas mulheres, choravam em desespero. Estavam angustiadas. Estavam com medo dentro de suas casas. Mas justamente esse desespero, no medo e na incerteza, foi que tiveram um lampejo de esperança e foram ao túmulo: Ele ressuscitou!
E hoje, dois mil anos depois podemos nos unir àquelas mulheres e ajudar a difundir a mensagem deste entardecer do Sábado Santo: Ele Ressuscitou! Então comemoremos: Ele Ressuscitou! Não existe mais motivo para medo nem para angústia: Ele Ressuscitou! É o fim da morte e a vitória da vida: Ele Ressuscitou!
Neri de Paula Carneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
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