sábado, 8 de abril de 2023

Maria Madalena

(Reflexão a partir de Atos dos Apóstolos 10,34a.37-43; Colossenses 3,1-4; João 20,1-9)




A liturgia do domingo de Páscoa nos permite algumas linhas de reflexão.

Uma delas é entender o discurso de Pedro dentro do contexto e da proposta de Atos dos Apóstolos (10,34a.37-43). Com seu discurso o apóstolo pescador nos leva à conclusão: Não só aos discípulos é dada uma missão, mas a todos os que se fazem cristãos. Todos recebem a mesma missão de continuar a ação dos apóstolos, movidos pela ação do Espírito de Vida.

E, que missão é essa? Ser testemunha de tudo que Jesus de Nazaré fez por onde passou. Como ele foi perseguido, traído, preso, condenado e morto na cruz… “Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia”. Também faz parte da missão, manter a tradição e continuar “fazendo o bem e curando a todos”; e mais, continua Pedro, afirmando que “Jesus nos mandou pregar ao povo” anunciando o perdão, pelo batismo e convocando a todos para construir um novo mundo alicerçado no amor.

Outra linha de reflexão pode ser seguida quando lemos a carta de Paulo aos colossenses (3,1-4).

O Apóstolo, como que continuando as palavras de Pedro, faz novo convite: buscar um objetivo que está à nossa disposição. Um presente que é oferecido por Jesus, e que deve ser desfrutado ao lado do Pai. Um presente que consiste em recuperar a vida escondida em Deus e revelada por Jesus.

Claro que para merecer esse presente, deve haver, de nossa parte, um esforço: “esforçai-vos para alcançar as coisas do alto, onde está Cristo”. Em que consiste esse esforço? Em “morrer” para os valores mundanos. E isso implica abrir mão de tudo que nos distancia de Deus. Coisas como maldade, ambição, violência, postura excludente, gestos e palavras que ofendem, concentração de riquezas e produção de empobrecidos… abrir mão desses contra valores nos permitirá entrar em contato com o Pai, “revestidos de sua glória”.

Mais uma linha de pensamento pascal nos é mostrada por João (20,1-9). Ela se manifesta nas atitudes de Maria Madalena, uma das mulheres redimidas por Jesus. Ela, da mesma forma que todas as outras mulheres, lastimava e sofria ao ver seu senhor executado na cruz.

Madalena, da mesma forma que as outras, passou a noite lamentando e em prantos. Foi a dor da perda que a conduziu. E logo nas primeiras horas do dia, “quando ainda estava escuro”, ela não se conteve: foi até o túmulo. Certamente querendo chorar mais perto do corpo daquele que lhe restituíra o sentido de viver.

Então, podemos imaginar seu assombro e surpresa ao se deparar com o túmulo aberto. E aqui está sua grande lição. Não caiu em desespero ao ver que o Senhor não estava mais ali. Pelo contrário: foi reanimada por alguma esperança ainda não entendida mas que foi assumida plenamente por ela. O fato foi que saiu correndo e foi avisar aos outros discípulos. E anunciou a Pedro:

“Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram!”

Foi o primeiro anúncio da Ressurreição.

Foi realizado por uma mulher!

Foi transmitido por aquela que era apenas mais uma marginal.

Foi resultado de um resgate: uma mulher resgatada do pecado e alçada à condição de primeira mensageira da ressurreição!

Foi ela quem mobilizou Pedro e o discípulo amado. Ambos saíram correndo ao ouvirem o anúncio de Madalena. Ambos, diante do túmulo vazio, foram tomados pela única alternativa que cabia aos discípulos: o ato de fé!

Entraram, Pedro e o discípulo amado, viram que o corpo não estava ali. Viram a creram! Mesmo ainda não tendo entendido as escrituras, viram a creram.

E aqui podemos aprender a grande lição: não importa o que se faz, ao longo da vida. Aceitando o encontro com o Senhor, ocorre a conversão. Como ocorreu com Madalena. E tendo havido esse encontro, muda-se a vida e muda-se de vida. E então, mesmo alguém como Madalena, pode se converter em mensageiro da ressurreição.

Assim, neste tempo de Páscoa, que tal trilhar o passos de Maria Madalena e buscar um caminho para chegar ao Mestre?




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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