quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Tu que és um homem de Deus

(Reflexões baseadas em: Amós 6,1-7; 1Timóteo 6,11-16; Lucas 16,19-31)




Muito interessante e chamam nossa atenção as recomendações de Paulo ao companheiro Timóteo (1Tm 6,11-16). Não menos interessante são as palavras do profeta Amós (Am 6,1-7), aos ricaços de Sião. O mesmo se pode dizer a respeito da situação do pobre Lázaro e o homem rico, além da cena diante do pai Abraão, no texto de Lucas (Lc 16,19-31).

O que há de interessante e em comum nestas leituras?

A constância de um alerta contra: o mau uso dos bens terrestres, o desprezo aos marginalizados, a falta de integridade na marcha para Deus; contra aqueles que não se compadecem do sofrimento das pessoas e a indiferença ao plano de Deus…. “Ai de vós que viveis despreocupadamente” (Am 6,1), diz o profeta; “Foge das coisas perversas” (1Tm 6,11), recomenda Paulo. Mas é de Jesus que vem a afirmação mais radical, alertando aqueles que não se preocupam com a condição de vida dos que sofrem: “Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos” (Lc 16,31).

E o que isso tem a ver conosco? alguém pode perguntar.

Tem tudo a ver! Tem o fato de que as palavras bíblicas não são literatura para nossas horas de lazer, nem foram produzidas apenas para retratar estranhos costumes de povos antigos. Pelo contrário, são palavras de vida.

São radicais as palavras do profeta. Demonstram a ira de quem vê a injustiça, conhece o opressor e, justamente por isso, faz o alerta: “Aí de vós!”Aí dos que comem, bebem e dormem, sem se preocupar com as estruturas que produzem as dores e sofrimentos do povo. Aí dos que são alheios às necessidades dos excluídos e estão “comendo cordeiros do rebanho”, enquanto “bebem canecões de vinho” e tranquilamente “dormem em camas de marfim”. Aí dos que não se preocupam com o dia a dia sofrido do povo, “não se preocupam com o sofrimento de José” (Am 6,4-6)…. Todos estão condenados: irão acorrentados para o desterro. Ou seja, serão afastados da suntuosidade que lhes dá prazer e do convívio com Deus.

Como evitar a perdição? É a pergunta de quem deseja a paz, a justiça a equidade… de quem deseja se converter ao projeto de Deus… e depois de tudo herdar a vida plena e eterna.

A resposta vem de Paulo. Quem não quer a perdição eterna deve seguir as orientações que o apóstolo dá a Timóteo: “Foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão. Combate o bom combate da fé” (1Tm 6,11-12).

Essa postura deve ser mantida até que aconteça a “manifestação gloriosa de nosso Senhor Jesus Cristo”.Diz Paulo a Timóteo, na função de líder de uma comunidade: Para ser digno da recompensa definitiva, “guarda o teu mandato íntegro e sem mancha” (1 Tm 6,14).

E hoje podemos dizer que essas mesmas recomendações do apóstolo valem para nós e nossas lideranças religiosas e políticas: mantenha íntegro o teu mandato! E, poderíamos dizer mais: promova a equidade!

Mas, pode-se perguntar, qual a consequência de não promovermos uma revolução nas relações humanas, nas relações de poder, nas relações econômicas…?

As consequências nos são apresentadas nas palavras de Jesus:

O sofrimento, constante, na vida dos marginalizados;o sofrimento dos pobres provocado pela concentração das riquezas; a fome e o abandono produzido pelos que pensam só em si e em suas riquezas… são situações, provocadas pela vontade dos que desejam sempre acumular mais, provocadas pelos que acumulam riquezas que ultrapassam as necessidades pessoais e familiares. E tudo isso gera, de um lado a condição do marginalizado, representado pelo “pobre Lazaro” e do outro, a existência do “homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas” e não partilhava com o sofredor (Lc 16,19-20).

A consequência é que ambos se encontrarão com a morte. Na outra vida o “pobre Lázaro” terá uma boa recompensa: “os anjos levaram-no para junto de Abraão”. Mas por seu lado o homem rico foi para a “região dos mortos, no meio dos tormentos”(Lc 16,22-23).

E o fato é que: há um abismo intransponível entre ambos; ambos ganharam a recompensa pela condução de suas vidas e isso se refletiu no pós vida; ambos levaram o que construíram ao longo de seus dias na terra. E nós podemos escolher, ser como o homem rico mantendo as estruturas de sofrimento ou promovermos condições para que as pessoas melhorem suas vidas aqui e agora.

Resta saber se aquilo que levarmos permitirá que Deus diga a nosso respeito: “ai de vós” ou se dirá : “Tu que és um homem de Deus” vai para junto do Pai.




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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