(Reflexões baseadas em: Amós 8,4-7; 1 Tm 2,1-8; Lucas 16,1-13)
Até parece que as palavras do apóstolo Paulo (1 Tm 2,1-8) foram escritas especialmente em resposta ao que acontece nos dias que nos cabe viver: o alerta sobre a importância da oração e a necessidade de superar os atritos para evitar as discussões.
Mas não só em relação aos dias atuais! Vai além!
Ao longo dos dois mil anos de cristianismo os seguidores do Senhor tiveram que enfrentar sérias provações:as perseguições aos santos de Deus e as heresias estiveram a serviço do anticristo ao longo do tempo… e deram muitos frutos contra o Reino!
As maledicências dos ímpios só não deram mais frutos porque o Senhor deseja que “todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2,4). Justamente por que deseja a salvação de todos é que nos orienta a orar pelas pessoas que agem como víboras: os que “governam e por todos que ocupam altos cargos”. Talvez pela nossa oração, eles se convertam e então poderemos “levar uma vida tranquila e serena, com toda piedade e dignidade” (1 Tm 2,2).
Retrocedendo um pouco mais, veremos que os profetas também faziam o mesmo alerta do apóstolo: a maldade humana tende a se impor sobre as pessoas. Como o profeta Amós (8,4-7) condenando a atitude dos ricos, causando o sofrimento dos “pobres da terra”.
Na realidade todo o discurso do profeta é um alerta contra “vós que maltratais os humildes e causais a prostração dos pobres da terra” (Am 8,4).São eles que promovem muitas fraudes a fim de lesar os pobres e os humildes. Nem dormem direito esperando o dia amanhecer “para diminuir medidas, aumentar pesos, e adulterar balanças, dominar os pobres com dinheiro e os humildes com um par de sandálias”(Am 8,5-6).
Assim como o apóstolo, Amós faz um alerta, dizendo que por causa de sua ambição, de sua maldade, de sua ganância… “Por causa da soberba”, esses que geram o sofrimento do povo estão a caminho de serem apartados do Rebanho do Senhor. Pois assim “jurou o Senhor: ‘Nunca mais esquecerei o que eles fizeram’” (Am 8,7).
Portanto, não é de hoje que a situação se impõe. Não é só nos dias de hoje que os promotores da maldade tiram proveito da dor dos pequeninos. Mostra isso a ironia de Jesus elogiando os filhos das trevas (Lucas 16,1-13). Estes, “filhos do mundo”, em seus negócios escusos, são mais espertos que “os filhos da luz” (Lc 16,8) e por isso os enganam.
Em sintonia com o profeta Amós, Jesus confirma a desonestidade de muitos daqueles a quem cabe a gestão de bens e de atividades políticas: adulteram, trapaceiam, enganam a todos. Oferecem privilégios aos pobre em troca de favores pessoais. Mas não estão preocupados com o bem estar de ninguém além de si mesmos.Querem apenas tirar proveito das situações.
Bem o demonstra o Senhor Jesus, ao falar a respeito do administrador espertalhão. Ao ser desmascarado mostra sua verdadeira índole, sua predisposição para a maldade, sua capacidade para enganar. Incapaz de trabalhar honestamente, tenta ludibriar a todos e lesar o patrão: “O administrador então começou a refletir: ‘O senhor vai me tirar a administração. Que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha. Ah! Já sei o que fazer, para que alguém me receba em sua casa quando eu for afastado da administração’” (Lc 16,3-4). Sua preocupação era encontrar uma forma de “se dar bem” ao perder o emprego.
A postura honesta e em defesa da honestidade não é só uma coisa esperada, por imperativo ético. Do ponto de vista ético a honestidade faz parte do rol de virtudes a serem preservadas, defendidas e praticadas pelas pessoas. Entretanto, mais do que isso, a honestidade,para o cristão, é um principio de vida. Nisso consiste o ensinamento de Jesus: a fidelidade ao Reino é uma consequência da fidelidade aos princípios norteadores da vida. Isso é o que ensina Jesus ao dizer que: “Quem é fiel nas pequenas coisas também é fiel nas grandes, e quem é injusto nas pequenas também é injusto nas grandes” (Lc 16,10).
E isso nos leva ao comentário de Paulo, quando escreve ao companheiro Timóteo: cabe ao seguidor de Cristo usar sua fé para difundir os princípios do Reino: a paz é uma estratégia para a defesa da vida; a oração é um caminho para a paz. O problema é que as pessoas afastaram-se da paz, por isso deixaram de lado a oração. Portanto é urgente voltar ao caminho da oração. Não a oração pela qual se falam belas palavras ou se recitam fórmulas prontas, mas a oração que nasce das atitudes justas.
Em síntese:Tudo que não conduz à paz e à harmonia entre as pessoas não vem de Cristo. Só a adesão a Cristo e ao seu projeto de sociedade justa pode diminuir a violência: “Quero, portanto, que em todo lugar os homens façam a oração, erguendo mãos santas, sem ira e sem discussões” (1Tm 2,8).
Neri de Paula Carneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.
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