sexta-feira, março 11, 2022

Quaresma 2 - Cidadãos do céu

(Reflexões baseadas em: Gênesis 15,5-12.17-18; Filipenses 3,17 -4,1; Lucas 9,28b-36)




Notemos como são belas as palavras de Paulo (Fl 3,17-4,1), dirigindo-se à comunidade dos filipenses. Para eles o apóstolo explica em que consiste a identidade dos seguidores de Jesus: imitar as obras de Cristo, para ser glorificado

Da mesma forma que, no livro do Gênesis, nos enche de esperança a promessa que Deus faz a Abraão (Gn 15,5-12.17-18), dizendo-lhe que não lhe faltará terra e descendência. E a promessa de abundância se estende até chegar a nós, pois o Senhor é o Deus dos caminhantes, dos que buscam e querem realizar o sonho da vida sem penúrias.

O caminho para realização da promessa divina e para assumir a identidade cristã nos levam ao momento em que Jesus se dá a conhecer em sua face divina (Lc 9,28b-36). Podemos notar que, não só Jesus se apresenta. O Pai também se manifesta. E na luz do Espírito o Pai apresenta o Filho como seu escolhido, seu enviado: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!” (Lc 9,35).

Em que consiste esse escutar a Jesus?

Não é só ouvir suas palavras nem é só ficar maravilhado com suas obras. Ouvir a Jesus é, principalmente, acompanhar seus atos, pois eles dizem muito de seu Projeto de Salvação.

Em seu cotidiano, pregando, curando, consolando a todos que se aproximaram dele, Jesus se comporta como as demais pessoas: come e bebe, diverte-se e circula por entre as demais pessoas; está plenamente inserido em sua comunidade.

Mas em seus momentos de oração, na intimidade com o Pai, manifestava-se como realmente é: o Deus Filho. E neste trecho que que a Igreja hoje nos apresenta, Jesus manifesta-se plenamente em sua divindade; na plenitude de sua glória; mostra-se como o Deus da luz e iluminador para a vida das pessoas. Entretanto, e em princípio, só isso não teria muitas novidades, pois realmente Jesus é o isso: é o Filho de Deus encarnado. Aqui, o que conta é o significado dessa manifestação gloriosa, pois ela tem um sentido a mais do que só a transfiguração divina da pessoa de Jesus. Aqui está o fato de que, ao se mostrar glorioso, Jesus nos diz que assim também seremos nós, quando seguimos seus passos e nos esforçamos para continuar sua obra. Também nós somos destinados à luz.

Não é demais lembrar que Abraão foi recompensado com terra e descendência como resposta de Deus ao seu ato de fé. “Abrão teve fé no Senhor, que considerou isso como justiça” (Gn 15,6). Uma fé que foi provada no fogo do sacrifício. Uma fé pela qual o Senhor se compromete a conceder a recompensa. E assegura isso ao passar como um braseiro entre as partes do animal sacrificado (Gn 15,17). Da parte de Abraão, apenas o compromisso de fé; da parte do Senhor a concessão de uma graça.

O ato de fé de Abraão repercute em Paulo, ao ponto do apóstolo dizer que muitas pessoas não apostam nem trilham os caminhos do Senhor: “há muitos por aí que se comportam como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição, o deus deles é o estômago, a glória deles está no que é vergonhoso e só pensam nas coisas terrenas. (Fl 3,18-19). E se observarmos bem, essa situação se repete em nossas comunidades e na nossa sociedade; cotidianamente nos deparamos com pessoas assim: preferem seus interesses do que a convivência com o projeto do reino, coja base é a solidariedade.

Ao contrário disso, aqueles que aderem ao projeto do Senhor, são os verdadeiros “Cidadão do céu” (Fl 3,20). E, como tal, da mesma forma que a Abraão, o Senhor se compromete na forma de uma promessa esperançosa “Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso, com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas” (Fl 3,21).

Ao cristão só cabe uma postura: além de alimentar e desenvolver a fé, engajar-se na preparação e na implantação do Reino de Deus. Notando que, da mesma forma que Deus se fez um de nós e se manifestou como Jesus de Nazaré, a fim de nos mostrar o caminho da glorificação, assim também nós, em nossa vida humana, sofrida e sentida, estamos nos preparando para o encontro com a glória celeste, seguindo os passos de Jesus, realizando sua obra de amor!

Jesus se mostrou glorioso para nos mostrar de onde veio e para onde retorna. E nós, contemplando sua glória e nos espelhando em suas ações, nos preparamos para nosso destino, pois, a convite do Senhor, todos estamos destinados e sermos cidadãos do céu… mas ainda a caminho! Num caminho que ainda estamos construindo!

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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