quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Quem irá por nós?

(Reflexões baseadas em: Isaías 6,1-8; 1Coríntios 15,1-11; Lucas 5,1-11)



Quando nos colocamos diante da Palavra de Deus, podemos ficar em silêncio procurando ouvir a voz do Senhor. Podemos dizer que ela nos diz algo ao coração, sentindo-nos repletos de graça. Ou, num gesto de quem ainda não sabe o caminho a seguir, mas tem vontade de receber a orientação divina, podemos nos perguntar: O que Deus está me propondo, hoje, com esta Palavra?

Sim, Deus está propondo, pois Ele não nos impõe nada. Ele apenas nos sugere… e nós aceitamos ou não; nós realizamos sua proposta ou não… mas ele nunca nos obriga a nada. Ele nos criou livres e preza essa liberdade. Entretanto, por meio de sua Palavra, constantemente está nos propondo novos caminhos para melhorarmos nossa vida, nossa relação com o mundo e com as pessoas ao nosso redor… e cabe a nós darmos uma resposta… Vale lembrar que a proposta divina é renovada diariamente. Daí a indagação: O que Deus está me propondo hoje?

A busca pela compreensão da proposta divina pode ser percebida, por exemplo, quando lemos Isaías 6,1-8. Diante de uma manifestação divina o profeta sente-se “perdido”. Mas, logo em seguida é redimido com o fogo de uma brasa que lhe queima as impurezas. Nesse momento manifesta-se, para ele, a proposta divina. E a proposta aparece justamente numa pergunta: “Quem enviarei? Quem irá por nós?” (Is 6,8).

Mesmo tendo sido purificado, o profeta poderia ter se esquivado, fazendo de conta que não ouvira a proposta… mas respondeu e se ofereceu: “Aqui estou! Envia-me!” (Is 6,8). Nós também podemos nos indagar: “E se eu estivesse no lugar do profeta, qual seria minha resposta?”. Por isso, se queremos responder ao apelo divino, podemos sempre nos perguntar: “Qual é a proposta que Deus está fazendo a mim, neste momento?”

Note-se, portanto, que também precisamos estar atentos para ouvirmos a proposta que Deus nos faz. E, aí alguém poderia perguntar: Se tenho que dar uma reposta, como faço para ouvir a proposta de Deus?

Sobre isso é o apóstolo Paulo quem nos orienta (1Cor 15,1-11). E sua orientação é simples: prestar atenção e seguir os ensinamentos dos apóstolos. Em que consiste isso? Crer na essência da vida cristã: crer que Jesus morreu, foi sepultado e “ao terceiro dia ressuscitou, segundo as Escrituras” (1Cor 15,4). E esse ensinamento não é um delírio do apóstolo, como as vezes fazemos nós, quando em vez de ouvir a Palavra de Deus, falamos a partir de nossos interesses… Não é esse o princípio do cristianismo, afirma Paulo.

O ponto de partida não é a palavra de uma pessoa, mas o testemunho de muitos. Um testemunho afirmando que Cristo Morreu e Ressuscitou e Apareceu aos seus. Mas não só apareceu como também os enviou para anunciar essa mensagem: a vida vale mais que a morte. E a prova disso está justamente no fato de Cristo ter vencido a morte. E isso ensina Paulo: este é “o evangelho que vos preguei”; “por ele sois salvos”. Esse é o fundamento da fé e se for “de outro modo teríeis abraçado a fé em vão” (1Cor 15,1-2).

Ou seja, a proposta de Deus manifesta-se a nós, a partir deste critério: a vida vale mais que a morte. Em todos os momentos, o Senhor pede que realizemos atos em defesa da viada. Para isso o profeta foi convocado e respondeu: envia-me! E o apóstolo insiste no “evangelho que vos preguei”.

Além disso, aqueles que se decidem por aceitar a proposta divina vão agir como agiu Simão (Lc 5,1-11). Passou a noite na pescaria e nada pescou. Ouviu a proposta de Jesus: “‘Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes’. Assim fizeram, e apanharam tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam” (Lc 5,5-6).

E assim, o grupo de pescadores que voltava de mãos abanando, sem alimento, ao ouvir a proposta da Palavra de Vida, voltou com alimento para as famílias. A vida foi preservada! E, mais ainda, Jesus os convocou para continuar a missão: tornaram-se “pescador de homens!”(Lc 5,10).

Ao ouvir o apelo, o profeta respondeu: eu vou! Aquele que ouve a proposta e a aceita, pode repetir, como o fez o apóstolo: “Sua graça para comigo não foi estéril” (1Cor 15,10). E aquele que se propõe a cumprir a proposta do mestre, com certeza, poderá lançar sua rede e ouvirá do Mestre, que orienta a Missão “Não tenhas medo!”

E, a nosso respeito, a proposta do Senhor continua aberta: “Quem irá por nós?”




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:


Nenhum comentário:

Postar um comentário

TEMPO COMUM e o Tempo de Deus

Também disponível em: * https://pensoerepasso.blogspot.com/2024/01/tempo-comum-os-tempos-de-jesus-de-nazare.html * https://www.recantodasl...