quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

A boca fala

(Reflexões baseadas em: Eclesiástico 27,5-8; 1 Corintios 15,54-58; Lucas 6,39-45)



A respeito de que são nossas falas? Por que falamos? A quem falamos? O que resta depois que falamos alguma coisa? A quem queremos convencer ou a quem nos dirigimos, quando emitimos nossas palavras? São algumas das indagações que podemos nos fazer, se ouvirmos as palavras de Jesus (Lc 6,39-45).

Evidentemente não são as outras pessoas que responderão às indagações a respeito do que dizemos e sobre nossos comportamentos. Evidentemente depois que fazemos algo a nossa obra fala por nós e o nosso falar é um comportamento. Portanto, nossos atos falam por nós. Nossos discursos falam por nós. Nós nos mostramos em nossos atos e no que dizemos.

Essa, também, é a razão da Palavra de Deus a nós dirigida: um espelho a mostrar o que somos. O Eclesiástico ( 27,5-8) nos coloca diante do espelho de nosso falar. E, por sua vez, Paulo, na primeira carta aos coríntios (1Cor 15,54-58), mostra o que sobra depois que passamos a limpo nossa vida: nosso encontro com o Senhor!

Num primeiro momento somos levados a acreditar que o discurso de cada um de nós é o que importa. E por esse motivo somos levados a fazer belas falas; bonitos discursos. E com isso pretendemos convencer nossos ouvintes e interlocutores de que aquilo que dizemos representa a verdade… Mas é nesse ponto que nos enganamos, pois em geral queremos nos ver na imagem da superfície e mostrar a superfície. Não é essa a verdade da palavra divina e o Eclesiástico nos diz que cada pessoa é o que está mergulhado em águas profundas.

“Não elogies a ninguém, antes de ouvi-lo falar: pois é no falar que o homem se revela” (Eclo 27,8). Isso implica dizer: o que alguém fala tem que ser coerente com aquilo que fez. Caso contrário o discurso será vazio, pois a verdade está nas atitudes.

Entretanto, é compreensível que cada pessoa, vez por outra caia em contradições; que diga algo que não corresponda à verdade de sua essência de ser humano. Mas também é compreensível que a pessoa que pretende ser fiel à proposta divina procure superar suas limitações, suas contradições suas mentiras… e, ao buscar essa superação, é natural que se preocupe em buscar a verdade.

É Paulo quem nos explica o caminho da superação. No momento presente estamos como que presos à nossa condição humana, “este ser corruptível”. Mas, nosso esforço pode nos conduzir a superação dos nossos limites e então, quando estivermos revestidos de “incorruptibilidade e este ser mortal estiver vestido de imortalidade, então estará cumprida a palavra da Escritura” (1Cor 15,54)… Entretanto isso não é para ocorrer só num depois indefinido, mas em nosso cotidiano.

Para evitar uma espera acomodada o apóstolo orienta: é necessário buscar a perfeição. E nessa busca, “meus amados irmãos, sede firmes e inabaláveis, empenhando-vos cada vez mais na obra do Senhor, certos de que vossas fadigas não são em vão” (1Cor 15,58). Não importa o que façamos ou digamos: importa caminhar na “obra do Senhor”.

Isso nos coloca diante do questionamento do Senhor Jesus: quais serão nossas palavras? Quais serão nossas atitudes? Como pretendemos conduzir nossas vidas? É necessário termos claras estas indagações para darmos nossas respostas, pois não tem como um cego guiar outro cego pois, neste caso, nenhum deles saberia por onde ir.

No fim das contas vale, para a condução de nossas vidas, o que carregamos em nossa consciência, pois isso mostra o que efetivamente somos. O que somos determina nossas atitudes e o que dizemos “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio” (Lc 6,39-45). Este vive pelas aparências enquanto a pessoa boa se apresenta como realmente é, sem pretensões de ser algo a mais …

De que está repleto nosso coração: das aparências ou com a essência de nossa verdade?




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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