Reflexões baseadas em:
Baruc 5,1-9; Filipenses 1,4-6.8-11; Lucas 3,1-6
No tempo do advento tudo gira ao redor de algo de bom que vai acontecer e alguém especial que está por vir.
Até parece que tudo esta querendo dizer: “tenha esperança, as coisas vão melhorar”. Tudo indica que as dificuldades presentes estão com os dias contados. Virá alguém muito maior que todos os problemas…. Vejamos alguns exemplos:
Baruc (5,1-9) menciona algo que está por acontecer. Uma libertação! E não se trata de pouca coisa. Trata-se de trocar as cores do luto por “adornos” de glória. “Despe ó Jerusalém, a veste de luto e de aflição, e reveste, para sempre, os adornos da glória vinda de Deus” (Br 5,1). E isso tem um significado muito importante: tirar as vestes de luto implica em retomar as vestes da vida nova. Não mais a morte, mas a vida é o que importa.
Lucas (3,1-6), apresenta João Batista gritando um aviso, no deserto: o Senhor está chegando! Ele anuncia “a voz daquele que grita no deserto: 'preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas’” (Lc 3,4). E, preparar os caminhos do Senhor é o mesmo que preparar uma vida nova. Uma vida nova que está se preparando para conviver com nossa vida já cansada, mas que ainda alimenta alguma esperança.
O apóstolo Paulo, falando aos filipenses (1,4-6.8-11), demonstra seu carinho para com a comunidade: “Deus é testemunha de que tenho saudade de todos vós, com a ternura de Cristo Jesus” (Fl 1,8). E o apóstolo insiste na orientação pelos caminhos da santidade: é necessário “que o amor cresça”; a comunidade deve permanecer “sem defeito para o dia de Cristo”. E o que é mais importante: a comunidade pode colher os frutos da justiça “que nos vem por Jesus Cristo” (Fl 1,8-11). São, também, sinais de vida nova. São sinais de esperança. Sinais de que algo grandioso está por acontecer. E não só lá no mundo do povo da bíblia, mas também, e principalmente aqui entre nós. Algo de bom nos aguarda… para breve! No Natal e além dele!
Então o tempo do advento é isso: tempo de esperança; tempo de preparação; tempo de olhar para aquele que vem… e, de nossa parte, criar a pré-disposição para acolher não só Jesus que se manifesta no Natal, mas os frutos daquilo que é a sua promessa.
Em Baruc o povo é convidado a retornar de um tempo de exílio. E esse regresso ocorre na alegria não só de quem volta para casa, mas de quem volta a se encontrar com o Senhor. E o convite, feito ao povo, repercute em nosso cotidiano: também somos convidados a olhar para nosso cotidiano e repensar nosso futuro; ainda dá tempo de redescobrir os caminhos que levam aos dias de restauração.
Com Lucas aprendemos que não tem como aderir ao projeto de Jesus, sem aderir ao projeto de dias melhores. E essa adesão somente ocorre se aprendermos a pensar no bem de todos. Endireitar os caminhos, rebaixar as colinas, aterrar os vales (Lc 3,5-6).… Ou seja, preparar o percurso é facilitar os caminhos também para os outros… é o mesmo que dizer: pode ir em frente, lá adiante alguém que te quer muito está te esperando….
E fazer isso, facilitar os caminhos, é pensar no outro; é ser capaz de mostrar Jesus àquele que está em dificuldade e lhe dizer: apesar de tudo, a esperança não morreu. Os governantes nos enganam, nos oprimem, nos roubam… oferecem armas em vez de paz. Dão corrupção no lugar da justiça…. Mas a esperança é teimosa…
Os engôdos da propaganda tentam nos ludibriar… o comércio apela para comprarmos o que não precisamos… o salário é mais curto que o mês… as dívidas aumentam… Mas a esperança é teimosa!
Os problemas na família…. Os problemas no trabalho…. As dificuldades com os vizinhos…. As dores plantadas pelos vícios…. Tudo parece estar desmoronando…. Mas a esperança é teimosa….
Os políticos nos enganam… a vida em comunidade é difícil… as amizades rareiam e se tornam escassas… Mas a esperança é teimosa...
De fato, uma voz grita no deserto…. Que são as dificuldades nossas do dia-a-dia?
Mas esse grito já não é mais de desespero…. Já se pode gritar, avisando que os caminhos do Senhor estão preparados. Já entendemos que é tempo de ficarmos “puros e sem defeitos para o dia de Cristo, cheios dos frutos da justiça que nos vem por Jesus Cristo, para a glória e o louvor de Deus” (Fl 1,10-11).
De fato, uma voz grita no deserto, mas é uma voz que grita anunciando a esperança!
Neri de Paula Carneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.
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