Reflexões baseadas em:
Miqueias 5,1-4a; Hebreus 10,5-10; Lucas 1,39-45
Miqueias 5,1-4a; Hebreus 10,5-10; Lucas 1,39-45
Você já experimentou visitar um parente ou um amigo com o qual não se encontra há muito tempo? Como são as reações?
O coração acelera! Só um abraço parece pouco! A voz fica enroscada em um nó na garganta. Você quer falar mas a voz fica teimosa pra não sair! Os olhos não sabem se olham para a pessoa ou se mergulham nas lágrimas...
Emoções de um reencontro!!!
Podemos dizer que algo parecido aconteceu com aquela senhora, dona Isabel, quando recebeu a visita da menina Maria. Reveja a cena relendo a narrativa de Lucas (1,39-45).
Aquela senhora, certamente cuidando de seus afazeres domésticos, numa vila distante, recebe uma visita inesperada: Maria, uma jovenzinha. Na verdade uma adolescente! Muito prestativa, por sinal! Ao saber da gravidez de sua prima, já com uma certa idade, corre para visitá-la: alegria pela nova vida; certeza da presença de Deus!
É nessa cena que vemos os corações externando as emoções. Nessa cena a saudação de Maria, a menina-moça, mexe com as emoções da dona Isabel. Nessa cena João, ainda no útero materno, dá o primeiro sinal de que será o precursor, anunciando a breve chegada do Senhor. Nessa cena a dona Isabel recita a segunda parte da oração que a Igreja consagrou como “Ave Maria”. Uma cena muito marcante! Tudo resumido numa visita.
Mas a cena retrata muito mais do que isso. Vai além da alegria de um encontro entre duas pessoas que se gostam.
A cena também nos mostra: Maria, a menina mãe, solidarizando-se com uma outra pessoa que talvez estivesse precisando de sua ajuda ou sua companhia; Isabel anunciando que Maria é bem-aventurada, ou seja, alguém que mereceu uma atenção especial de Deus, afinal ela aceitou ser a ponte pela qual Deus chegou ao mundo; também é Isabel quem, em primeiro lugar, deu testemunho de que Maria dará ao mundo aquele que Deus havia prometido.
E, acima de tudo, Isabel mostra a gratuidade do dom de Deus: mesmo admitindo, por si mesma, não ser merecedora, recebeu uma visita do próprio Senhor, que ainda estava no útero de Maria, quase criança! “Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?” (Lc 1,43).
Quando olhamos para essa cena, doméstica, humilde, numa localidade longínqua, recebemos a luz para entender as falas de Miqueias (5,1-4) e de Hebreus (10,5-10).
O profeta Miqueias, mostra a grandeza daquilo que é pequeno. Belém “pequenina entre mil povoados” (Mq 5,1), na realidade é a porta de entrada pela algo fenomenal; lá onde “ao seu tempo uma mãe dará a luz” (Mq 5,2) é a pequenina cidade que se converte no ponto de partida para a “majestade do nome do Senhor Deus”; de lá é que o Senhor fará com que os homens vivam em paz: “os homens viverão em paz, pois ele agora estenderá o poder até aos confins da terra, e ele mesmo será a Paz.” (Mq 5,3-4)
Tudo isso, anunciado pelo profeta, terá inicio nessa pequena cidade e poderá acontecer porque Maria-menina disse sim; e em consequência desse sim pôs-se a cainho para amparar a mãe do precursor. O pequeno lugarejo; a pequena Maria; as duas crianças, tão pequenas que ainda estão no aconchego do útero… tudo minúsculo para que Deus possa mostrar a grandeza que vem dos pequenos...como Davi enfrentando Golias, como a brisa conduzindo o veleiro… tudo para mostrar que Deus não age na ostentação, no luxo… Deus só se manifesta na simplicidade, como no arbusto que queimava, na frente de Moisés e não na montanha imponente…. E com isso nos mostra as opções do Senhor e como serão os passos do Senhor que nasceu pobre na gruta/presépio, com os animais.
Aquela cena doméstica e familiar, também nos convida a ouvir o ensinamento de Hebreus (10,5-6). Nos ensina que Deus não se interessa pelos sacrifícios, pelos holocaustos, pelos gestos exteriores. O Senhor Deus quer saber daquilo que nove as ações; quer saber das intenções que produzem as atitudes. Não quer saber da lei que obriga às posturas exteriores… O que o Senhor deseja é o que se oferece com a vida e em defesa da vida. Por esse motivo é que o Cristo, que se manifestou na gruta de Belém, não nasceu num ritual de sacrifício, mas no mais profundo e sublime ato de humanidade: a fragilidade do gesto de uma mãe que dá à luz a um filho… entre os animais…
O supremo ato e gesto de vida é o gesto de gerar uma vida e fazê-la nascer.
Por isso, Cristo, ao entrar no mundo, o fez mediante uma mulher que o gerou e o fez nascer; por isso, Cristo, ao entrar no mundo, não o fez por meio do sacrifício, mas formando-se num corpo humano: dentro de Maria, a menina: “Tu não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste-me um corpo” (Hb 10,5).
E porque Maria-menina-mulher aceitou essa missão, na cena da visita foi reconhecida como bendita, pois conduzia um fruto bendito, no ventre!
Neri de Paula Carneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
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