sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Para a vida do mundo

Reflexão a partir de: 1Rs 19,4-8; Ef 4,30-5,2; Jo 6,41-51


Por que, muitas vezes, nos sentimos impotentes, desencorajados… e, tomados pelo desânimo, querendo desistir de tudo? Qual é a força que nos impulsiona a continuarmos em nossas ações cotidianas?

Parece que era essa a condição em que se encontrava Elias, segundo nos informa o livro dos Reis (1Rs 19,4-8). Havia realizado uma obra em nome de Deus e seus opositores o estavam perseguindo. O profeta estava, além de assustado, arrasado, sem entender o porquê de se sentir abandonado. Em completo desânimo, desistindo de tudo, pediu a morte. “Agora basta, Senhor! Tira a minha vida, pois não sou melhor que meus pais” (1Rs 19,4).

A outra face da situação nos é apresentada no diálogo dos judeus com Jesus (Jo 6,41-51).

Todos o conheciam. Sabiam de sua vida, dos seus parentes. Sabiam onde morava e o que faziam seus pais. E, em virtude disso, diziam, entre si e a quem os queria ouvir: “Ele não pode fazer isso!” “Sabemos onde mora!” “Como pode andar por ai, falando e fazendo o que faz?” E, com certeza, diziam muito mais, pois ele era um rapaz conhecido entre seus vizinhos, em sua cidade. Era um rapaz conhecido em sua terra. “Não é este Jesus, o filho de José? Não conhecemos seu pai e sua mãe? Como então pode dizer que desceu do céu?” (Jo 6,42).

Contra os maledicentes ouvimos a palavra de Paulo (Ef 4,30-5,2). O apóstolo exorta a comunidade de Éfeso, orientando-os a buscar um bom comportamento, condizente com os dons do Espírito Santo. Convida-os a erradicar a maldade. “Toda a amargura, irritação, cólera, gritaria, injúrias, tudo isso deve desaparecer do meio de vós” (Ef 4,31). A mesma orientação é dirigida a nós. Principalmente porque que se existe algo de bom a ser feito, isso deve ser realizado, independentemente do que falarão os que nada fazem pelo outro, pela comunidade, pela sociedade.

Essa situação é semelhante ao que vemos acontecer em muitas localidades. Nem tanto nas grandes cidades em que se vive anônimo em meio à multidão, mas nos pequenos grupos sociais. Em muitas comunidades rurais e urbanas. Se a pessoa tem uma qualidade que se destaca ou presta um bom serviço, passa a ser malvista entre aqueles que a conhecem e com os quais convive. Tanto que se popularizou o dito: “Santo de casa não faz milagre”.

Nessas situações, a pessoa é levada ao desânimo. Ela, por vezes, se cansa de realizar obras em favor do povo, que não reconhece esse gesto. A pessoa até pode ter consciência de que faz o bem porque esse bem deve ser feito, independentemente de ser ou não elogiado. Mas um mínimo de reconhecimento, por parte de quem recebe o bem feito, “conforta a alma” de quem realiza a obra e impulsiona para novas ações.

Para ajudar a superar o desânimo de Elias, Deus enviou seu anjo confortador. Ofereceu-lhe alimento e estímulo: “Levanta-te e come!” E uma segunda vez: “Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer”.

Mas por que Deus o encoraja e não lhe tira sua vida? Por que as pessoas de boa vontade não desistem diante de tanta inveja, maldade, malquerer e malfalar…? Por que continuam mesmo com tanta gente que oferece espinhos e cria dificuldades para as boas obras?

Podemos aprender com Jesus, quando nos fala: “Não murmureis entre vós!” Hoje, certamente, Jesus diria: “Não fiquem aí pelos cantos inventando intrigas. Não alimentem fofocas entre vocês!” Jesus diria mais: “Em vez de ficar por aí falando mal de quem está fazendo algo pelos outros, vá você também procurar o que fazer!”

E, novamente, por que as pessoas altruístas não desanimam?

Porque são pessoas especiais. Porque são convidadas pele próprio Deus a realizar grandes obras. Além disso, é bom lembrar que sem elas a comunidade perde a vida e se esvai nas fofocas…

Como os agentes ativos da comunidade são convidados por Deus, recebem uma carga extra de estímulo. Para elas Jesus está falando: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai. E eu o ressuscitarei no último dia” (Jo, 6,44). A partir das palavras de Jesus podemos dizer mais. Podemos dizer que as ações do cotidianos, terminam em si mesmas. “Vossos pais comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram” (Jo 6,49). Mas quem realiza coisas boas, pensando apenas no bem de quem recebe essas ações, ouvem de Jesus: “o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” (Jo 6,51).

Eis o porquê das pessoas de boa vontade não desistirem, embora, como Elias, por vezes sejam tomadas pelo desânimo: elas ouvem o anjo de Deus estimulando: “ainda tens um longo caminho a percorrer” (1Rs 19,7). Para percorrer o caminho que ainda resta, recebem o alimento divino: “Eu sou o pão da vida.” E cada vez que o desânimo ou os contratempos aparecerem, ouvirão do próprio Mestre: “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” (Jo 6,48.51)




Neri de Paula Carneiro

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

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