sábado, 15 de maio de 2021

Ascensão do Senhor: É agora que vais restaurar?

(Reflexões baseadas em: At 1,1-11; Ef 1,17-23; Mc 16,15-20)





A pergunta dos discípulos, no início do livro dos Atos dos Apóstolos (At 1,1-11) mostra bem a limitação humana em compreender as coisas de Deus.

Jesus ressuscitado estava reunido com os discípulos. E enquanto ainda os instruía, em seus últimos momentos antes de voltar para o Pai, pouco antes da partida, um deles lhe pergunta: “Senhor, é agora que vais restaurar o reino em Israel?” (At 1,6)

Paulo, conhecendo as fraquezas humanas, na carta aos efésios (Ef 1,17-23) em tom de oração instrui a comunidade, pedindo o dom do entendimento: “o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer.” (Ef 1,17).

Do ponto de vista histórico, a restauração, pretendida pelo discípulo só ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, em meados do século XX, por ocasião da criação do atual Estado de Israel. E foi uma ação problemática, pois restaurou a nação ao povo judeu mas, ao mesmo tempo, criou o atual problema e o conflito entre Judeus e Palestinos. Uma restauração meramente humana, carregada e mantida com os problemas humanos...

Mas do ponto de vista do Reino de Deus, a restauração ainda não aconteceu. O povo de Deus continua esperando. E quem é o Povo de Deus? Todo aquele que nele crê!

Por esse motivo as palavras do Senhor continuam válidas: “Não vos cabe saber os tempos e os momentos que o Pai determinou com a sua própria autoridade” (At 1,7). Notemos que na fala de Jesus estão presentes alguns elementos importantes: inicialmente é necessário frisar que a restauração é obra de Deus e, portanto, nenhum ser humano está autorizado a dizer que será hoje ou amanhã. Todos os que fazem essas previsões não falam em nome de Deus. Podem dizer o que quiserem, mas não falam em nome de Deus.

Em segundo lugar, Jesus ensina que seus discípulos serão instruídos pelo Espírito: que descerá, instruirá e fará dos discípulos testemunhas até os confins da terra. “Recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, e até os confins da terra” (At 1,8). E isso implica dizer que nenhuma sociedade ou grupo pode se considerar o povo de Deus; no máximo pode fazer parte dele… se fizer as obras do Senhor!

Podemos, agora, nos perguntar: por que Jesus orienta dessa forma seus discípulos? Porque os quer testemunhas. Porque os quer continuando sua obra. Porque não os quer olhando para o alto sem se colocar a caminho. Não quer oração sem pé no chão. “Por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (At 1,11). A alternativa a ficar parado olhando para o céu já havia sido dada: ser testemunha “até os confins da terra”. E, para dar testemunho não se pode ficar parado…

Com essa perspectiva é que entendemos o ensinamento/oração de Paulo explicando como o Espírito agirá: dará o conhecimento abrindo os corações dos discípulos para o entendimento. Mas não é só isso: ensinará a ter esperança, mostrará a riqueza da glória celeste, pois o céu é herança de todos os que, com sua vida, derem testemunho do Senhor. Esses, no tempo oportuno, que só o Pai conhece, poderão contemplar Jesus em sua glória definitiva. “Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos” (Ef 1,18)

Podemos notar, além disso, que em sua súplica Paulo mostra a ação da Trindade, em favor daqueles que assumem o compromisso de dar testemunho: Cristo, o Filho, está voltando ao Pai (por isso celebramos a Ascensão do Senhor). Do céu Pai e o Filho concedem o Espírito do conhecimento àqueles que se comprometem com o Reino.

Tudo isso está fundamentado nas palavras de Jesus (Mc 16, 15-20). É Ele quem faz a afirmação inicial: a missão universal da pregação a todos. “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16,15). Evidentemente, se a mensagem é destinada a todos, ninguém pode ficar de fora, por negligência dos anunciadores, pois a mensagem salvadora é destinada a todos!

Diante da proposta do Senhor, duas alternativas: crer ou não crer. E cada uma delas com consequências definitivas. Ao que crê se oferece o batismo e consequentemente a salvação, pois o batizado passa a ser discípulo e continuador da obra do Senhor; aquele que não crê, não receberá o batismo e a sua descrença o levará à condenação. “Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado.” (Mc 16,16)

Como podemos ver, não é Deus quem age. A oferta é de Deus, mas a resposta é humana. Deus oferece a graça, oferece a opção. Diante da oferta de Deus faz-se necessária uma opção pessoal que implica em salvação ou condenação.

E assim podemos nos perguntar: quando será a restauração? Evidentemente não sabemos a resposta. O que podemos dizer é que enquanto o Senhor Deus não restaurar este mundo, instalando seu Reino, cabe a nós preparar o caminho com nosso testemunho. 
 

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro


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