Admitindo que filosofia, muito mais do que um conceito, é uma atitude, somos levados a dizer que atividade filosófica não se limita a ler livros de filosofia ou estudar sobre os grandes filósofos.
Podemos dizer que, antes disso, é necessário ser capaz de observar a realidade e emitir uma opinião sobre ela. É verdade que se pode, e é aconselhável, emitir essa opinião fundamentando-a no que disseram outros pensadores, ou as ciências, a respeito daquela realidade. Mas isso não significa que não se possa inovar.
Então a pergunta que se impõe é: como se caracteriza a atitude filosófica?
Inicialmente, pela observação e pela reflexão.
Como sabemos qualquer realidade pode ser investigada pela filosofia. E a realidade, observada pelo sujeito é analisada por ele. E o que é observado? Aquilo que chama a atenção. Algo que impressiona. Algo que provoca admiração ou, como diziam os pensadores gregos, que causa espanto.
Trata-se, portanto, de refletir sobre as realidades observadas.
Isso ocorre porque aquilo que chama a atenção do observador leva à indagação: “como se dá isso?”. E a indagação aparece porque o homem é um ser “perguntante”. É um ser que está constantemente olhando-observando as realidades circundantes em busca de mais ou novas informações, complementando aquilo que já sabe; novos saberes para acrescentar ao que já sabe; novas descobertas para expandir o que já sabe; dominar novos horizontes ampliado o ângulo de visão, renovando e reformulando os saberes já adquiridos.
E isso não é uma novidade nossa ou dos pensadores atuais. No século IV aC, Aristóteles afirmou isso em um de seus escrito. Nas primeiras linhas do Livro I de “Metafisica”, diz: “Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer. Uma prova disso é o prazer das sensações”. Ou seja, temos prazer em aprender. Em seguida, admite que os animais possuem a “faculdade de aprender”, Mas, diz o pensador grego, “a espécie humana vive da arte e dos raciocínios”. E conclui dizendo que “a filosofia é por todos concebida como tendo por objeto as causas primeiras e os princípios.”
O fato é que nós humanos percebemos o mundo que nos cerca não como algo definitivo, mas como um arsenal de novidades; novidades essas que se nos apresentam como problema. E o processo de resolução dos problemas ou explicação do real se dá mediante um processo de reflexão pelo qual queremos saber o que faz com que algo seja o que é.
O que é e como se dá esse processo reflexivo?
Entende-se por reflexão o processo pelo qual o intelecto volta-se novamente sobre algo já conhecido em busca de novas informações. É como se o pensamento estivesse dobrando-se para pensar novamente e já pensado. “FLEXÃO” é uma espécie de dobradura: o atleta faz flexão de braço!
Quando acrescentamos o “RE” a uma palavra estamos indicando que aquilo deve se repetir: RE-começar significa começar novamente. O professor Demerval Saviani, no livro “Educação, do senso comum à consciência filosófica”, diz o seguinte sobre a reflexão:
“A palavra nos vem do verbo latino “reflectere" que significa "voltar atrás". É, pois, um re-pensar, ou seja, um pensamento em segundo grau. Poderíamos, pois, dizer: se toda reflexão é pensamento, nem todo pensamento é reflexão. Esta é um pensamento consciente de si mesmo, capaz de se avaliar, de verificar o grau de adequação que mantém com os dados objetivos, de medir-se com o real. Pode aplicar-se às impressões e opiniões, aos conhecimentos científicos e técnicos, interrogando-se sobre o seu significado. Refletir é o ato de retomar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar, vasculhar numa busca constante de significado. É examinar detidamente, prestar atenção, analisar com cuidado. E é isto o filosofar.”
Levando em consideração essas palavras e observando o comportamento humano, notaremos que constantemente estamos nos voltando sobre as realidade que nos cercam. Inicialmente para fazer filosofia; depois, o saber filosófico permite ampliar o saber científico. Por isso é que dizemos que a filosofia é responsável pelo avanço da ciência. E assim, pelo processo da reflexão, a humanidade, ao longo de milhares de anos, vem ampliando os conhecimentos, inovando-os, transmitindo-os às novas gerações
E o interessante, nisso é que no processo da transmissão dos saberes ocorre o encontro de dois universos: de um lado o que transmite e o do outro aquele que recebe a transmissão. É o diálogo. É a dialética do saber.
O contato entre esses dois universos produz o espaço para a indagação, para a dúvida, para o problema. Nesse espaço é que se insere a reflexão pois os dois diferentes precisam se identificar e interagir. E dessa forma se ampliam os saberes com novas informações e conhecimentos. E assim se vão desenvolvendo a filosofia, as ciências e as inovações da tecnologia.
Esse processo é o que nos permite dizer que a filosofia é responsável pelo avanço do saber produzindo ciência.
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