Deus está fazendo uma oferta a Salomão e, por extensão, também a nós, neste 17º domingo do tempo comum. Salomão fez sua escolha (1 Rs 3,5.7-12). E nós, qual será nosso pedido?
Numa situação destas, com certeza, muitos de nós agiríamos como se estivéssemos diante do "gênio da lâmpada", na história das “Mil e uma noites”. Lá o “gênio da lâmpada” concede três pedido, ao ser libertado. Como o Senhor Deus é muito melhor e mais benevolente que o gênio, oferece uma oportunidade mais ampla: “pede o que desejas” (1 Rs 3,5), sem limites de quantidade de pedidos, pois nesse "pede o que desejas" está implícito um "tudo". Portanto Deus está dizendo: "Pede TUDO que desejas"
Diante de uma oportunidade dessas, a maioria de nós pediríamos: dinheiro, saúde, longevidade…. Alguns ainda pediriam poder… e, em muitos casos, a ruína dos inimigos…
Diante da oferta do Senhor, Salomão não pensou primeiro em si. Penou em seu povo. Pensou em sua responsabilidade diante desse povo. Pensou no outro.
E nisso está o valor da decisão de Salomão. Podendo pedir tudo, o jovem rei nada pede em benefício próprio. Pede algo em favor dos outros. E ele recebe, mas para o uso em favor do outro: seu povo. Seria isso uma lição para nossas lideranças políticas?
Em vez de se vangloriar por ser um jovem rei, reconheceu sua inexperiência: “eu não passo de um jovem, que não sabe comandar” (1 Rs 3,7). Essa postura, confessando a pequenez, mostrou sua grandeza. E essa condição foi a a condição de seu pedido: “Dá, pois, a teu servo um coração que escuta para governar teu povo e para discernir entre o bem e o mal”(1 Rs 3,9).
O tamanho da oferta do Senhor é a medida do coração de quem faz o pedido. Por esse motivo, ao dar o que Salomão pediu, um coração compreensivo, o Senhor lhe concede além do desejado: Concede sabedoria, riqueza e glória. O Senhor lhe informa: “Vou satisfazer o teu pedido; dou-te um coração sábio e inteligente” (1Rs 3,12). E se continuarmos a leitura veremos o alcance dos dons divinos. “E também o que não pediste, eu te dou: riqueza e glória” (1Rs 3,12).
Qual a explicação para a postura de Salomão e para a resposta de Deus?
A explicação nos vem da carta ao Romanos (8,28-30). Paulo, da mesma forma que Salomão, não queria algo para si. Deu-se, completamente, à comunidade. Em vários momentos, nas várias cartas paulinas, podemos ler a afirmação do apóstolo, dizendo que está completamente a serviço do evangelho e, portanto, da comunidade. Em razão desse ministério ele, acima de tudo, sabia que “tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação” (Rm 8,28).
O dom de Deus é sempre infinito, cabe a nós acolhê-lo. Quem o acolhe é porque ama a Deus e manifesta esse amor na doação aos outros. Na doação aos irmãos. Na entrega em favor da comunidade.
Assim o fez Salomão, pedindo em favor do povo. Assim o fez Paulo, explicando que os dons são concedidos “aqueles que Deus contemplou com seu amor”. Esses são chamados a “serem conformes à imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos” (Rm 8,29). Essa multidão de irmãos Deus “chamou”, “tornou justa” e, principalmente, “glorificou” (Rm 8,30).
A proposta divina do chamado, da justificação e da glorificação é como que o destino ou o objetivo da humanidade. A proposta é para todos, mas não são todos que optam por responder ao chamado, por assumir a tarefa de se tornar justo e, como consequência, receber a glória dos céus. A glória de poder participar do Reino dos Céus.
Mas Jesus insiste na explicação e no convite-oferta-chamado para o Reino. Ele, no desejo de que a multidão opte pelo reino (Mt 13,44-52) o apresenta, dizendo o que é “reino dos céus”. O reino é: “um tesouro escondido” (Mt 13,44); é “uma pérola de grande valor” (Mt 13,46); é “uma rede lançada ao mar”.
O reino é uma proposta de Jesus. Da mesma forma que a Salomão é feita uma proposta (pode pedir) e da parte de Paulo vem o chamado, de Jesus vem o convite para fazer uma escolha. Sabendo o que é o reino, ou sabendo do seu valor, Jesus convida à opção. E diz o que ocorrerá no final do período das escolhas: “Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos” (Mt 13,49).
Os maus serão descartados.
Os bons, já em vida, farão as obras do Senhor, como “discípulos do reino dos céus” (Mt 13,52) e depois merecerão o Reino que é um valor em si mesmo. Mas para merecê-lo o “discípulo do Reino” tem que estar voltado para o outro. Com o coração no outro. Um coração compreensivo. E, então, fazendo para o outro, ouvirá de Deus: “Dou-te um coração sábio”.
Em que consiste a sabedoria? Em fazer para o outro… Como anda o teu coração?
Deus está te fazendo uma oferta. O que você vai escolher?
Neri de Paula Carneiro
domingo, julho 19, 2020
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