Leia, por favor!
Não
deixe esse texto lhe passar despercebido, leia-o, por favor.
(Esclarecendo:
não leia fazendo um favor a quem o escreveu. O “por favor’ é um
convite, feito com a delicadeza de quem convida educadamente,
principalmente porque em várias oportunidades tenho reclamado contra
a extrema apelação comercial e a minimização do homenageado nas
datas comemorativas. Assim tem sido com o dia das mães, com o dia
dos pais, com o natal, com o dia das crianças, com a Páscoa... e
com várias outras datas. Mas hoje é diferente! Falarei contra o
fato de uma data – e o personagem envolvido – terem sido
esquecidos)
Estou
falando do dia 15 de outubro. Dia do Professor!
E
conclamo os colegas professores a fazerem, também, seu ato de
protesto.
Não
que a gente seja professor esperando homenagem. Agimos com
profissionalismo. Nossa meta é ajudar o aluno a desenvolver-se. Mas
um reconhecimentozinho não faz mal a ninguém e estimula o ego.
Percebe-se
que entra ano e sai ano e cada dia mais o professor é minimizado,
esquecido, menosprezado... E o professor não é e nem pode ser
tratado como o “servo inútil” mencionado por Jesus, lá nos
Evangelhos. O professor é um dos poucos profissionais que, deixando
de atuar paralisa o progresso humano. Imagine qualquer profissão ou
qualquer profissional bem sucedido! Antes dele e para que ele tenha
aí chegado, recebeu o auxílio de professores.
O
professor, embora não se diga, não se reconheça, não se dê o
devido destaque, é o único profissional que pode ser colocado como
parte da infraestrutura social (só para lembrar uma categoria de
origem marxista). Lembrando que a infraestrutura é aquela categoria
que não pode faltar, para que a sociedade não desmorone, enquanto a
superestrutura é completamente dispensável. (Mas isto não é aula
de sociologia!).
Então
vamos aos fatos e mostrar que, de fato, o professor não tem sido
valorizado. Veja o que acontece no dia das crianças: apelo
comercial, festinha nas escolas, badalação. Dia das mães: apelo
comercial, festinha nas escolas, badalação; páscoa: apelo
comercial, festinha nas escolas, badalação; dia dos pais: apelo
comercial, festinha nas escolas, badalação. Ah! Você está achando
estranha a repetição. Mas é isso o que acontece. Com tonalidades
diferentes, é exatamente isso o que ocorre.
E
o que acontece no dia do professor? Nada! Absolutamente nada! (tem,
em alguns casos, uma festinha na escola, um feriadozinho, na
escola... mas isso é feito pelo próprio professor! Ele não recebe
como reconhecimento de sua ação!).
Compare
a badalação, nos veículos de comunicação, envolvendo o dia das
crianças e o dia do professor! (e são datas bem próximas: dias 12
e 15 de outubro).
Agora
vamos ver o nível salarial. Já se disse que o professor de Rondônia
tem um dos melhores salários, entre os estados do Brasil. E é
verdade! Agora imagine como anda o dos outros estados. Se aqui é
assim, como é nas outras localidades?
Para
que você não diga que estou exagerando, quero que você mesmo
compare o nível salarial do professor e de profissionais da área da
saúde. Ambos com formação universitária. Ambos com nível
superior. Ambos desenvolvendo atividades importantíssimas para a
população. Só que o profissional da saúde (que precisou de um
professor para ser o que é) tem uma proposta salarial melhor do que
a do professor.
E
não estou inventando. O que segue está no edital para o concurso
público para educação e saúde (2003). Veja a discrepância:
Professor, com licenciatura plena em Literatura e Língua Portuguesa.
Requisito: Diploma, devidamente registrado, de conclusão de curso de
graduação em Licenciatura plena em Língua Portuguesa e Literatura.
Jornada de trabalho: 40 horas semanais. Remuneração prevista: R$
897,13. Professor de português é o responsável pelo cuidado com a
nossa língua pátria! Veja a proposta para o médico.
Requisito:
diploma, devidamente registrado, de conclusão de curso de graduação
em Medicina, e registro no órgão de classe competente. Jornada de
trabalho: 40 horas semanais. Remuneração prevista: R$ 6.000,00.
Podemos
pegar outros exemplos: Professor de Biologia
Remuneração prevista: R$ 897,13 e o Biólogo, na área da saúde:
Remuneração prevista:
Até R$ 1.400,00.
Se
quem contrata o professor o trata assim, como é que a sociedade o
tratará? E convenhamos, a qualidade do atendimento da saúde pública
não é tão grande coisa!
Se
isso não bastar, tem o caso do servidor da polícia civil, com nível
escolar médio (antigo segundo grau) tem uma remuneração de cerca
de R$ 2000,00. E o professor, com nível superior
R$ 897,13!!!!! E pensar que Rui Barbosa dizia ser “preciso educar a
criança para não ser necessário punir o adulto”!!! E nem o
sindicato da educação se dá conta desse desrespeito!
Com
essa discrepância é que a gente entende o por que de estar faltando
mais de 300 mil professores pelas escolas do Brasil! Por essa razão
é que encontramos inúmeros colegas dizendo que deixarão o
magistério na primeira oportunidade. Muitos professores deixando o
magistério por que só com nível médio pode ganhar mais em outras
áreas do serviço público.
Alguém
ainda tem dúvida se o professor é ou não, desvalorizado pela atual
sociedade e pelo poder público que o contrata?
Neri
de Paula Carneiro
(publicado em folha da mata - 2004 - rolim de moura - ro)