quinta-feira, outubro 18, 2018

Leia, por favor!


Leia, por favor!


Não deixe esse texto lhe passar despercebido, leia-o, por favor.
(Esclarecendo: não leia fazendo um favor a quem o escreveu. O “por favor’ é um convite, feito com a delicadeza de quem convida educadamente, principalmente porque em várias oportunidades tenho reclamado contra a extrema apelação comercial e a minimização do homenageado nas datas comemorativas. Assim tem sido com o dia das mães, com o dia dos pais, com o natal, com o dia das crianças, com a Páscoa... e com várias outras datas. Mas hoje é diferente! Falarei contra o fato de uma data – e o personagem envolvido – terem sido esquecidos)
Estou falando do dia 15 de outubro. Dia do Professor!
E conclamo os colegas professores a fazerem, também, seu ato de protesto.
Não que a gente seja professor esperando homenagem. Agimos com profissionalismo. Nossa meta é ajudar o aluno a desenvolver-se. Mas um reconhecimentozinho não faz mal a ninguém e estimula o ego.
Percebe-se que entra ano e sai ano e cada dia mais o professor é minimizado, esquecido, menosprezado... E o professor não é e nem pode ser tratado como o “servo inútil” mencionado por Jesus, lá nos Evangelhos. O professor é um dos poucos profissionais que, deixando de atuar paralisa o progresso humano. Imagine qualquer profissão ou qualquer profissional bem sucedido! Antes dele e para que ele tenha aí chegado, recebeu o auxílio de professores.
O professor, embora não se diga, não se reconheça, não se dê o devido destaque, é o único profissional que pode ser colocado como parte da infraestrutura social (só para lembrar uma categoria de origem marxista). Lembrando que a infraestrutura é aquela categoria que não pode faltar, para que a sociedade não desmorone, enquanto a superestrutura é completamente dispensável. (Mas isto não é aula de sociologia!).
Então vamos aos fatos e mostrar que, de fato, o professor não tem sido valorizado. Veja o que acontece no dia das crianças: apelo comercial, festinha nas escolas, badalação. Dia das mães: apelo comercial, festinha nas escolas, badalação; páscoa: apelo comercial, festinha nas escolas, badalação; dia dos pais: apelo comercial, festinha nas escolas, badalação. Ah! Você está achando estranha a repetição. Mas é isso o que acontece. Com tonalidades diferentes, é exatamente isso o que ocorre.
E o que acontece no dia do professor? Nada! Absolutamente nada! (tem, em alguns casos, uma festinha na escola, um feriadozinho, na escola... mas isso é feito pelo próprio professor! Ele não recebe como reconhecimento de sua ação!).
Compare a badalação, nos veículos de comunicação, envolvendo o dia das crianças e o dia do professor! (e são datas bem próximas: dias 12 e 15 de outubro).
Agora vamos ver o nível salarial. Já se disse que o professor de Rondônia tem um dos melhores salários, entre os estados do Brasil. E é verdade! Agora imagine como anda o dos outros estados. Se aqui é assim, como é nas outras localidades?
Para que você não diga que estou exagerando, quero que você mesmo compare o nível salarial do professor e de profissionais da área da saúde. Ambos com formação universitária. Ambos com nível superior. Ambos desenvolvendo atividades importantíssimas para a população. Só que o profissional da saúde (que precisou de um professor para ser o que é) tem uma proposta salarial melhor do que a do professor.
E não estou inventando. O que segue está no edital para o concurso público para educação e saúde (2003). Veja a discrepância: Professor, com licenciatura plena em Literatura e Língua Portuguesa. Requisito: Diploma, devidamente registrado, de conclusão de curso de graduação em Licenciatura plena em Língua Portuguesa e Literatura. Jornada de trabalho: 40 horas semanais. Remuneração prevista: R$ 897,13. Professor de português é o responsável pelo cuidado com a nossa língua pátria! Veja a proposta para o médico. Requisito: diploma, devidamente registrado, de conclusão de curso de graduação em Medicina, e registro no órgão de classe competente. Jornada de trabalho: 40 horas semanais. Remuneração prevista: R$ 6.000,00.
Podemos pegar outros exemplos: Professor de Biologia Remuneração prevista: R$ 897,13 e o Biólogo, na área da saúde: Remuneração prevista: Até R$ 1.400,00.
Se quem contrata o professor o trata assim, como é que a sociedade o tratará? E convenhamos, a qualidade do atendimento da saúde pública não é tão grande coisa!
Se isso não bastar, tem o caso do servidor da polícia civil, com nível escolar médio (antigo segundo grau) tem uma remuneração de cerca de R$ 2000,00. E o professor, com nível superior R$ 897,13!!!!! E pensar que Rui Barbosa dizia ser “preciso educar a criança para não ser necessário punir o adulto”!!! E nem o sindicato da educação se dá conta desse desrespeito!
Com essa discrepância é que a gente entende o por que de estar faltando mais de 300 mil professores pelas escolas do Brasil! Por essa razão é que encontramos inúmeros colegas dizendo que deixarão o magistério na primeira oportunidade. Muitos professores deixando o magistério por que só com nível médio pode ganhar mais em outras áreas do serviço público.
Alguém ainda tem dúvida se o professor é ou não, desvalorizado pela atual sociedade e pelo poder público que o contrata?

Neri de Paula Carneiro
(publicado em folha da mata - 2004 - rolim de moura - ro)

quarta-feira, outubro 17, 2018

Pelos Caminhos da América


Pelos Caminhos da América

Pelos Caminhos da América, há tanta dor, tanto prato; nuvens, mistérios, encantos que envolvem nosso caminhar. Há cruzes beirando a estrada, pedras manchadas de sangue, apontando como setas que a liberdade é pra lá. Pelos caminhos da América, há monumentos sem rosto, heróis pintados, mau gosto; livros de história sem cor. Caveira de ditadores, soldados tristes, calados, com os olhos esbugalhados, vendo avançar o amor”.
Esses versos de Zé Vicente, retratam um pouco dos 500 anos de dominação e sofrimento impostos aos povos ameríndios em nome do lucro dos colonizadores e da classe dominante.
Inicialmente a exploração era feita pelos colonizadores das metrópoles portuguesa e espanhola. Mas com o processo de independência e nos últimos séculos ela ocorre em nome do capitalismo que se instalou contra os pobres no continente.
Em nome desse lucro os colonizadores e depois os fazendeiros exterminaram populações inteiras, deixando nas margens da história as cruzes com os nomes das incontáveis civilizações que viviam de norte a sul da América. Povos que foram mortos pela ganância de governos e de indivíduos, ao longo dos 500 anos de América.
Além da morte efetiva produzida com tiro ou com pestes.., ao longo de nossa história desaprendemos a valorizar os produtos e a cultura dos povos que inicialmente povoaram as Américas. Dessa foma, além de matar a população, os brancos mataram, também a história desses povos. Prova disso é que pouco sabemos das sociedades que viviam de norte a sul das américas, antes da chegada dos europeus.
Podemos lembrar de alguns exemplos desse extermínio, ao longo dos caminhos da América: Na colonização da América do Norte um dos lemas dos colonos era: “índio bom é índio morto”. Cortez e Pizarro, na América central e andina, exterminaram maias, incas e astecas em busca do ouro por eles acumulado. No Brasil não foi diferente: São muitas as historias de colonizadores que deram presentes contaminados para dizimar as tribos locais.
Nos dias de hoje, no Brasil, ainda persistem situações em que fazendeiros ou o poder público tiram a vida, as terras ou elementos da cultura de várias nações indígenas. Aqui em Rondônia, neste início de século XXI, ainda se vê nações indígenas sendo expulsas de suas terras ancestrais; existem povos nos quais os valores dos brancos são tão presentes que traços dessa cultura tradicional estão se perdendo.
Ao lado da busca de riquezas, outro motivo que trouxe o europeu para as Américas (principalmente a colonização ibérica) foi a difusão do cristianismo. O problema ocorreu na medida em que os valores cristãos se imiscuíram, sincretizaram e se corromperam depravando-se com os valores econômicos. E isso foi usado não em defesa, mas contra os povos indígenas.
É claro que existem instituições – inclusive cristãs – que hoje fazem o mea culpa e tentam proteger as culturas tradicionais. Mas isso não anula o fato: o avanço da dominação dos brancos sobre terras e povos indígenas continua impondo valores que anulam essas culturas ancestrais.
Sabemos que nenhum contato entre sociedades e culturas distintas as manterá intactas. Havendo contato, necessariamente ocorre interação. O problema não é o contato e interação cultural. O problema é que os valores dos brancos sobre os povos indígenas são mais mortais do que as pestes trazidas pelos brancos ao longo dos 500 anos dessa América desencaminhada.

Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO

Sagrada Família: para se cumprir!

Reflexões baseadas em: Eclo 3,3-7.14-17a; Cl 3,12-21; Mt 2,13-15.19-23 Todos os que, de alguma forma, tiveram contato com os ensinamentos d...