quinta-feira, outubro 26, 2017

ERROS DA HISTÓRIA?


ERROS DA HISTÓRIA?
Por que acreditamos naquilo que nos dizem? Por que acreditamos naquilo que lemos? Por que acatamos como verdade alguma coisa e refutamos, como mentira, algumas outras?
A resposta é: acreditamos ou rejeitamos com base nas provas. No senso comum se fala em confiança naquele que narra o fato. Em filosofia se fala em provas racionais. Em religião se fala em prova de fé. Em história se fala em provas documentais.
Mas o que fazer ou como proceder quando passamos a desconfiar das provas? Que fazer quando somos impelidos a desconfiar do narrador, do argumento, da crença, do documento. Essa desconfiança tem razão de ser, pois documentos podem ser forjados. A razão pode não ser suficiente. O narrador cometeu deslizes ou é reconhecidamente mentiroso... e, além disso, o fato ou a situação é tão absurda que quase nos pede para desconfiarmos dela.
Um exemplo clássico de onde se pode chegar a partir da desconfiança ou da dúvida em relação à prova é René Descartes. Desconfiou e duvidou de toda a filosofia que o precedeu e criou uma nova metodologia de estudo e de pesquisa, baseado-se naquilo que chamou de dúvida metódica. Partindo da dúvida reelaborou todo um programa de análise da realidade. Daí foi que nasceu o clássico “penso, logo existo”. Para duvidar devo pensar, portanto se estou pensando é porque existo, concluiu Descartes.
Em relação à fé pode-se mencionar Lutero. Não sei se duvidou de Deus, mas que foi uma pedra no sapato da Igreja, isso sem dúvida. Graças a isso tanto ganharam os católicos que mais tarde viram sua Igreja reformulando algumas de suas posições como ganhou a humanidade pois a partir dessa dúvida cresceu o movimento da reforma protestante; a bíblia se popularizou; a religião se abriu ao povo... e o povo pode descobrir que Deus é amigo...
Mas isso também se aplica à história?
Se o caminho para a certeza é a dúvida, sim. A história também tem alguns pontos de interrogação em aberto. Ou, melhor, para haver avanço na compreensão dos fatos históricos eles precisam ser re-examinados, re-explicados. É necessário que lancemos dúvidas sobre os documentos históricos, pois eles podem nos pregar peças ou nos induzir ao erro. Sem contar que podem ser forjados para atender a algum interesse...
Veja só: É fato que dom Pedro proclamou a independência do Brasil. Mas, em quais condições isso ocorreu? Realmente desembainhou a espada e gritou “independência ou morte” ou o processo foi mais complexo? Um artista, Pedro Américo, imortalizou esse fato numa tela. Mas ele não estava presente ao fato e fez o trabalho vários anos depois. No quadro aparece pelo menos um ponto de interrogação: por que não se veem os jumentos carregando as matulas de viagem? Naquela época não se viajava do Rio de Janeiro (sede da corte) até Santos (residência da marquesa a quem d. Pedro fora visitar), sem os apetrechos de cozinha e acampamento. Era uma viagem de dias.
Em Rondônia ainda convivemos com alguns que são chamados de pioneiros. Eles nos contam fatos da colonização, mas suas narrativas se prestam a equívocos, pois cada um apresenta a sua versão nem sempre são coincidentes e se não há coincidência alguém está acrescentando ou omitindo fatos. Portanto alguma inverdade está ocorrendo. E, portanto, há algum erro na história.
Mas, então, como ficamos: houve erros da história, erros históricos ou erros na forma de contar a história? Ou não ocorreram erros, pois quem contou o que contou apresentou a sua verdade?
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação; filósofo; teólogo; historiador
Rolim de Moura – RO

Comemorar o quê?


Comemorar o quê?

Dificilmente alguém de nós nunca comemorou seu aniversário. Alguns o comemoram todos os anos. Outros só o fazem quando alguém se lembra dele. Alguns fazem festa, outros só expressam desejo de felicidades. Mas, de alguma forma, sabe-se que naquela data ocorreu um fato importante: o seu nascimento!
Com o exemplo do aniversário queremos entender o significado das chamadas “datas comemorativas”. Algumas delas são feriados e outras recebem apenas um destaque no calendário. Tomemos como exemplo os dias 21 e 22 de abril. No primeiro se comemora a luta pela independência simbolizada na morte de Tiradentes: é um feriado. A segunda data é quase esquecida e corresponde à chegada dos portugueses ao Brasil. Ambas são datas comemorativas mas só temos feriado no dia de Tiradentes.
E as demais datas? O que representam? Por que as comemoramos?
São inúmeras as datas comemorativas. Não caberiam nesta página. Mas todas elas representam um evento importante da história. Algumas datas representam um feito notável e louvável outras representam um fato vergonhoso da história. O dia 13 de maio é uma data louvável, embora questionável na forma como se fez: é a data da extinção da escravidão no país! Mas o Primeiro de Maio, embora represente os trabalhadores teve seu início num fato trágico: o assassinato de dezenas de trabalhadores que cobravam direitos trabalhistas.
Como em nosso país gostamos dos feriados, nem sempre nos damos conta do significado ou não atentamos para o que se esconde atrás das datas. Queremos o dia de folga representado pelo feriado e, assim, dizemos que não queremos nos preocupar com mais nada.
E isso que dizemos a respeito das datas comemorativas vale, também para os finais de semana: nos os queremos não porque podem nos proporcionar momentos de encontro com amigos, alternativa de estudo, possibilidade de fazermos algum trabalho diferente. Não! Queremos o final de semana desde que seja livre, para usufruirmos da ociosidade que ele representa. Ele nos serve se nos distanciar do trabalho e do ritmo alucinado da vida cotidiana.
Essa postura é que agora desafia nossa reflexão. Inicialmente não se trata de supervalorizar o feriado como negação ao trabalho, mas em afirmar que a data comemorativa não existe para enfeitar o calendário ou para termos mais um motivo para não trabalhar. As datas comemorativas e feriados existem para nos lembrarmos de algo memorável.
Sabemos que nem todos fazem o que gostam e, por isso, sonham com os feriados. Mas admitamos que todos pudéssemos fazer exatamente aquilo que gostamos e fossemos bem recompensados por isso. Nossa relação com o trabalho seria diferente: faríamos com gosto! E haveria menos motivações para sonharmos com os feriados. Comprove isso quando você estiver fazendo algo realmente prazeroso. Você notará que nem se lembra de feriado ou fim de semana, pois o que está fazendo é algo prazeroso.
O trabalho degradante é que pede feriado. O trabalho desvalorizado é o que pede fim de semana prolongado. Mas, quando o contrário acontece, o trabalhador nem se dá conta do tempo passando ou passando. Faz com tesão.
Cabe uma última observação: o fato de quase não nos lembrarmos do que estamos comemorando ou o que gerou o feriado. Ocorre que, além do trabalhador não ter seu trabalho valorizado o cidadão vê o país sendo depredado. Sendo assim, da mesma forma que o trabalhador não tem motivação para trabalhar, o cidadão também perde o interesse pelo país. Dessa forma as datas e feriados não passam de momentos para não se trabalhar. Não importando o significado cívico da data. Ou alguém ainda lembra o que significa 15 de novembro? E mais ainda: qual o significado da República, para um povo que vive à margem e sofre as consequências da ladroagem dos políticos?
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo historiador
Rolim de Moura - RO

Abacaxi ou abóbora?


Abacaxi ou abóbora?
Você já se deu conta de que a escola é um espaço onde são cultivados, entre outras coisas abacaxis e abóboras?
Se você é professor ou estudante ou pai ou simplesmente uma pessoa que gosta de entender as coisas, acompanhe meu raciocínio para perceber que, efetivamente, na escola cultivamos muitas coisas. Entre elas abacaxis e abóboras... Explico-me!
O que é uma abóbora? O que é um abacaxi?
Comecemos com os abacaxis. Aparentemente são futas charmosas. Dá até para fazer uma batidinha de abacaxi. Ma como nosso tema, aqui, é escola, então deixemos as batidas pra lá, pois alguém poderia dizer – algum leitor mal intencionado – que estou advogando o uso da palmada para promover um processo mais producente de educação.
Mas fiquemos com o abacaxi!
Comecemos, então, dizendo que o abacaxi é um fruto que parece rei, mas não tem majestade. Pensa que sua coroa é importante e lhe confere nobreza, mas, na realidade, só serve para cumular água, cocô de passarinho, sujeira e insetos. Abacaxi tem coroa, mas em vez de desenvolver a nobreza, desenvolve espinhos. Se você gosta de abraçar, não vai conseguir abraçar um abacaxi: ele é espinhento. É um tipo que só sabe espetar. E suas mudas, seus filhotes, são tão agressivos quanto os pais: já nascem com espinhos.
O abacaxi, com seus espinhos, é cheio de não-me-toque-não-me-rele. Seu crescimento é lento – e tem alguns deles que nem crescem – e cada pé só dá um fruto. Na feira, por vezes você precisa comprar três ou quatro pra valer um. Seu fruto é ácido e provoca afta em algumas pessoas.
Claro, tem gente que gosta, mas apareceu um problema já nos lembramos: é um abacaxi! É verdade que se pode fazer doce de abacaxi, suco de abacaxi, caipirinha de abacaxi, torta de abacaxi. Dá pra fazer muita coisa de abacaxi, mas não dá para abraçar um abacaxi... e ele cresce muito lentamente... o abacaxi é lento! Vai mais de um ano entre a produção da muda, seu plantio e a produção do fruto. É muito lento...!
E a abóbora?
É bem diferente! Ela não goza de muito status, mas convence pela simplicidade!
Observemos a abóbora em todo seu ciclo, começando com a semente.
A semente germina já crescendo e produz muito: O pé de abóbora produz pela vida inteira. Só para de produzir quando morre. Cresce para todos os lados e quanto mais cresce mais floresce. É verdade que nem todas as flores produzem abobrinha, mas elas atraem borboletas e outros insetos para polinização. O importante é que existem as flores que produzem abóboras. E cada rama produz muitas flores e frutos e mais ramas e mais flores e frutos e muita gente e animal pode se alimentar com eles. E cada abóbora produz centenas de sementes que podem gerar muitos outros pés de abóbora.
O interessante é que cada abóbora tem seu dinamismo próprio: com ela se pode fazer doce, salada, cozer com carne ou de outras formas: é alimento para qualquer situação ou gosto e tem funções benéfica para os intestinos...
Além disso, de qualquer pé de abóbora se pode dizer que é carinhoso, pois sai por aí abraçando tudo que encontra pela frente; e sempre enlaça num abraço produtivo. Mas o importante disso é que a abóbora cresce sempre; é sempre produtiva e altruísta...
A escola, portanto, é um campo em que se cultivam abacaxis e abóboras. Entretanto não sabemos quem é o quê. Mas sabemos que nossas aulas se dirigem a abacaxis e abóboras. Em nossas aulas estamos laçando o adubo... cultivando abóboras e abacaxis...
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO.

“Professor só me deu”


Professor só me deu”

Nossa reflexão neste discurso tem a ver com o aprendizado e o comportamento do aprendiz em relação ao processo do aprender. Poderíamos dizer, também que se trata de uma reflexão sobre a falta de aprendizado que vem crescendo em nossas escolas.
E esta é uma reflexão que não se ocupa em julgar o estudante, mas em constatar um fato do qual, talvez, o estudante seja uma vítima... Mas a vítima fatal e em última instância é a própria sociedade que paga para ter o melhor e acaba recebendo os acidentes do processo!
A questão que desejamos refletir, neste momento, diz respeito a uma atitude que demonstra falta de aprendizado. Ela ocorre logo após alguma avaliação. Circunstância em que, invariavelmente, algum aluno procura o professor e, em tom de reclamação e recriminação, pergunta, afirma e acusa: “professor, só me deu isso de nota!?”
Para não dizer o que pensa e para não ser grosseiro o professor se cala. Mas lá no seu íntimo ele pensa – pensar ele pode: “Abestado, foi você e não eu quem fez a prova!” E vai adiante: “Se a nota foi essa é porque você não sabia mais”. Em acrescenta, ainda no íntimo do seu pensamento: “Eu não dei nota nenhuma. Ela é reflexo daquilo que você fez na prova. Se você acerta um número elevado de questões, a nota é alta, se acerta poucas questões a nota é baixa. Isso não depende do professor a quem só cabe ensinar. O aprendizado é do estudante. Se o estudante estuda, aprende e se aprende a nota vem como consequência. O professor, portanto, só elabora a prova e a corrige depois que ela foi respondida pelo estudante.”
Mas tudo isso fica só na cabeça do professor, pois se disser algo – mesmo que seja verdade – sua fala pode ser interpretada como grosseria, como resposta desrespeitosa ao aluno (lembrando que aluno significa “desprovido de luz” e nessa etimologia o professor é aquele que ajuda o estudante a se apropriar do lumem (luz) do saber.
Então repitamos: ao professor cabe ensinar; promover as condições de aprendizado – condições estas que, em muitos casos, é negada pela estrutura escolar/acadêmica e noutras vezes produzida pelos aluno. Mas ao estudante cabe estudar. Por incrível que pareça, por excelente que seja o professor, se não houver predisposição por parte do estuante, não haverá aprendizado e, consequentemente, não haverá boa nota.
Diferentemente do que ocorre no comércio onde o cliente compra um produto e deseja qualidade, no processo escolar isso não ocorre. O estudante que recebe as informações disponibilizadas pelo professor pode absorvê-las ou não. Se deseja e quando quer, aprende e tem boas notas – e se torna bom profissional! Mas, como ocorre em muitos casos, se o aluno é medíocre ou desinteressado, nada absorverá. E, o que é pior: dirá que o professor não lhe deu nota; em alguns casos os próprios pais cobrarão do professor – e não do aluno – uma melhor nota para o filho, sem cobrar do filho mais empenho no estudo!
Serão esses alunos e não os estudantes que, no final do bimestre ou do semestre, em tom choramingante dirão: “professor, você só me deu essa nota”. Ou então: “Professor, dá um pontinho! Se eu ficar com essa nota vou reprovar. Só um pontinho, professor!” E cada vez que vê o professor é a mesma cantilena lamuriosa: “Então, professor, vai me dar um pontinho?”
Claro que o professor que ouve a lamúria e não diz o que pensa. Mas pensa! Pensa mais ou menos o seguinte: “Como chegamos a esta situação? Se ele tivesse estudado não precisava mendigar nota.” E se lamenta: “Como pode alguém se humilhar a este ponto?”.
Pedir nota é uma confissão de incompetência. Aquele que precisa pedir nota não a merece, pois não foi capaz de consegui-la por si mesmo. E o fato de pedir nota significa que não está preocupado em estudar e aprender. Quer a nota para completar um requisito formal, mas não está preocupado com a postura ética pela qual pode dizer: “Fui aprovado pelos meus méritos” e não porque recebeu algumas migalhas de esmola!”
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura- RO

Educação: de quem é a responsabilidade?


Educação: de quem é a responsabilidade?

Estamos acostumados a ouvir falar que educação tem a ver com a escola ou é uma responsabilidade da escola. Não que não seja assim, mas não é só isso. Na realidade, educação é muito mais que isso! Ultrapassa a escola porque começa antes dela.
Então comecemos no começo. Para falar sobre algo, precisamos, primeiro, saber o que é aquilo sobre o quê estamos falando. Neste caso, em que consiste isso que chamamos de educação?
Os mestres da linguagem diziam que educação tem a ver com um processo. Ninguém nasce educado. Ninguém é plenamente educado. Da mesma forma que ninguém é “sem educação” ou seja, todos somos educados, mas, ao mesmo tempo, estamos nos educando. Nisso consiste o processo. Isso é o que sugere a professora Maria L. A. Aranha, no livro “Filosofia da Educação”, essa é uma palavra que vem do latim, “educare” e se refere ao processo de “conduzir de um estado a outro”. Envolve, portanto, um “agente” que conduz, uma “mensagem” que é transmitida e a um indivíduo que recebe essa mensagem.
E com base nisso somos levados a dizer que educação não se realiza isoladamente. Tem a ver com vida social. É processo coletivo.
Como estamos admitindo que se trata de um processo, somos levados a concluir que a ação educacional, que é coletiva, não tem um ponto de partida nem um ponto final; não se pode dizer: até aqui este indivíduo não era educado; a partir daqui ele está educado. Pode-se dizer que o indivíduo está se educando sempre. Pois sempre se aprimora em seus comportamentos, valores e posturas.
E, um detalhe: Percebeu? Até aqui, em nenhum momento mencionamos a instituição escolar como agente da educação!
Cabe, então, analisar a ideia de “conduzir de um estado a outro”. Quem conduz? Quem é conduzido? O que conduz é aquele que está numa situação ou condição na qual o conduzido ainda não chegou, mas acredita que deve chegar. E se esse ponto deve ser atingido é porque se acredita que ele seja bom. Trata-se, portanto, de um avanço valorativo. O que é conduzido é aquele que aceita, acata e deseja a condução; acredita que pode atingir um ponto onde ainda não está e, para isso, depende da ajuda daquele que já atingiu o ponto ou objetivo almejado... que não é um “ponto final”, mas uma meta de transição, uma catapulta para o ponto seguinte.
Então voltemos à nossa questão: de quem é a responsabilidade pela educação? De quem já deu o passo ainda não dado pelo que está inserido no processo. Concretizando isso podemos dizer que o adulto está numa situação ou estágio em que a criança ou o adolescente ainda não atingiu. Portanto cabe ao adulto educar a criança ou o adolescente ajudando-o a atingir ou desenvolver os valores que ele ainda não incorporou.
E quem são os responsáveis pela criança e pelo adolescente? Todos os adultos, mas em primeiro lugar os pais! Então a quem cabe a responsabilidade pela educação?
E a escola? Trata-se de uma instituição que tem outro papel: a ela cabe a transmissão de informações consideradas relevantes para o desenvolvimento do indivíduo. É uma instituição que supõe a educação e ajuda a moldá-la, mas com outros objetivos. Por exemplo, um dos objetivos do sistema escolar é preparar para o trabalho. Ou educar para o trabalho. Mas a escola não vai dizer ao estudante que o trabalho é algo bom e que este deve ser um objetivo de vida para todas as pessoas. A escola dirá ao indivíduo: você está no mundo e precisa trabalhar, portanto eu vou te ajudar a se preparar para isso.
A família estimula, ensina – educa – para perceber o valor do trabalho e a escola prepara para o exercício do saber: prepara para o trabalho. Cada instituição tem uma responsabilidade em relação ao processo educacional.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO

Aprendemos com eles


Aprendemos com eles

Quem é professor já ouviu este tipo de pergunta: onde vou usar isto?
Vamos começar, então por onde tudo começou.
Tudo começou numa aula de história no ensino fundamental. O assunto eram os povos antigos. Naquele momento não havia referência à filosofia, pois a temática era história. Mas a reflexão depois da aula mostrou a ligação do tema de história com uma filosofia do cotidiano. E a questão é: o mundo antigo continua se manifestando em nosso mundo?
A resposta é sim! Basta observarmos e veremos os retalhos daquilo que os antigos fizeram em alguns ecos dentro de nossa sociedade. São saberes que repercutem em nossa sociedade: O mundo antigo continua ecoando em nosso meio.
Vejamos alguns exemplos.
Vivemos em sociedade: muitos de nós um aglomerado ao qual chamamos de cidade. Como aprendemos isso? Possivelmente a partir dos mesopotâmicos. A vida urbana, até onde sabemos, desenvolveu-se lá. Não podemos precisar se foi este ou aquele povo que começou a primeira cidade, mas sabemos que elas agregaram as pessoas.
E por que as pessoas se agregaram num amontoado urbano? Para solucionar problemas.
Inúmeros problemas que seriam insolúveis ou mortais para os indivíduos, foram resolvidos pelo grupo: caso típico é o da segurança. O grupo oferece segurança ao indivíduo e os indivíduos se protegem mutuamente; segurança que não haveria se permanecessem isolados. A vida urbana, se por um lado trouxe soluções, por outro apresentou problemas: a disputa por território e, evidentemente, por alimento.
Com os problemas se avolumando foi necessário desenvolver mais alguns elementos que permaneceram e entraram em nosso uso cotidiano: as armas e a política, por exemplo. A necessidade de proteção do grupo exigiu a produção de armas e as guerras possibilitaram o desenvolvimento de tecnologias para a utilização dos metais.
Enquanto os agricultores usavam a metalurgia para fabricar arados e enxadas os soldados desenvolviam espadas...
A metalurgia se desenvolveu e está em nosso meio. Os metais são uma das artérias de nossa sociedade tecnológica. Para qualquer lado que olhemos, eles estão presentes. Nossa sociedade depende deles. Garfos e caminhões, relógios e microfones... tudo tem metal modificado: na forma de ferramenta, utensilio ou joias.
Outra coisa que os antigos inventaram foi a política. Consequência da cidade e dos atritos que surgem da vida urbana e social, a política foi criada para minimizar ou gerenciar os conflitos. Vários aspectos de nossa política foi organizada pelos gregos antigos. Eles não a criaram, mas dera-lhe um toque requintado.
Não só em relação aos conceitos da política, como democracia, por exemplo, mas também em relação à forma de fazer política: a arte de falar em público e a eloquência são criações dos sofistas que ensinavam retórica e oratória aos cidadãos atenienses para desenvolver a democracia ali existente.
Noutras situações os sacerdotes antigos olharam para os céus e falaram sobre seus deuses. Movidos pela fé ou pelo medo os antigos ampliaram os conhecimentos. Para isso precisaram compreender a dança das estrelas e a divisão do tempo: dias, meses, anos... e essas dimensões temporais e o seu significado acabou definindo nossa sociedade.
A noção de tempo, outra artéria fluindo o sangue frenético de nossa sociedade, nasceu naquele momento em que os antigos olharam para o céu em busca dos seus deuses.
E, em nossa sociedade, o tempo e os céus, antigos objetos de culto, viraram objeto de exploração.
E assim por diante. Cada vez que buscamos a origem de algo que nos é importante, notaremos sua raiz plantada nos tempos antigos: os antigos nos legram seus saberes.
Começamos esta reflexão, uma filosofia do cotidiano, buscando os ecos do passado em nossos dias. Agora nos vem a indagação crucial: os antigos nos legaram algumas lições e contribuições. E nós, o que legaremos aos nossos descendentes.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO



Que nem galinha -(Baseado em Luiz Passos)

Ai, ai seu doutor, o professor
é que nem galinha:
toma no rabo e sai cantando uma modinha

Todo dia o aluno chega e entra
é a mesma lenga lenga
não estuda e quer passar
Analiso e desprezo
esta jogada
que fabrica analfabeto
já com pinta de doutor.
É vergonha nacional

Ai, ai seu doutor, o professoré que nem galinha:
toma no rabo e sai cantando uma modinha

Todo dia o professor é execrado
é portaria e decreto
para tudo piorar.
Não reage feito
vaca de presépio
é usado o tempo todo
pro sistema preservar
“Tô na rede social!”
Ai, ai seu doutor, o professor
é que nem galinha:
toma no rabo e sai cantando uma modinha

Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO

Que nem galinha


Que nem galinha
Peço licença ao colega, já falecido, Luiz Carlos Passos, missionário jesuíta em terras do antigo território de Rondônia. Naquela época ele cantava contra o MOBRAL, que alguns, com certeza hão de lembrar. Naquela época criticar as obras da ditadura era perigoso. Hoje tudo mudou: as coisa pioraram muito. A vantagem é que a gente tem a sensação de liberdade de expressão, coisa que não tínhamos naquela época.
Minha paródia já circula na internet, mas sua música parece que desapareceu. Aqui estou retomando minha paródia para convocar pais e professores a uma reflexão. Afinal o que é que queremos dessa panela de pressão que ganhou o apelido de escola:
Ai, ai seu doutor, o professor é que nem galinha:
toma no rabo e sai cantando uma modinha!
Todo dia o aluno chega e entra. É a mesma lenga lenga: não estuda e quer passar
Analiso e desprezo esta jogada que fabrica analfabeto que tem pinta de doutor.
É vergonha nacional
Ai, ai seu doutor, o professor é que nem galinha:
toma no rabo e sai cantando uma modinha!
Todo dia o professor é execrado é portaria e decreto para tudo piorar.
Não reage, feito vaca de presépio é usado o tempo todo pro sistema preservar
'Tô na rede social!'
Ai, ai seu doutor o professor é que nem galinha:
toma no rabo e sai cantando uma modinha!”
A troco de quê estou retomado isso? Perguntarão alguns. É que ando indignado com o que ocorre. Todos vêm mas parece que estão cegos.
Minha indignação não é só porque o professor vem tomando... de aluno, de sistema, de escola, de governo, dos pais … e da sociedade toda. Toma todo dia (talvez por isso o Passos dizia que é “que nem galinha”) enquanto está lecionando. Mas chega o dia em que isso acaba: é quando o aluno, já de-formado pelo sistema, lá no mercado de trabalho quando não dará conta de preencher um recibo ou calcular mentalmente um toco de uma compra de sete reais para a qual o cliente pagou com dez reais... Nessas circunstâncias haverá alguém que dirá que a culpa é da escola... – que “não ensinou direito”. Aí culparão a escola mas, por extensão, a culpa recairá sobre o professor – ele será aquele que “não ensinou direito”, dirão. E então o professor tomará novamente!
Estou a ponto de dizer que “perdi a fé no ser humano”. Estou a ponto de me postar contra o Gonzaguinha, quando cantou: “fé na vida fé no homem, fé no que virá. Nós podemos tudo, nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será”
Na escola, na sociedade, na economia, na política... só se vê gente querendo pisar em gente. A indecência se impondo sobre aquilo em que todos dizem acreditar. Valores sociais e humanos indo pelo ralo e nós assistindo a tudo como um filme na TV. Parece que perdemos nossa capacidade de nos indignar. Parece que os dramas do mar de lama que nos sufoca não nos dizem respeito. Parece que não acreditamos que as coisas podem piorar e que não estamos fazendo nada para impedir.
Foi aí que recordei a música do colega, lá dos anos 1980. Ele dizia: “todo dia, o aluno chega e senta. Ouve a mesma lenga-lenga. Só escreve o que mandar. Analisa com desprezo esporte e moda. Vibra com nosso progresso que é fruto do MOBRAL, a vergonha nacional”
Querem impingir a responsabilidade pela mudança ao professor. Mas o professor é vítima do sistema. Ele é quem “toma... e sai cantando” . Se algo tem que mudar são as nossas atitudes. Caso contrário continuaremos tomando... e cantando... que nem galinha!
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO

Sagrada Família: para se cumprir!

Reflexões baseadas em: Eclo 3,3-7.14-17a; Cl 3,12-21; Mt 2,13-15.19-23 Todos os que, de alguma forma, tiveram contato com os ensinamentos d...