ERROS
DA HISTÓRIA?
Por
que acreditamos naquilo que nos dizem? Por que acreditamos naquilo
que lemos? Por que acatamos como verdade alguma coisa e refutamos,
como mentira, algumas outras?
A
resposta é: acreditamos ou rejeitamos com base nas provas. No senso
comum se fala em confiança naquele que narra o fato. Em filosofia se
fala em provas racionais. Em religião se fala em prova de fé. Em
história se fala em provas documentais.
Mas
o que fazer ou como proceder quando passamos a desconfiar das provas?
Que fazer quando somos impelidos a desconfiar do narrador, do
argumento, da crença, do documento. Essa desconfiança tem razão de
ser, pois documentos podem ser forjados. A razão pode não ser
suficiente. O narrador cometeu deslizes ou é reconhecidamente
mentiroso... e, além disso, o fato ou a situação é tão absurda
que quase nos pede para desconfiarmos dela.
Um
exemplo clássico de onde se pode chegar a partir da desconfiança ou
da dúvida em relação à prova é René Descartes. Desconfiou e
duvidou de toda a filosofia que o precedeu e criou uma nova
metodologia de estudo e de pesquisa, baseado-se naquilo que chamou de
dúvida
metódica.
Partindo da dúvida reelaborou todo um programa de análise da
realidade. Daí foi que nasceu o clássico “penso, logo existo”.
Para duvidar devo pensar, portanto se estou pensando é porque
existo, concluiu Descartes.
Em
relação à fé pode-se mencionar Lutero. Não sei se duvidou de
Deus, mas que foi uma pedra no sapato da Igreja, isso sem dúvida.
Graças a isso tanto ganharam os católicos que mais tarde viram sua
Igreja reformulando algumas de suas posições como ganhou a
humanidade pois a partir dessa dúvida cresceu o movimento da reforma
protestante; a bíblia se popularizou; a religião se abriu ao
povo... e o povo pode descobrir que Deus é amigo...
Mas
isso também se aplica à história?
Se
o caminho para a certeza é a dúvida, sim. A história também tem
alguns pontos de interrogação em aberto. Ou, melhor, para haver
avanço na compreensão dos fatos históricos eles precisam ser
re-examinados, re-explicados. É necessário que lancemos dúvidas
sobre os documentos históricos, pois eles podem nos pregar peças ou
nos induzir ao erro. Sem contar que podem ser forjados para atender a
algum interesse...
Veja
só: É fato que dom Pedro proclamou a independência do Brasil. Mas,
em quais condições isso ocorreu? Realmente desembainhou a espada e
gritou “independência ou morte” ou o processo foi mais complexo?
Um artista, Pedro Américo, imortalizou esse fato numa tela. Mas ele
não estava presente ao fato e fez o trabalho vários anos depois. No
quadro aparece pelo menos um ponto de interrogação: por que não se
veem os jumentos carregando as matulas de viagem? Naquela época não
se viajava do Rio de Janeiro (sede da corte) até Santos (residência
da marquesa a quem d. Pedro fora visitar), sem os apetrechos de
cozinha e acampamento. Era uma viagem de dias.
Em
Rondônia ainda convivemos com alguns que são chamados de pioneiros.
Eles nos contam fatos da colonização, mas suas narrativas se
prestam a equívocos, pois cada um apresenta a sua versão nem sempre
são coincidentes e se não há coincidência alguém está
acrescentando ou omitindo fatos. Portanto alguma inverdade está
ocorrendo. E, portanto, há algum erro na história.
Mas,
então, como ficamos: houve erros da história, erros históricos ou
erros na forma de contar a história? Ou não ocorreram erros, pois
quem contou o que contou apresentou a sua verdade?
Neri
de Paula Carneiro
Mestre
em educação; filósofo; teólogo; historiador
Rolim
de Moura – RO