sexta-feira, agosto 01, 2025

O apocalipse não é

O apocalipse não é o que as pessoas falam. Não é o que dele pensam!

O Livro do Apocalipse não diz o que dizem que ele diz: não descreve o fim do mundo!

O apocalipse não é e não será do jeito que as pessoas pintam ou pensam: não se trata de um evento do futuro, mas uma análise do presente em vista das alegrias vindouras!

Então o que é o apocalipse? Que livro é esse que chamam de Apocalipse? Qual a razão do medo que ronda quando alguém menciona a palavra apocalipse ou o livro do Apocalipse?

Não sei a resposta. Mas sei que não é tudo isso que se diz, envolvendo esse ar de catástrofes e cataclismos e monstros dos horrores… isso sei que não é!

Como não sei a resposta, vou buscá-la.

Como não sei grego nem latim, e muito pouco de português, vou procurar respostas pesquisando tudo isso e a própria Bíblia.

Como sei que existem muitas ideias tortas, e gente querendo entortar ainda mais, vou buscar luzes que me ajudem a tirar o véu da ignorância. Não por mim, pois sei em quem deposito minhas esperanças (2Tm 1,12). Vou buscar as explicações porque, disse Jesus, vão aparecer falsos messias… e muitos eles já estão por aí espalhando discórdia… (Mt 24,24) e são esses que deturpam o apocalipse, querendo disso tirar proveito! “Hão de surgir falsos Messias e falsos profetas, os quais apresentarão sinais e prodígios para enganar, se possível, os eleitos. Quando a vós, porém, ficai atentos. Eu vos predisse tudo” (Mc 13,22-23).

E quando for pesquisar o significado dessa palavra, as pesquisas me dirão que lá em sua origem apocalipse vem de “apocalipsis” que pode ser entendido como ato ou processo de se retirar a cobertura, uma forma de descobrir e mostrar o que até aqui estava encoberto… vou descobrir que, na Bíblia, tem vários textos apocalípticos, tanto no Antigo e no Novo Testamento. E não é para predizer o fim catastrófico do mundo...

E quando for pesquisar, também vou descobrir que, lá nas suas origens, o apocalipse não se refere a nenhum evento espetaculoso. Não se refere a tremor de terra, raios e trovões. Não se refere a “chuva de estrelas”. Não tem nada a ver com essa de produzir medo e terror.

E tem mais, quando eu for pesquisar vou descobrir que todas essas descrições de coisas ameaçadoras, assustadoras, devastadoras… são construções literárias com efeito simbólico para apontar uma outra realidade que, essa sim, é a razão do apocalipse, pois com toda essa simbologia essa linguagem evidencia o que está escondido nos planos de Deus: “eu te bendigo, pai, porque escondeste estas coisas aos sábios…” (Mt 11,25).

E ainda tem mais. Quando eu for pesquisar vou descobrir que Deus não age assim, provocando estardalhaço. Deus não precisa nem depende disso para se dar a conhecer. Deus não faz espetáculos para a plateia nem shows para ficar famoso. Deus não se apresenta assustando ninguém. Quer ser respeitado, amado... mas não temido!

E ainda tem algo a mais a ser acrescentado. Quando eu for pesquisar sobre o apocalipse, sobre a palavra apocalipse, sobre o significado de apocalipse, sobre o livro do Apocalipse, vou descobrir que as ações divinas são diferentes disso tudo que se diz por aí. As ações divinas ocorrem no dia a dia, sem estardalhaço! As ações divinas, assim diz a Bíblia, lá no livro dos Reis (1Rs 19,11-13), não está na tempestade, mas na brisa refrescante, reconfortante… Foi na brisa suave que Elias ouviu a voz de Deus.

O problema é que antes que eu possa continuar minha pesquisa, para saber o significado do apocalipse, alguém vai me interromper, dizendo: “Mas a descrição do apocalipse, narrada no livro do Apocalipse, fala disso!”; “O livro do Apocalipse descreve as catástrofes que acontecerão antes do fim do mundo!”; “Lá no livro do Apocalipse fala sobre monstros e terremotos e catástrofes cósmicas, e monstros…”. E eu respondo que sei disso, mas isso é simbólico! É um jeito codificado de explicar as coisas! E como linguagem codificada, para decifrar e entender, tem que achar a chave de decodificação.

Sou obrigado a interromper minha pesquisa sobre o apocalipse para reafirmar: O Apocalipse não é isso que está descrito e desenhado e narrado e anotado e predito… O apocalipse é uma palavra com a qual os autores transmitem uma mensagem, usando um gênero literário. Na realidade o apocalipse é um gênero literário que se caracteriza justamente por essa linguagem: simbólica, enigmática, descrevendo animais fantásticos e assustadores, números… mas não se destina a assustar! Dá até para dizer que era uma linguagem codificada. E aqueles símbolos e monstros e enigmas e números… cujo significado nos parecem estranhos e complicados, eram códigos conhecidos para os destinatários dos textos apocalípticos. Para eles não tinha nada de estranho. Era coisa do seu cotidiano. Por isso é que, de vez em quando, sai da boca de Jesus ou aparece nos textos apocalípticos expressões como: “quem tem ouvido para ouvir que ouça”; “ouça o que o Espírito diz às Igrejas” (Ap 2-3)(Mt 13,9; Mc 4,23; Lc 8,8). “Aqui é preciso discernimento. Quem é inteligente calcule o número da besta, pois é numero de homem…” (Ap 13,18). Com isso o autor do texto apocalíptico está oferecendo a chave de interpretação, como quem diz: leia com atenção o que estou falando, pois vocês conhecem o código. Vocês sabem, mas os inimigos não sabem. Portanto, tomem cuidado ao decifrar a mensagem. Portanto, não é uma linguagem para assustar, mas para reanimar, não para meter medo, mas para iluminar, indicar caminhos, orientar, incentivar, encorajar!!! Portanto, quem é inteligente…! “Quando, portanto, virdes a abominação da desolação, de que fala o profeta Daniel, instalada no lugar santo – que o leitor entenda!” (Mt 24,15).

Sou obrigado a interromper minha pesquisa para reafirmar que essa linguagem simbólica, própria do gênero literário chamado apocalipse, não foi criada para assustar. Era um jeito de falar, naquele tempo em que o estilo foi criado: tempos difíceis! Era um jeito de falar e isso ajudava as pessoas, encorajava as vítimas! Essas estavam em apuros e dificuldades e sofrendo e sendo perseguidas e com risco de perder a vida… não porque o mundo estava chegando ao fim, mas porque era necessário lançar uma restiazinha de luz e esperança para encarar os perseguidores e inimigos. Se os tempos estavam se mostrando difíceis, o autor do texto apocalíptico apresenta uma alternativa: a superação dos problemas com o empenho de todos e a proteção de Deus. Por isso repete e mostra o prêmio oferecido àqueles que erguerem a cabeça, enfrentarem as dificuldades e passarem pela provação: “ao vencedor darei…” (Ap 2,7.11.17.26; 3,5.12.21). Trata-se, sempre, de uma linguagem de esperança… de encorajamento, de otimismo, de conforto… pois os perseverantes vencem!

Na minha busca pelo sentido e significado do apocalipse, que não foi escrito para assustar, mas para encorajar, encontrei não palavras de medo, mas de encorajamento: “Ele colocou a mão direita sobre mim, assegurando: NÃO TEMAS. EU SOU O PRIMEIRO E O ÚLTIMO, O VIVENTE. ESTIVE MORTO, MAS EIS QUE ESTOU VIVO!” (Ap 1,17)

Na minha busca pelo sentido e significado do apocalipse, pude entender. Estamos diante de uma linguagem simbólica, mas não se trata de um clima de ameaça, para assustar ninguém. Estamos diante de uma linguagem enigmática, mas não se trata de mistério tenebroso, pois a intenção é indicar a direção oposta, com pistas para superação das dificuldades representadas e clocadas pelos donos do poder e das riquezas. Estamos diante de uma linguagem, para nós cheia de mistérios, mas clara e cristalina para os contemporâneos do autor… que pretendia indicar quem e quais eram os perigos e as pistas para a superação… e a superação sempre foi e será Jesus, o Ressuscitado.

Na minha busca encontrei não os medo, mas a coragem. Não a tristeza, mas a perseverança. Não a angústia, mas a esperança. Não que se vá negar as dificuldades cotidianas, mas no texto está a afirmação de uma certeza: as dores são passageiras e a vitória virá. E essa não é uma promessa de algum pregador espertalhão, que promete te livrar disto ou daquilo em troca de grana. Quem promete é o próprio Jesus, o vencedor: “Também vós, agora estais tristes, mas eu vos verei de novo e vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará vossa alegria” (Jo 16,22).

Na minha busca pude ouvir as palavras de Jesus, o vencedor: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem, eu venci o mundo!” (Jo 16,33).

Então, agora você entendeu? Entendeu porque o Apocalipse não é uma linguagem de medo? Entendeu porque, o livro do Apocalipse não é uma coleção de descrições de catástrofes assustadoras? Entendeu porque o Apocalipse é um convite não só ao encorajamento, mas principalmente para ouvir as promessas do vencedor? Entendeu que estamos diante não da descrição do fim do mundo, mas de um convite à perseverança que prevalece sobre as dores cotidianas?

Então, sugiro que entendamos de uma vez por todas: o apocalipse não é descrição de dores vindouras, mas promessa de bençãos futuras: “Nunca mais haverá maldição”. As dores cessarão e a luz do cordeiro iluminará a todos, na cidade santa onde “ninguém mais precisará da luz da lâmpada, nem da luz do sol, porque a luz do Senhor Deus brilhará sobre eles” (Ap 22,3.5).

Então, e para isso é necessário um ato de fé, no processo da construção do Reino, haverá sofrimento mas com ele instalado, ninguém mais vai sofrer. Isso é o que afirma o autor do apocalipse (21, 4), dizendo que o próprio Deus será o amparo dos perseverante que superarem as maledicências dos promotores de maldades: “Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram!”
 

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro;

E.Books: https://www.calameo.com/accounts/7438195.

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