quinta-feira, junho 26, 2025

Pedro e Paulo: Tu és o Messias!

Reflexões baseadas em:
Atos dos Apóstolos 12,1-11; 2Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19




O que celebramos na solenidade de São Pedro e São Paulo?

Com certeza você dirá que celebramos os dois santos. Mas note que a pergunta esconde uma “pegadinha”!

Os apóstolos Pedro e Paulo são o motivo da celebração. E nós, motivados pelos dois personagens, somos convidados a celebrar o significado de sua ação. Então o que celebramos?

A resposta está no que nos mostram as leituras que Igreja nos propõe. E começa mostrando-nos em Atos do Apóstolos (At 12,1-11). O que vemos aqui?

Vemos a atuação de Pedro, vítima das intrigas dos judeus e de das maquinações de um rei interesseiro e avesso ao povo. Vemos que os poderes constituídos tentam se sobrepor aos interesses do Reino e, para chegar a isso, perseguem aqueles que levam a sério o convite de Jesus, como o fez Pedro. Vemos que a Igreja se une em oração, em favor dos que sofrem, mas que a libertação ocorre quando a vítima se levanta e se põe a caminhar. Vemos isso em Pedro, convidado a sair: seguiu com o anjo sem esperar ser carregado. Vemos, portanto, que Pedro assumiu a caminhada de libertação.

Por fim, Pedro só se deu conta de que o anjo o protegia e guiava quando já tinha feito a caminhada. Só quando já estava livre foi capaz de reconhecer a ação de Deus. Só depois de ter feito a caminhada libertadora foi que se deu conta e percebeu que o “Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava!” Quer dizer: a libertação é dom e graça de Deus, mas quem a realiza somos nós, com o apoio da oração da Igreja. Deus não age por nós; nós é que temos que agir amparados pela oração e pela graça Libertadora.

Na carta de Paulo a Timóteo (2Tm 4,6-8.17-18) o apóstolo mostra ao discípulo como se deve encarar as consequências da opção por Jesus Cristo.

Paulo, um judeu convertido, apaixonado por Jesus Cristo, missionário valoroso e fervoroso, organizador e orientador de comunidades, profundo conhecedor das tradições e dos preceitos do judaísmo, entendeu que a Antiga Aliança findara na atuação de Jesus de Nazaré. E, portanto, as profecias cumpriram-se no jovem galileu. Não havia mais por quê esperar. Tudo estava consumado em Jesus de Nazaré, o Cristo. Por ele e em seu nome, Paulo entendeu que não podia mais esperar e lançou-se na caminhada: comprometeu-se de corpo e alma com a proposta do Reino anunciado por Jesus. Em consequência disso, da mesma forma que ocorrera com Pedro, Paulo também foi perseguido e feito prisioneiro.

Então, novamente, o que celebramos na solenidade de São Pedro e São Paulo?

Ouçamos o que o Espírito nos diz através das leituras. Qual é a cena, em Atos?

Pedro, prisioneiro, é libertado. Mas, antes disso, por que foi aprisionado? Porque o rei, numa estratégia nefasta de sua política interesseira, preferiu uma aparente estabilidade em seu governo. E para isso decidiu agradar um grupinho de religiosos fanáticos. Eis o que lemos em At 4,1-3: “O rei Herodes prendeu alguns membros da Igreja, para torturá-los. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João. E, vendo que isso agradava aos judeus, mandou também prender a Pedro. Eram os dias dos Pães ázimos”.

O que isso nos mostra? Um monarca interesseiro querendo agradar e se beneficiar com o apoio de um grupo de fanáticos. Uma parceria que levou Jesus à morte e, depois de um ano do seu assassinato, se volta contra os amigos de Jesus. Pedro e Paulo, prisioneiros e martirizados são a prova disso: o fanatismo religioso e descomprometido com a realidade sofrida do povo aliada a políticos inescrupulosos gera, invariavelmente, perseguições aos que se dedicam à árdua tarefa delegada por Jesus. Que tarefa é essa? fazer ao pequenino o que se gostaria de fazer ao próprio Jesus, para depois ouvi-lo dizer: “Foi a mim que fizestes!”.

Então, o que celebramos na solenidade de São Pedro e São Paulo?

Se bem entendermos os passos dos apóstolos, podemos dizer que ao celebrar São Pedro e São Paulo estamos celebrando, ao mesmo tempo: a atitude de Pedro que se caracteriza pelo ato de por-se a caminho no processo da construção da liberdade. Sabendo que Deus indica o caminho, mas cabe a cada um, em comunidade, fazer a caminhada. A atitude de Paulo, disposto a caminhar na certeza de estar: ajudando na dinâmica do anúncio com suas cartas e sua pregação; contribuindo para que a proposta de Jesus de Nazaré fosse amplamente conhecida, viajando e anunciando; contribuindo para que a Igreja não morresse no isolamento mesquinho do judaísmo rigorista; construindo o caminho para que o cristianismo se universalizasse… Ambos fizeram isso e muito mais sabendo que o preço era a perseguição e o martírio. Ambos realizaram a obra do Senhor com a certeza expressa por Paulo: “O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos!” (2Tm 4,18).

No dia de São Pedro e São Paulo celebramos o mandato divino pelo qual Pedro é enviado a guardar a Igreja para uni-la ao céu, sabendo que a promessa é do próprio Senhor: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19). Com essa certeza é que Paulo afirma, na sua caminhada final: “Aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça” (2Tm 4,6-8).

E se isso celebramos no dia de São Pedro e São Paulo é porque ambos nos ensinaram a reconhecer o Senhor: “Tu és o Messias!”




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

quarta-feira, junho 18, 2025

Corpo e Sangue do Senhor – Cinco pães e uma multidão

Reflexão baseada em:

Gn 14,18-20; 1Cor 11,23-26; Lc 9,11b-17



Deus pode fazer milagres? Com certeza, afinal de contas, é Deus. É todo poderoso. É Senhor da vida e criador de tudo. Deus pode fazer milagres, quando e onde quiser…

Mas será que Deus quer fazer aquilo que ele nos encarregou de fazer?

Como assim? você pode perguntar. Não estou entendendo! você pode argumentar.

Reflitamos um pouco.

Por qual motivo existimos num mundo maravilhosamente perfeito e com potencialidade para que façamos e produzamos tudo? Já desenvolvemos ciência e tecnologia que nos permitem a produção daquilo que precisamos para sobreviver. Ainda tropeçamos em algumas coisas, mas nosso esforço, conjugado com o esforço de outros, nos permite edificar maravilhas no mundo maravilhoso que recebemos como presente de Deus. E foi Deus que nos deu essa capacidade para crescer. Portanto, existimos para continuar a obra de Deus e realizar aquilo para o quê somos criados.

Com isso estou dizendo que, em relação ao nosso potencial, que é dom divino, já recebemos o MILAGRE: a inteligência e todas as demais condições para o crescimento.

Com isso estou dizendo que, em relação àquilo que nós podemos fazer, Deus não vai agir, pois já nos fez capazes de realizar.

Com isso estou dizendo que, com certeza, Deus nos vai ajudar naquilo que foge ou que vai além da nossa capacidade. E isso sem a menor dúvida! Pode ter certeza, ele age em nós!

Por que estou dizendo isso? Pare melhor celebrar o dia do Preciosíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Ou seja, o dia que celebramos a presença real, plena e verdadeira de Cristo no pão e no vinho consagrados e transubstanciados, deixando de ter apenas a substância de pão e vinho para conter a essência divina. Já não comemos o pão e nem tomamos o vinho, comungamos o corpo e o sangue do Senhor que foi morto e está vivo. O milagre de retomar a vida é confirmado com o milagre da transubstanciação. Isso é milagre! Isso é dom de Deus! Isso é objeto de nossa fé! Isso cremos e convidamos os outros a crer também!

Toda essa conversa só para dizer isso?

Não, isso ainda faz parte do argumento! Do argumento para afirmar que Deus não faz milagres em relação àquilo que nós podemos fazer. Se eu posso fazer, a ação de Deus será fortalecer-me para que eu realize o que tem que ser feito.

Mas que tem isso a ver com a celebração do Corpo e Sangue do Senhor? você pode perguntar.

Em resposta, te pergunto o que lemos, nas leituras que a Igreja nos oferece para esta celebração?

Em Gn 14,18-20 encontramos Abraão sendo abençoado e com a benção do “Deus Altíssimo” foi capaz de produzir e, em resposta e gratidão pela capacidade de produzir, Abraão entregou “o dízimo de tudo”. Ou seja, Abraão não buscou milagres, assumiu sua capacidade, produziu e, agradecido, entregou o dízimo.

Algo semelhante vamos ver nas palavras de Paulo, falando com a comunidade de Corinto (1Cor 11,23-26). Aqui o apóstolo mostra o milagre. E para realizar isso Jesus não precisou da ajuda de ninguém, pois o fez em nosso favor. Sendo Deus com o Pai e o Espírito, ofereceu o dom de si mesmo. Sobre o pão disse: “isto é meu corpo”, sobre o vinho disse ser “a nova aliança em meu nome”. Esse é o compromisso de Deus: alimentar para a vida. Alimentar para aguardar seu retorno. E já não se trata mais de qualquer pão, mas é o pão da esperança, da memória, da presença, da certeza… da proclamação da “morte do Senhor, até que ele venha”.

Este é o pão eucarístico, em agradecimento. Realizado como dom de Deus. O pão produzido pelo ser humano, agora é pão do céu. Sobre a obra humana, pão e vinho, “frutos da terra e do trabalho do homem”, acontece a ação de Deus pela qual nos oferece seu corpo.

Um corpo que, pela sua singeleza não demonstra aquilo que é: Corpo e Sangue do Senhor. Oferecidos não por nossos méritos, mas por graça e dom da vontade de Deus.

Neste ponto você me pergunta: mas afinal o que você quis dizer quando indagou: será que Deus quer fazer aquilo que ele nos encarregou de fazer?

A resposta vem do próprio Jesus. Não estou inventando. Apenas entendendo as palavras de Jesus que, de acordo com Lucas 9,11b-17, “acolheu as multidões, falava-lhes sobre o Reino de Deus e curava todos os que precisavam”. Um Jesus que atende e entende a preocupação dos apóstolos, preocupados com a multidão que, seguramente, está com fome “num lugar deserto”.

Jesus diz: por que eu teria que fazer aquilo que é a função de vocês? Vocês podem fazer isso: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Eles não se recusaram, apenas não entenderam o potencial que ali havia. É então que Jesus orienta: que todos se organizem.

E assim, diante do povo organizado Jesus completou a lição: eu faço a oração e vocês fazem a partilha! Todos saíram satisfeitos e ainda sobrou comida para alimentar muita gente. Todos entenderam que para alimentar a multidão, não precisa de milagre. Todos entenderam é necessário, apenas, que haja partilha. Havendo partilha, aquele que tem com sobra reparte com quem não tem… e sobra alimento.

Para isso não precisa de milagre, é necessário apenas que haja conversão, pois o milagre foi Jesus se dar como pão e vinho. Dar alimento é tarefa nossa.

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.



Os nomes escritos no céu

Reflexões baseadas em:  Is 66,10-14; Gl 6,14-18; Lc 10,1-12.17-20   Alegrai-vos e exultai! Esse é o grito estimulante do profeta Isaías (I...