Reflexões baseadas em:
Atos dos Apóstolos 12,1-11; 2Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19
Atos dos Apóstolos 12,1-11; 2Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19
O que celebramos na solenidade de São Pedro e São Paulo?
Com certeza você dirá que celebramos os dois santos. Mas note que a pergunta esconde uma “pegadinha”!
Os apóstolos Pedro e Paulo são o motivo da celebração. E nós, motivados pelos dois personagens, somos convidados a celebrar o significado de sua ação. Então o que celebramos?
A resposta está no que nos mostram as leituras que Igreja nos propõe. E começa mostrando-nos em Atos do Apóstolos (At 12,1-11). O que vemos aqui?
Vemos a atuação de Pedro, vítima das intrigas dos judeus e de das maquinações de um rei interesseiro e avesso ao povo. Vemos que os poderes constituídos tentam se sobrepor aos interesses do Reino e, para chegar a isso, perseguem aqueles que levam a sério o convite de Jesus, como o fez Pedro. Vemos que a Igreja se une em oração, em favor dos que sofrem, mas que a libertação ocorre quando a vítima se levanta e se põe a caminhar. Vemos isso em Pedro, convidado a sair: seguiu com o anjo sem esperar ser carregado. Vemos, portanto, que Pedro assumiu a caminhada de libertação.
Por fim, Pedro só se deu conta de que o anjo o protegia e guiava quando já tinha feito a caminhada. Só quando já estava livre foi capaz de reconhecer a ação de Deus. Só depois de ter feito a caminhada libertadora foi que se deu conta e percebeu que o “Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava!” Quer dizer: a libertação é dom e graça de Deus, mas quem a realiza somos nós, com o apoio da oração da Igreja. Deus não age por nós; nós é que temos que agir amparados pela oração e pela graça Libertadora.
Na carta de Paulo a Timóteo (2Tm 4,6-8.17-18) o apóstolo mostra ao discípulo como se deve encarar as consequências da opção por Jesus Cristo.
Paulo, um judeu convertido, apaixonado por Jesus Cristo, missionário valoroso e fervoroso, organizador e orientador de comunidades, profundo conhecedor das tradições e dos preceitos do judaísmo, entendeu que a Antiga Aliança findara na atuação de Jesus de Nazaré. E, portanto, as profecias cumpriram-se no jovem galileu. Não havia mais por quê esperar. Tudo estava consumado em Jesus de Nazaré, o Cristo. Por ele e em seu nome, Paulo entendeu que não podia mais esperar e lançou-se na caminhada: comprometeu-se de corpo e alma com a proposta do Reino anunciado por Jesus. Em consequência disso, da mesma forma que ocorrera com Pedro, Paulo também foi perseguido e feito prisioneiro.
Então, novamente, o que celebramos na solenidade de São Pedro e São Paulo?
Ouçamos o que o Espírito nos diz através das leituras. Qual é a cena, em Atos?
Pedro, prisioneiro, é libertado. Mas, antes disso, por que foi aprisionado? Porque o rei, numa estratégia nefasta de sua política interesseira, preferiu uma aparente estabilidade em seu governo. E para isso decidiu agradar um grupinho de religiosos fanáticos. Eis o que lemos em At 4,1-3: “O rei Herodes prendeu alguns membros da Igreja, para torturá-los. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João. E, vendo que isso agradava aos judeus, mandou também prender a Pedro. Eram os dias dos Pães ázimos”.
O que isso nos mostra? Um monarca interesseiro querendo agradar e se beneficiar com o apoio de um grupo de fanáticos. Uma parceria que levou Jesus à morte e, depois de um ano do seu assassinato, se volta contra os amigos de Jesus. Pedro e Paulo, prisioneiros e martirizados são a prova disso: o fanatismo religioso e descomprometido com a realidade sofrida do povo aliada a políticos inescrupulosos gera, invariavelmente, perseguições aos que se dedicam à árdua tarefa delegada por Jesus. Que tarefa é essa? fazer ao pequenino o que se gostaria de fazer ao próprio Jesus, para depois ouvi-lo dizer: “Foi a mim que fizestes!”.
Então, o que celebramos na solenidade de São Pedro e São Paulo?
Se bem entendermos os passos dos apóstolos, podemos dizer que ao celebrar São Pedro e São Paulo estamos celebrando, ao mesmo tempo: a atitude de Pedro que se caracteriza pelo ato de por-se a caminho no processo da construção da liberdade. Sabendo que Deus indica o caminho, mas cabe a cada um, em comunidade, fazer a caminhada. A atitude de Paulo, disposto a caminhar na certeza de estar: ajudando na dinâmica do anúncio com suas cartas e sua pregação; contribuindo para que a proposta de Jesus de Nazaré fosse amplamente conhecida, viajando e anunciando; contribuindo para que a Igreja não morresse no isolamento mesquinho do judaísmo rigorista; construindo o caminho para que o cristianismo se universalizasse… Ambos fizeram isso e muito mais sabendo que o preço era a perseguição e o martírio. Ambos realizaram a obra do Senhor com a certeza expressa por Paulo: “O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos!” (2Tm 4,18).
No dia de São Pedro e São Paulo celebramos o mandato divino pelo qual Pedro é enviado a guardar a Igreja para uni-la ao céu, sabendo que a promessa é do próprio Senhor: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,19). Com essa certeza é que Paulo afirma, na sua caminhada final: “Aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça” (2Tm 4,6-8).
E se isso celebramos no dia de São Pedro e São Paulo é porque ambos nos ensinaram a reconhecer o Senhor: “Tu és o Messias!”
Neri de Paula Carneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
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