quarta-feira, junho 18, 2025

Corpo e Sangue do Senhor – Cinco pães e uma multidão

Reflexão baseada em:

Gn 14,18-20; 1Cor 11,23-26; Lc 9,11b-17



Deus pode fazer milagres? Com certeza, afinal de contas, é Deus. É todo poderoso. É Senhor da vida e criador de tudo. Deus pode fazer milagres, quando e onde quiser…

Mas será que Deus quer fazer aquilo que ele nos encarregou de fazer?

Como assim? você pode perguntar. Não estou entendendo! você pode argumentar.

Reflitamos um pouco.

Por qual motivo existimos num mundo maravilhosamente perfeito e com potencialidade para que façamos e produzamos tudo? Já desenvolvemos ciência e tecnologia que nos permitem a produção daquilo que precisamos para sobreviver. Ainda tropeçamos em algumas coisas, mas nosso esforço, conjugado com o esforço de outros, nos permite edificar maravilhas no mundo maravilhoso que recebemos como presente de Deus. E foi Deus que nos deu essa capacidade para crescer. Portanto, existimos para continuar a obra de Deus e realizar aquilo para o quê somos criados.

Com isso estou dizendo que, em relação ao nosso potencial, que é dom divino, já recebemos o MILAGRE: a inteligência e todas as demais condições para o crescimento.

Com isso estou dizendo que, em relação àquilo que nós podemos fazer, Deus não vai agir, pois já nos fez capazes de realizar.

Com isso estou dizendo que, com certeza, Deus nos vai ajudar naquilo que foge ou que vai além da nossa capacidade. E isso sem a menor dúvida! Pode ter certeza, ele age em nós!

Por que estou dizendo isso? Pare melhor celebrar o dia do Preciosíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Ou seja, o dia que celebramos a presença real, plena e verdadeira de Cristo no pão e no vinho consagrados e transubstanciados, deixando de ter apenas a substância de pão e vinho para conter a essência divina. Já não comemos o pão e nem tomamos o vinho, comungamos o corpo e o sangue do Senhor que foi morto e está vivo. O milagre de retomar a vida é confirmado com o milagre da transubstanciação. Isso é milagre! Isso é dom de Deus! Isso é objeto de nossa fé! Isso cremos e convidamos os outros a crer também!

Toda essa conversa só para dizer isso?

Não, isso ainda faz parte do argumento! Do argumento para afirmar que Deus não faz milagres em relação àquilo que nós podemos fazer. Se eu posso fazer, a ação de Deus será fortalecer-me para que eu realize o que tem que ser feito.

Mas que tem isso a ver com a celebração do Corpo e Sangue do Senhor? você pode perguntar.

Em resposta, te pergunto o que lemos, nas leituras que a Igreja nos oferece para esta celebração?

Em Gn 14,18-20 encontramos Abraão sendo abençoado e com a benção do “Deus Altíssimo” foi capaz de produzir e, em resposta e gratidão pela capacidade de produzir, Abraão entregou “o dízimo de tudo”. Ou seja, Abraão não buscou milagres, assumiu sua capacidade, produziu e, agradecido, entregou o dízimo.

Algo semelhante vamos ver nas palavras de Paulo, falando com a comunidade de Corinto (1Cor 11,23-26). Aqui o apóstolo mostra o milagre. E para realizar isso Jesus não precisou da ajuda de ninguém, pois o fez em nosso favor. Sendo Deus com o Pai e o Espírito, ofereceu o dom de si mesmo. Sobre o pão disse: “isto é meu corpo”, sobre o vinho disse ser “a nova aliança em meu nome”. Esse é o compromisso de Deus: alimentar para a vida. Alimentar para aguardar seu retorno. E já não se trata mais de qualquer pão, mas é o pão da esperança, da memória, da presença, da certeza… da proclamação da “morte do Senhor, até que ele venha”.

Este é o pão eucarístico, em agradecimento. Realizado como dom de Deus. O pão produzido pelo ser humano, agora é pão do céu. Sobre a obra humana, pão e vinho, “frutos da terra e do trabalho do homem”, acontece a ação de Deus pela qual nos oferece seu corpo.

Um corpo que, pela sua singeleza não demonstra aquilo que é: Corpo e Sangue do Senhor. Oferecidos não por nossos méritos, mas por graça e dom da vontade de Deus.

Neste ponto você me pergunta: mas afinal o que você quis dizer quando indagou: será que Deus quer fazer aquilo que ele nos encarregou de fazer?

A resposta vem do próprio Jesus. Não estou inventando. Apenas entendendo as palavras de Jesus que, de acordo com Lucas 9,11b-17, “acolheu as multidões, falava-lhes sobre o Reino de Deus e curava todos os que precisavam”. Um Jesus que atende e entende a preocupação dos apóstolos, preocupados com a multidão que, seguramente, está com fome “num lugar deserto”.

Jesus diz: por que eu teria que fazer aquilo que é a função de vocês? Vocês podem fazer isso: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Eles não se recusaram, apenas não entenderam o potencial que ali havia. É então que Jesus orienta: que todos se organizem.

E assim, diante do povo organizado Jesus completou a lição: eu faço a oração e vocês fazem a partilha! Todos saíram satisfeitos e ainda sobrou comida para alimentar muita gente. Todos entenderam que para alimentar a multidão, não precisa de milagre. Todos entenderam é necessário, apenas, que haja partilha. Havendo partilha, aquele que tem com sobra reparte com quem não tem… e sobra alimento.

Para isso não precisa de milagre, é necessário apenas que haja conversão, pois o milagre foi Jesus se dar como pão e vinho. Dar alimento é tarefa nossa.

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.



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