Por que alguém se desloca de sua casa, num domingo, para votar?
O que leva uma pessoa a querer eleger este ou aquele candidato sendo que, muitas vezes, nem conhece o candidato em quem vai votar?
Alguém vai dizer que isso ocorre porque vivemos numa democracia.
Vai dizer que essa pessoa está exercendo seu direito político… Mas o que é isso que as pessoas chamam “Democracia”? Que direito é esse? De que política está se falando?
Em tese e de modo muito simplificado, democracia é um modelo político pelo qual o povo escolhe, pelo voto direto, aqueles que vão exercer atividades de gerar leis ou executá-las com a finalidade de assegurar melhores condições de vida para todos que fazem parte desse povo.
E a escolha da pessoa que vai fazer isso se dá pelo voto.
E isso implica dizer que o voto é uma delegação de poderes.
O eleitor é detentor de direitos e um deles é o direito de delegar seu direito de querer melhores condições de vida a outra pessoa que deverá desenvolver atividades para atender aos interesse do eleitor que lhe delegou poderes.
Evidentemente, essa pessoa que recebe a delegação (esse delegado) também tem seus direitos e também defende interesses. É necessário destacar, entretanto, que nem sempre os interesses do delegado correspondem aos interesses do eleitor… daquele eleitor, que num domingo saiu de casa para votar e que, muitas vezes, nem conhece o candidato…!
E essa divergência ou pluralidade de interesses ocorre porque o delegado tem os próprios interesses (que não são, necessariamente, iguais aos do eleitor); porque já se comprometeu com outros interesses (e não os confessa ao eleitor); porque recebe muitas delegações (são muitos os eleitores, com interesses diversos…); porque o delegado, antes de candidatar-se a esse cargo, já havia pactuado outros interesses, com um grupo específico de eleitores cujos interesses, na maioria dos casos, se contrapõem aos interesses daquele eleitor do domingo…
O fato é que esse delegado recebe muitas delegações (poderíamos também dizer que o voto é uma procuração) de muitas pessoas, com interesses diversos. Daí a pergunta: como vai atender às expectativas de cada um de seus eleitores?
Não vai!
De fato e sem rodeios, o candidato que se apresenta para receber as procurações, não está interessado em seus outorgantes! Ao se lançar candidato tem os próprios interesses e apenas está em busca de legitimidade (o voto dos outorgantes, os eleitores) para satisfazer seus interesses. Mas ele já sabe que esses interesses não são os dos eleitores. Repetindo, estes servem, apenas, para lhe conferir legitimidade! Afinal, estamos numa democracia!
Além disso, e esta é outra face do mesmo problema: quem determina o que é "bom para todos", se nem todos participam das decisões?
Além disso, o que é bom para o trabalhador não é o mesmo “bom” para o patrão. O que é bom para o produtor da agricultura familiar (que labuta junto com a família) não é o mesmo “bom” para o latifundiário que sobrevive de financiamentos para sua monocultura. O que é bom para o professor que se dedica ao ensino, não é o mesmo “bom” para o atual sistema escolar que promove aprovação em massa gerando essa multidão de analfabeto com diploma na mão. O que é bom para o estudante aprender (embora ele nem sempre se dê conta) não é o mesmo “bom” para os empresários do sistema de escola teleguiada, uniforme e sem capacidade crítica…
É assim que vamos nos deparar com a pessoa eleita. É esse individuo, junto com os outros que também foram eleitos (receberam delegação/procuração), que vai decidir o que é bom. Ele é quem decide o que é bom e para quem isso vai ser bom. E vai decidir isso de acordo com os seus interesses, pois para isso se fez candidato e buscou a eleição. E suas decisões serão pautadas por esses interesses e, quando isso não for possível imediatamente, o delegado alia-se a outros delegados para selecionaram os interesses que são comuns e que serão atendidos.
E os interesses daquele eleitor, que saiu de casa para votar, num domingo?
Ele, como também o restante da grande massa, vai continuar sendo apenas mais um na massa.
Talvez isso explique o porquê de tanta gente anulando o voto, votando em branco… ou nem comparecendo para votar. Talvez a massa esteja se dando conta de que é só isso: massa manobrável!
Talvez esse eleitor do domingo, tenha percebido o engodo da democracia. Talvez tenha percebido que essa democracia que lhe apresentaram não representa as aspirações do “demo” (o povo), mas é só uma forma pela qual o “cratos” (poder) do capital deseja sugar o sangue do eleitor, do filho do eleitor, dos netos do eleitor…
Quem sabe, um dia, aquele eleitor, que num domingo, sai de casa pra votar, acorde e perceba que passou a vida sendo ludibriado… quem sabe, um dia, ele aprenda a dizer: não!
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO
terça-feira, outubro 29, 2024
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