(Reflexões a partir de: Is 53,10-11; Hb 4,14-16; Mc 10,35-45)
Em tempos de rivalidade política, onde se deve assentar ou por onde deve andar o discípulo de Jesus: pela direita ou pela esquerda?
Algo parecido foi o que pediram os filhos de Zebedeu (Mc 10,35-45). Ocupados apenas com seus interesses pediram para se assentar, um à direita e outro à esquerda de Jesus. Foram, os dois reprovados! Essa decisão cabe ao Pai e está destinada não a quem pede, mas a quem merece!
Nesse ponto, recordando-se de Isaías (Is 53,10-11), Jesus ensina o verdadeiro lugar do servo de Deus. O profeta mostra isso com a imagem do Servo Sofredor.
Esse servo, por saber cumprir a vontade do Pai “terá descendência duradoura, e fará cumprir com êxito a vontade do Senhor” (Is 53,10). Ele não pediu privilégios, pelo contrário: ao se deparar com dificuldades encarou-as sem vacilar e, apesar das dores, foi em frente. Essa sua coragem de assumir as dores e riscos da vida foi-lhe imputada como condição para a vitória, para a superação das dificuldades, para a glória final, como ensina o profeta: “Por esta vida de sofrimento, alcançará luz e uma ciência perfeita”(Is 53,11).
O mérito desse “servo sofredor” não foi ter pedido isto ou aquilo, este ou aquele privilégio, esta ou aquela regalia… seu mérito foi ter aceitado as dores e pedras do caminho e, por esse motivo o Senhor o reconheceu como “justo”. E sua justiça é o caminho para o resgate das culpas de outros: “Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas” (Is 53,11).
Mas, alguém pode perguntar: o que isso tem a ver com a direita ou a esquerda?
Quase nada. A não ser o fato de que ao ser indagado sobre a direita ou a esquerda, Jesus indica outra direção. E essa direção é reafirmada em Hebreus (4,14-16). Uma direção que é a própria pessoa de Jesus, o “sumo sacerdote capaz de se compadecer das nossas fraquezas” (Hb 4,15).
E quais são essas nossas fraquezas, das quais Jesus se compadece? (Lembrando que aquele que se “compadece” é aquele que sofre junto, padece com o que sofre…) E Jesus se compadece porque ao se fazer um de nós assumiu nossas dores.
E isso quem o afirma é ainda carta aos hebreus: Jesus, o cordeiro santo, o “sumo sacerdote”, o Filho de Deus, “capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado” (Hb 4,15). Por esse motivo foi capaz de nos resgatar: dos nossos pecados e das nossas fraquezas. Das nossas ambições pessoais (querer isto ou aquilo, em benefício próprio); das nossas mesquinharias (distanciar-se dos companheiros de jornada para solicitar regalias); do nosso desprezo em relação ao desejo e direito dos demais, pois querer privilégios às escondidas é uma afronta à decência e evidencia a incompetência.
Isso foi o que fizeram os “filhos de Zebedeu” e como o fazem inúmeras pessoas (principalmente no serviço público) agarrando-se aos cabides dos empregos conseguidos não pela qualificação nem pela competência, mas ao aceitar ser capacho, aceitar o cargo de “baba ovo”… com a missão de ajudar a encobrir malandragens e para ajudar a elogiar quem não tem mérito próprio. Quando um chefe de setor, um político, um administrador de qualquer órgão ou empresa, precisa de bajuladores é porque não está cumprindo com sua função ou papel e usa do bajulador para ser exaltado na qualidade que não tem.
Diante dessa atitude de tentativa de bajulação, foi que Jesus reagiu. Mostrou como agem os “chefes das nações” e “os grandes” que oprimem e tiranizam o povo. E afirma categoricamente: “entre vós não deve ser assim!”. Por isso, Jesus reuniu os discípulos para uma lição definitiva. “Jesus os chamou e disse: ‘Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos’” (Mc 10,42-44).
Então, o que conta para ser discípulo de Jesus?
A capacidade de ser diferente dos “chefes das nações” e dos “grandes”. Por que ser diferente? Por que estes oprimem e tiranizam ao povo. E fazem isso porque não se deixam guiar pelos valores ensinados pelo Mestre. guiam-se pelas suas ambições.
Além disso, o discípulo é aquele que se faz servo, pois só quem é capaz de servir é capaz de se compadecer, de ter compaixão, de se comprometer, de compartilhar. E essas atitudes do servo do Senhor lhe permitem aproximar-se do trono do cordeiro, pois foi isso que ele ensinou, não com palavras bonitas, mas com a própria vida.
Por fim, quando alguém desejar o privilégio de sentar-se à direita ou à esquerda, deve lembrar-se da lição do Mestre: para “ser o primeiro”, antes disso tem que se fazer escravo de todos, tem que servir a todos, tem que desejar o privilégio de servir, pois “quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos” (Mc 10-44-45).
Queremos nos aproximar do trono do Senhor? Então cumpramos com os requisitos apresentados por Jesus. Tendo cumprido essas condições, “Aproximemo-nos, então, com toda a confiança, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça de um auxílio no momento oportuno” (Hb 4,16).
Então, em tempos de disputas pela direita ou pela esquerda, pelo centro, por ser situação ou oposição… nestes tempos conturbados é imprescindível ouvir de Jesus: “Vós não sabeis o que pedis”. E Jesus complementa, para nós: não importa o lugar social. Importa a capacidade de servir!
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação. Filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.
Mestre em educação. Filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.
Jesus responde, aos seus, q não sabeis o q pede, pois sentar se a direita ou a esquerda isso cabe ao pai. Não a ele, pois o lugar q ele iria se sentar era o trono dos céus não no trono do palácio, do governo assim como pensava os seus q lhes pedia a direita ou a esquerda.
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