quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Assunção de Nossa Senhora: Realizou-se a salvação

(Apocalipse 11,19a; 12,1.3-6a.10ab; 1Coríntios 15,20-27a; Lucas 1,39-56)




A celebração da Assunção de Nossa Senhora faz da liturgia de hoje uma solenidade da esperança. De alcançar o Reino, sim, mas também de viver com dignidade aqui e agora.

O livro do apocalipse mostra isso (11,19a;12,1-6a.10ab). As dificuldades, simbolizadas no do dragão ameaçando a mulher grávida (Ap 12,1) são superadas com o nascimento da criança. A vida nova, o Filho de Deus, além de uma promessa, é também uma esperança. Por isso, Deus arrebata a criança para junto de si. É a esperança de vencer as dores do dia a dia.

O poder destrutivo do dragão da maldade, (Ap 12,4) torna-se impotente diante do poder salvífico de Deus. O Filho que veio para guiar a humanidade nasce em segurança. O “filho homem, que veio para governar todas as nações com cetro de ferro” (Ap 12,5) manifesta-se com promessa e sinal de esperança.

A mãe dessa criança também recebendo proteção divina. “A mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar” (Ap 12,6). O lugar preparado para ela é o seio de Deus. É o que celebramos como Assunção: a mãe sendo levada para junto de Deus.

Com a mãe e Filho protegidos, o anjo protetor pode anunciar: "Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus e o poder do seu Cristo" (Ap 12,10). A mãe e a criança, arrebatados, protegidos pelo poder de Deus indicam o nosso caminho: o convívio com Deus alimentando a esperança superar as dificuldades cotidianas.

A mulher protegida por Deus tem uma dupla representação: primeiro representa a Igreja, o povo de Deus a caminho que se ampara e protege sob a sombra do poder divino; e também representa a mãe de Jesus. E celebramos isso porque acreditamos que suas virtudes lhe conferiram prestígio para ser levada para junto de Deus. E nisso consiste nossa esperança: da mesma forma que Jesus voltou para o Pai, na sua ressurreição, assim também, convidou e levou para junto de si aquela que o carregou no ventre, depois dela cumprir sua jornada terrena. Ela nos antecedeu por seus méritos e pelos méritos da graça divina, como a nos dizer: você também pode! E a esperança consiste justamente nisso: a morte não é o fim; é só um momento de transição desta vida para a vida definitiva junto ao Pai.

A esperança também está na carta de Paulo (1Cor 15,20-26.28). Ele ensina: “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” (1 Cor, 15,20). Ele é o primeiro, para nos mostrar o caminho: que Ele percorreu; por onde levou a mãe e por onde nos levará.

E o apóstolo diz isso como a dizer que a vida no mundo é importante, sem dúvida, mas a morte não é menos importante. Por ela é que se chega ao Pai. O próprio Jesus, para retornar ao Pai, passou pela morte: “Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda” (1 Cor, 15,23). E, na batalha pela vida, prevalece a esperança expressa na vitória sobre a morte. “O último inimigo a ser destruído é a morte” (1 Cor 15,26). Com a morte da morte haverá plenitude de vida.

E a Igreja coloca Maria, a mãe de Jesus, como modelo da vitória da vida sobre a morte. E a solenidade da Assunção de Nossa Senhora tem essa finalidade: indicar o caminho. Ao passar pelo portal da morte, da mesma forma que a mãe do Senhor, seremos assumidos pela Trindade Santa no reino definitivo. Assim, podemos dizer que a mãe de Jesus é a precursora. Ela foi chamada ao céu para olharmos seu modelo de vida e assim termos setas indicadoras do caminho a percorrer: com dificuldades, mas também com a certeza da vitória.

E qual é o caminho indicado por Maria Assunta ao Céu?

Ele pode ser lido no programa de vida apresentado quando Maria se pôs a serviço de Isabel (1,39-56). Aquela adolescente, prestes a dar a luz, enfrentando suas dificuldades, não exitou em pegar a estrada para ajudar Isabel. A vida em favor do outro: essa é a seta indicativa. Esse é o caminho. Esse é o sentido da vida. Esse é o critério para merecer seu amor que se “estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam” (Lc 1,50).

Maria sabia disso de forma plena. E o afirma ao exclamar: “O Poderoso fez por mim maravilhas e Santo é o seu nome!” (Lc 1,49). As maravilhas não são somente em favor da Mãe. Estão, também, à nossa disposição, pois osmos filhos do mesmo “Poderoso”.

Além disso, a esperança se manifesta numa prática de justiça e equidade. O Senhor faz maravilhas, em favor dos que o temem (praticam suas obras) porque “derruba os orgulhosos”; “exalta os humildes”; “sacia os famintos”; “despede os ricos sem nada” (Lc 1,51-53).

Maria é modelo, por suas virtudes; Maria é precursora, por suas ações; Maria é sinal de esperança, porque carregou Jesus no ventre e nos braços; Maria é esperança porque intercedeu em favor dos menos favorecidos. E, nossa fé esperançosa nos ensina que Maria é nossa intercessora, como “advogada nossa”.

Confiamos no Deus Trino e, justamente por isso alimentamos a esperança da intercessão de Maria. Por sua intercessão sabemos que Deus continua nos salvando no poder do Filho que nos ilumina pelo Espírito… e nos apresenta Maria como primeira seguidora do Filho.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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