quarta-feira, 6 de abril de 2022

Ramos – Tornou-se igual aos homens

(Reflexões baseadas em: Isaías 50,4-7; Filipenses 2,6-11; Lucas 22,14-23,56)




A celebração do domingo de Ramos chama nossa atenção para a condição humana de Jesus. E quem nos informa isso é Paulo na carta aos Filipenses (2,6-11). E, ao mesmo tempo, o Profeta Isaías (50,4-7) mostra alguns aspectos da humanidade desse rapaz, tão diferente e, ao mesmo tempo, tão igual a todas as pessoas. Não esquecendo que o próprio Jesus (Lucas 22,14-23,56) demonstra sua humanidade ao se oferecer na partilha do pão e do vinho, na ceia.

Esse rapaz, o jovem de Nazaré, o Galileu, o Filho do Carpinteiro, o Filho de Maria, esposa de José… esse rapaz saiu por aí… e falava e curava e ensinava e anunciava a proximidade do Reino e dizia que todos são chamados para esse Reino e que para entrar no Reino tem que seguir seus passos… numa opção definitiva: promover a transformação das condições e relações entre as pessoas, fazendo com que estas relações passem a ser fundamentadas no amor, realizadas com amor, movidas pelo amor… amorizando tudo!

Esse rapaz dizia que seus seguidores deveriam agir, continuando a realizar suas obras: falar das coisas divinas que estão entre os serem humanos; curar as dores do corpo e da alma; ensinar os caminhos que conduzem ao Pai; anunciar a proximidade do Reino e, como ele, se preciso dar a vida para que o Reino de Amor se instale…

E aqueles que se fizeram chamar Cristãos, ao longo dos últimos vinte séculos, vêm tentando cumprir esse preceito; vêm tentando vivenciar esse ensinamento.

Nestas alturas alguém pode perguntar: Que tem isso a ver com o domingo de Ramos?

Antes de responder, e para começar a responder, é bom lembrar que esse rapaz foi chamado de louco, por causa de suas ideias. Foi perseguido por causa de suas pregações. Foi preso por causa de suas afirmações e foi condenado por causa de seus ensinamentos. Mesmo assim muita gente o seguiu. Muitos acreditaram. E, ao longo destes últimos vinte séculos, muita gente trilhou seus passos e deu a vida por suas ideias.

Por isso é que tudo tem a ver. E tem a ver justamente com a proposta de Jesus.

Só que nem todos entenderam a proposta. E os que não a entenderam o receberam festivamente, quando entrou em Jerusalém. E, por não terem entendido sua proposta, festejaram como Mestre, quando ele ensinou o caminho para ser discípulo: “O Senhor Deus deu-me língua adestrada, para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida; ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo.” (Is 50,4). Somete quem se faz discípulo aprende a usar o dom da palavra (língua) para dizer boas palavras! Mas quem não o entende cria uma fé de aparências e de luxo.

Não é essa a proposta de Jesus e nisso está sua humanidade. Mesmo sendo Deus, fez-se homem; sofreu como homem. Por esse motivo compadeceu-se do ser humano. Por ser um Deus amoroso, fez-se homem para mostrar ao ser humano os caminhos da superação. Com essa perspectiva é que entendemos seu sofrimento salvador.

Diz o apóstolo Paulo: Jesus abriu mão da sua condição divina “tornando-se igual aos homens” (Fl 2,7). E como um homem, Jesus aceitou a humilhação da morte na cruz. Como ser humano, naturalmente morreria, mas ele deu novo sentido à morte: sua morte não foi ao fim de uma vida tranquila depois de ter feito o bem. Pelo contrário: no auge da vida ele a ofereceu em favor de todos. E foi essa oferta que o Pai levou em consideração. Por causa dessa morte, resultado de sua doação em favor de todos, foi que “Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima de todo nome” (Fl 2,9).

Outra amostra de sua humanidade, Jesus a apresenta em sua despedida. Confessa que desejou comer a ceia com os discípulos, e sabe que vai sofrer. Sabe que essa é uma despedida. Mas também sabe que esse é o caminho para o Reino, para uma Ceia eterna, na Páscoa definitiva (Lc 22,15-16). E nisso aparece mais um gesto humano, na ação de Jesus: deixar uma lembrança no abraço de despedida. Foi o que fez!

Na partilha do pão e do vinho, recebidos da graça divina, criou um novo sentido para o pão, para o vinho e para a própria partilha: o vinho passa a ser sangue, o pão torna-se corpo e a partilha é o próprio gesto de se doar. Ao entregar o cálice, disse para reparti-lo como “a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós”. O mesmo fez ao partir o pão. Entregou-o como seu corpo: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós” (Lc 22,17-20).

É o gesto de quem parte mas quer permanecer. E, para permanecer, fez-se pão e vinho. Tudo isso porque, mesmo sendo de condição divina, tornou-se igual aos homens!

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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