sexta-feira, abril 01, 2022

Quaresma 5 – Isto diz o senhor

(Reflexões baseadas em: Isaías 43,16-21; Filipenses 3,8-14; João 8,1-11)





Por que Jesus não deu atenção aos acusadores da mulher adúltera (João 8,1-11) e continuou escrevendo no chão, mesmo quando eles pretendiam apedrejá-la, segundo a lei de Moisés?

O que Jesus escrevia no chão, enquanto os acusadores esbravejavam contra a vida da mulher?

Qual é a atitude de Jesus diante dos pecadores e como ele responde aos que tentam condená-los?

Por que Jesus age dessa forma e não se comporta como os doutores da lei?

Essas são algumas das indagações que podem ser feitas, se quisermos desenvolver uma fé esclarecida; se quisermos aderir de corpo e alma à proposta de Jesus.

E a resposta às indagações nos são oferecidas pelo próprio Senhor, ao se dirigir à mulher prostrada à sua frente. Primeiro ele se dirige à mulher, indagando sobre os acusadores: “Ninguém te condenou?” E ela, certamente tremendo de medo: “Ninguém, Senhor”. Nessa hora é que Jesus explica o motivo de sua postura: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,10-11).

Condenar a mulher pecadora, não é o objetivo de Jesus. Deus não criou este mundo maravilhoso, pondo nele o ser humano como o ponto mais alto da criação, para condená-lo. Não é para a condenação que o ser humano existe, mas para a adesão ao plano de Deus, para o seguimento de Jesus Cristo, para ajudar na edificação do Reino.

E como se faz isso? Aderindo à proposta do Reino de Deus. E o que é o Reino de Deus? A resposta foi dada por Jesus ao longo de sua atuação: o mandamento do amor vivido em caráter universal.

Por isso Jesus diz: “Não te condeno”. E diz mais, ele acrescenta: “Não peques mais!”

Quer dizer: Deus oferece o perdão a todo aquele que, ao perceber que caiu, pede perdão. Deus sabe que a queda se deve às fraquezas e as fraquezas (cair em tentação) é característica humana.

E foi em sintonia com a fraqueza humana, mostrando os caminhos para o fortalecimento, que Jesus ofereceu sua vida: para nos livrar do pecado, para ensinar que a superação das fraquezas passa pelo sofrimento. Por isso, ao dizer “não peques mais” disse também: “Eu te perdoo”. E, certamente continuou falando à mulher: “meu perdão é um convite para que você se afaste daquilo que pode te lavar ao pecado, pois o pecado leva à morte. Fique comigo para ter vida”.

O apedrejamento seria a morte. Ao evitar que a mulher fosse apedrejada, Jesus lhe oferece vida, nova vida. Mas, para isso: “Não peques mais”. Quer dizer, mude de vida! A vida envolvida no pecado leva à morte, não do corpo, mas da eternidade. Só o seguimento de Jesus mantém a vida e o vivente no caminho da vida. A vida que se torna plena, depois da morte.

Isso nos ajuda a entender o que afirma Isaías (43,16-21), ao exaltar os feitos de Deus para com seu povo.

E faz isso para exaltar a libertação do povo que estava em situação de opressão e de morte; para conduzi-lo em direção à vida. Para que esse povo tenha vida, diz o profeta, oferecendo sua voz ao Salvador: “Fiz brotar água no deserto e rios na terra seca para dar de beber a meu povo, a meus escolhidos. Este povo, eu o criei para mim e ele cantará meus louvores” (Is 43,20-21).

Aqueles que caminham para a vida plena cantam os louvores de Deus pois sabem que receberam a vida como dom de Deus.

Em nome dessa vida e direcionando-se para essa meta, prometida por Jesus, é que o apóstolo Paulo faz sua aposta (Filipenses 3,8-14).

Notemos a radicalidade de sua aposta: Tudo é nada diante da proposta e promessa do Senhor: “Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele eu perdi tudo. Considero tudo como lixo”. A aparente perda de tudo, significa um ganho supremo, pois isso implica fazer a aposta “para ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele” (Fl 3,8).

Então voltemos à nossa indagação inicial: Por que Jesus não deu atenção aos acusadores da mulher adúltera e continuou escrevendo no chão? O que escrevia?

Sabemos que Jesus não quer a condenação e morte, mas a contrição e a vida. Talvez por isso é que, passou a escrever na areia alguns sinais de vida ao invés de confrontar os acusadores que desejavam a morte. Talvez tenha escrito que mais grave do que um erro carnal é a traição em relação à vida, um dom de Deus. Talvez os acusadores, querendo matar a mulher, não tivessem percebido que, eles sim, estavam traindo o preceito divino de preservar a vida. Talvez a partir de seu pecado de acusar, condenar e querer executar a mulher, não estivessem percebendo que se deve condenar o erro e o pecado, mas é necessário oferecer condições de perdão e recuperação ao pecador. Talvez tenha colocado no chão a pergunta: se ela adulterou, onde está seu parceiro de adultério?

“Isto diz o Senhor”, fala Isaías. E Jesus repete: “Não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais.” Ou seja, Jesus certamente disse à mulher: vá e proteja a vida, pois eu estou protegendo a tua; vá e valorize a vida, pois só Criador é Senhor da vida e tudo que o que criou, o fez para a vida. Isto diz o Senhor! E Paulo completa: tudo que não é a vida, dom de Deus, não tem valor, comparado com esse dom precioso… e tudo que atenta contra a vida é pecado e deve ser evitado: Isto diz o Senhor: Não peques mais, valorize a vida!



Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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