Reflexões sobre: Ap 11,19a;12,1.3-6a.10ab; 1Cor 15, 20-27a; Lc 1, 39-56
Hoje vamos voltar nossos olhos para uma personagem de importância fundamental para a História da Salvação, para a história do cristianismo e para a história da Igreja. Uma personagem cuja atuação começou antes de Jesus, uma personagem que está na fundação da nossa crença, na origem de nossa fé. Uma personagem que “não é deusa, não é mais que Deus, mas depois de Jesus, o Senhor, neste mundo ninguém foi maior”
Mais do que isso: trata-se da personagem mais importante para a História da Salvação, nos moldes cristãos. E não se trata do Pai, Filho ou Espírito Santo, por um motivo simples: A Trindade Santa não é um personagem. O Deus Trino é o destino e não caminho; é o fundamento da existência e não um modelo. Mas a personagem da qual estamos falando é o modelo a ser seguido. É a personagem a mais importante, pois quem a escalou foi o próprio Senhor e, como resposta a essa escalação, disse sim: “Eis a serva do Senhor”!
Então quem é essa personagem?
Ela é aquela sobre quem o pe. Zezinho cantou, dizendo que não foi só mais uma jovem entre tantas, mas foi a “menina que Deus amou e escolheu...”.
Ela é aquela cantada pelo cancioneiro popular, afirmando que: “da cepa brotou a rama, da rama brotou a flor, da flor nasceu...”
Ela é lembrada no hinário português: “A treze de maio, na Cova da Iria, no céu aparece...”
Ela foi para quem o pe. Zezinho pediu: “Ensina teu povo a rezar...”
Ela fez os pescadores ficarem maravilhados “vendo surgir das águas a tosca imagem de negra cor...”. Aqueles pescadores tinham um motivo para se alegrar pois ao ver o sofrimento do seu povo “Esta senhora humilde, de cor morena, se fez presente”.
Ela, por ser uma senhora de cor morena, passou a ser vista não só como mãe do Brasil, mas também como “Senhora da América Latina, de olhar e caridade tão divina, de cor igual a cor de tantas raças…”. Talvez por isso, por ser tão igual a nós, os diferentes povos cristãos a representam de diferentes formas, falando da mesma mãe!
Ela é a personagem a quem, muitos de nós, quando pequeninos, nos dirigimos para falar de nossas limitações. Foi quando aprendemos a dizer: “Mãezinha do céu, eu não sei rezar; eu só sei dizer: Quero te amar”
Nestas alturas você já deve ter entendido: não estamos falando apenas de mais uma importante personagem da História da Salvação. Você já entendeu que, realmente, estamos falando da mais importante personagem. Você já entendeu que estava certo o Zé Vicente ao afirmar sua singeleza, quando indagou: “Quem é essa mulher radiante, orgulho do povo de Deus, sintonia…?” E, na sua música, o coro responde: “É Maria, é Maria, companheira noite e dia”
E foi Maria, a “mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”, como está no livro do apocalipse (Ap 12,1).
E foi Maria, aquela que “deu à luz um filho homem, que veio para governar todas as nações com cetro de ferro” (Ap 12,5). Para que se entenda que seu governo, por ser divino, não se corrompe; não é falho como são os governos humanos.
E foi Maria, aquela que ensinou Jesus a se colocar junto com os preferidos de Deus. E, para ensinar a Jesus, ela também teve que fazer suas opções. De acordo com o evangelista Lucas, foi a própria Maria quem disse que o Senhor olhou “para a humilhação de sua serva”. E apesar de todas as tribulações não deixou de ser bem aventurada.
Entretanto, como não pensava somente em si, Maria mostrou as fronteiras que Deus estabeleceu. E isso não fomos nós, nem a Igreja quem inventou. Maria foi quem afirmou que o Senhor: “mostrou a força de seu braço: dispersou os homens de coração soberbo. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias”. Isso não é invenção da Igreja nem de algum teólogo da Libertação; são palavras de salvação, segundo Lucas (Lc 1,51-53).
Para ser fiel à Palavra divina, a Igreja reconhece e exalta a Mãe, a mulher que “fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar” (Ap 12,6). Em fidelidade à Palavra Divina a Igreja reconhece “em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo”: Maria foi a primeira a ser acolhida no céu (1 Cor15,22-23). Por isso a Igreja celebra a Ascensão de Nossa Senhora.
Por inspiração divina a Igreja definiu, acatando uma aspiração popular. A Igreja aprendeu com o povo a olhar a senhora Mãe com os olhos da fé: “O povo te chama de Nossa Senhora por causa de Nosso Senhor”. E o povo diz mais: “O povo te chama de mãe e rainha porque Jesus Cristo é o rei dos céus”.
Assim, na festa da Ascensão da Senhora Mãe podemos cantar, o que a palavra divina nos ensina: “Que só Jesus Cristo é o intercessor. Porém se podemos orar pelos outros, a Mãe de Jesus pode mais. Por isto te pedimos em prece, oh, Maria, que leves o povo a Jesus, porque de levar a Jesus entendes mais.
Como é bonita uma religião que se lembra da mãe de Jesus!”
Tudo isso foi Maria que nos ensinou. É assim que a Igreja orienta. E é assim que nossa fé nos ajuda a cantar com Maria, na festa de sua Assunção. A festa pela qual a Igreja ensina que por um favor especial da mãe, para a salvação do mundo, o Filho a elevou ao céu, como modelo, a fim de que o mundo aprenda seu caminho. E ela agradece: “A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” (Lc 1, 46-47).
E nós, na singeleza de nossa vida e de nossa fé cantamos porque, além de derrubar do trono os poderosos, o Senhor é aquele que sacia os famintos, pois “agora realizou-se a salvação, a força e a realeza de nosso Deus” (Ap 12,10)
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
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