Reflexões baseadas em: Am 7,12-15; Ef 1,3-14; Mc 6,7-13
Admiro muito da franqueza do profeta Amós. Principalmente neste trecho (Am 7,12-15) no qual afirma estar agindo por mandato divino.
Suas palavras nos ensinam que muitos daqueles que dizem estar falando em nome de Deus, muitas vezes estão defendendo um tirano ou algum usurpador da Palavra de Deus. Aqui ele denuncia os erros do sacerdote Amasias, entretanto, suas palavras valem para os dias atuais. Certamente ele condenaria muitos dos que tentam calar a profecia dizendo que “a Igreja não deve se meter em política”. Não sabem, estes, que uma das características da profecia é, justamente, a atuação política na forma de denúncia contra os monarcas e sacerdotes!
Importante notar que essa postura, recheada de hipocrisia, só condenam a postura da Igreja solidária quando ela denuncia suas mazelas, malandragens e malversação das coisas públicas. Porém, quando algum traidor da Palavra de Deus apoia o armamentismo, condena a solidariedade comprometida, alia-se a agentes do mal... não dizem que a Igreja está fora de seu oficio.
Algo semelhante podemos ver nas palavras de Paulo (Ef 1,3-14). Também o apóstolo insiste na escolha divina. E o interessante é que, enquanto Amós afirma que o chamado divino tem a ver com a denúncia das estruturas apodrecidas e geradoras de sofrimento, por seu lado, Paulo insiste no objetivo para os quais somos escolhidos. Em Cristo, Deus nos escolheu “antes da fundação do mundo, para que sejamos santos”; “para sermos seus filhos adotivos”; “para o louvor da sua glória”(Ef. 1,4-6).
Com isso somos levados à seguinte indagação: Se somos adotados para a santidade, como diz Paulo, qual o caminho a ser percorrido para atingir esse objetivo? Tanto o apóstolo como o profeta sugerem a resposta: ser agente do anúncio da mensagem divina e da denúncia das estruturas corrompidas e que impedem a plenitude da vida.
E quem nos diz isso é ninguém menos do que Jesus de Nazaré (Mc 6,7-13). Não diz, exatamente com palavras, mas ao indicar as ações que os discípulos devem executar: expulsar demônios e curar os enfermos. Com essa finalidade convocou os discípulos e “começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros” (Mc 6,7).
Em seu tempo, e Jesus bem o sabia, muitas doenças e sofrimentos e dificuldades pelas quais passavam as pessoas, eram vistas como coisas demoníacas. E essa demonização do sofrimento provocava um mal viver. Portanto, encarregar os discípulos de expulsar os demônios era a mesma coisa que promover a cura. E promover a cura era reintroduzir as pessoas ao convívio social. E não são poucas as vezes em que Jesus cura e manda a pessoa curada se reintegrar ao seu grupo familiar… social… religioso… passando antes pelo templo a fim de que os sacerdotes reconhecessem a cura. E isso era promoção da vida.
Nem Jesus nem seus discípulos se deliciavam com o sofrimento; não desdenhavam as dores; não menosprezavam quem os procurava em busca de alento… pelo contrário, demonstravam empatia. A todos acolhiam e ofereciam o conforto da cura. Para a dor ofereciam acalento, pois a vida de cada um era vista como coisa sagrada: dom de Deus.
Por outro lado, Jesus mostrava sua Ira Santa e indignação contra aqueles que não se dedicavam à promoção da vida. Principalmente aqueles que tinham dever de o fazer, em razão de seu ofício, como os sacerdotes… e as lideranças políticas. Contra esses e todas as autoridades, que eram verdadeiros representantes das forças demoníacas, foi que Jesus enviou seus discípulos. Contra todos os que se haviam apropriado da Palavra de Deus e a usavam contra os pequeninos.
Contra essas injustiças e posturas maldosas é que Deus escolhe algumas pessoas. Como Amós, um vaqueiro e cultivador de figos. A ele Deus incumbiu de profetizar, anunciando uma ruína iminente. Se aqueles que têm o poder da nação, não se converterem em favor dos fracos, toda a nação sofrerá. Não por castigo divino, mas por irresponsabilidade dos dirigentes. E o profeta anuncia não a morte dos que promovem a maldade, mas sua ruína: sua esposa se prostituirá; seu filho será assassinado. Deus, como ninguém mais, sabe que maus políticos causam a dor da população e a ruína da nação. Contra isso Deus chamou o profeta.
Mas, por outro lado, se houver conversão, ensina a sabedoria de Paulo: aqueles que promovem a vida, e que colocaram “sua esperança em Cristo”; aqueles que colocarem em prática a “palavra da verdade”, esses poderão ser “marcados com o selo do Espírito prometido, o Espírito Santo, que é o penhor da nossa herança para a redenção do povo que ele adquiriu, para o louvor da sua glória” (Ef 1,11-14).
E Jesus dá uma orientação final: “Se em algum lugar não vos receberem,
nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!Então os doze partiram e pregaram que todos se convertessem.” (Mc 6,11-12).
E assim a denúncia do profeta e o anúncio do apóstolo se encontram na ordem dada pelo Senhor: Vai profetizar!
Neri de Paula Carneiro
Mestre em Educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.
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