(Reflexões baseadas em: Jó 38,1.8-11; 2Cor 5,14-17; Mc 4,35-41)
Não se ofenda, quando te pergunto: como você reage diante de um perigo iminente? de uma tempestade com muitos raios e trovões? De algo que te ameace ou represente perigo para aqueles de quem você gosta? Ou vai dizer que nada te assusta?
Não quero expor tuas fragilidades.
Não estou pensando em ridicularizar os teus medos.
Não pretendo dizer que para teus receios não existem fundamentos?
Entretanto, antes de dar minhas explicações, permita-me mais uma indagação: Você acredita que Jesus é o Cristo, aquele que pode te salvar? Te dar a vida plena? Acredita que ele é o Senhor e que nos ensina a viver em harmonia e defender a vida dos que mais sofrem?
Não estou duvidando da tua fé
Não estou, nem um pouco, pensando que tua fé pode ser fraca…
Por isso, agora explico o motivo de minhas indagações. E te devo explicações porque estas são indagações que faço a mim, também! São indagações que também a mim causam inquietação! São indagações para as quais eu também tenho que encontrar uma resposta...
E digo mais. Estou perguntando porque são indagações que Jesus fez aos seus discípulos (Mc 4,35-41). São indagações que o Senhor Deus apresentou a Jó (Jó 38,1.8-11). São perguntas nascidas do meio da tempestade. São angústias que nascem em todos os momentos de provações...
Eu e você sabemos a resposta das indagações: diante da tempestade, do perigo, das ameaças… todos sentimos medo. Alguns um pouco mais, outros um pouco menos. Alguns deixam transparecer, outros disfarçam. Alguns enfrentam as dificuldades com a cabeça erguida, outros deixam-se abater. Alguns enfrentam confiando na graça divina, outros se imaginam abandonados por Deus... em resumo, todos sentimos medo. Todos nos sentimos inseguros. Todos nos sentimos ameaçados quando algo foge ao nosso controle e a incerteza se instala.
A realidade do nossos medos expressa outra realidade: nossa falta de confiança. A todos dizemos que somos cristãos, que temos fé, que confiamos no poder absoluto de Deus; dizemos que sabemos do poder de Deus e que sua mão poderosa e salvadora nos envolve e nos protege… tudo isso nós dizemos. Mas, ao mesmo tempo, e apesar de nossa afirmação de confiança, sentimos medo! E o medo é reflexo da insegurança. E a insegurança é uma forma de falta de fé, de confiança.
Não porque não confiamos, mas porque nossa confiança é fraca, nossa fé é frágil. Nossa confiança tem por base nossa compreensão das coisas… mas desconhecemos as razões das dores ou não compreendemos as coisas com a profundidade da ciência divina. Daí sermos limitados e isso se manifesta em nossos medos.
Em resposta aos nossos medos é que o Senhor falou a Jó, do meio da tempestade. E, em sua pergunta, está uma afirmação: Mesmo sem verbalizar, Deus está dizendo ao seu servo Jó: “se eu limitei os mares, significa que eu estou no controle de tudo. Portanto confie em mim!” E se Deus pede que confiemos Nele, deveríamos não temer mais nada…. Mas o medo permanece. Permanece porque a promessa divina parece que não se enquadra em nosso cotidiano, como superação dos nossos problemas, como remédio para nossas dores.
Esquecemos que Deus não disse que não teríamos problemas. Disse que Ele está no controle. Que Ele sabe de nossas limitações. Que Ele conhece nossos medos e fraquezas…. Mas também sabe de nosso potencial! E é por esse motivo que não permite algo maior do que nossas forças… a nós cabe confiar… ou tropeçar no medo da derrota, mesmo antes da luta terminar.
Por isso Jesus recrimina os discípulos, questionando sua fé. Neste ponto encontram-se as indagações de Deus Pai e de Jesus: Deus dizendo que está no controle de tudo. E Jesus demonstrando quem, efetivamente tem o poder de a tudo controlar. E demonstra isso controlando o mar e os ventos.
Mas, se a tempestade assustava os discípulos, o domínio sobre ela, demonstrado por Jesus, também os amedronta, pois ficam se perguntando: quem é este que controla os elementos da natureza? “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?” (Mc 4,41). Constatando a incredulidade, o medo, a incerteza… é que Jesus indaga: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” (Mc 4,40). Na indagação de Jesus, está uma afirmação não verbalizada: “Não temam! Eu estou no controle”
Então retomemos a indagação inicial: como você reage diante do perigo? Nossa condição humana, nos aconselha a ter medo. E isso nos leva a agir com prudência. Nossa ação prudente é uma excelente forma de manifestarmos, não só nosso medo, mas também a afirmação da nossa confiança no controle divino. (Só lembrando que controlar o medo é uma forma de demonstrar maturidade; é o ponto de partida para a coragem).
Em síntese, podemos dizer que nossos medos nos acompanham. Mas eles não devem se sobrepor às nossas ações, pois se temos problemas e dificuldades e dores e sofrimentos… também temos a mão de Deus sobre nós, ajudando-nos a superar as adversidades; mais ainda: temos em nós a centelha divina para ir em frente. Dessa forma podemos bem entender a afirmação de Paulo, na segunda carta aos coríntios (2Cor 5,14-17): “Portanto, se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo.”
Não precisamos mais indagar: quem é este? Mesmo com uma fé em crescimento, podemos alimentar uma certeza: temos que fazer tudo para superar as adversidades: por nós mesmos, mas sabendo que é Deus quem está no controle.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação,filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.
Mestre em educação,filósofo, teólogo, historiador
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