quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Mestre, onde moras?


Reflexões baseadas em: 1Sm 3,3b-10.19; 1Cor 6,13c-15a.17-20; Jo 1,35-42)









Aqui estão algumas indagações que a Santa Palavra nos apresenta. Qual será nossa resposta?

O que nós faríamos, como reagiríamos se, no meio da noite, ouvíssemos uma voz chamando nosso nome? Com certeza essa foi a sensação de Samuel (1 Sm 3,3b-10.19) ao ouvir um chamado, sem saber quem o chamava nem de onde vinha a voz.

Que significa pra nós, saber que nosso corpo é membro de Cristo? Essa foi a indagação de Paulo aos membros da comunidade de Corinto (1 Cor 6,13c-15a.17-20), afirmando-lhes ser membros do corpo de Cristo.

Quantas vezes nos interessamos em saber do Senhor onde é sua morada, como fizeram os discípulos de João (Jo 1,35-42)?

Três vezes o jovem Samuel foi interpelado por uma voz que imaginava ser de seu mestre Eli (Sm 3,4.6.8). Inicialmente nenhum dos dois se deu conta de que era o Senhor a chamar. Nem a experiencia de Eli, nem a inocência de Samuel. Ao jovem, coube a justificativa de que “ainda não conhecia o Senhor, pois, até então, a palavra do Senhor não se lhe tinha manifestado” (1Sm 3,7).

Mas é um fato: o Senhor Chama! A vida repleta de experiências, como o caso de Eli, pode retardar a compreensão. Mas Ele não deixa de interpelar. É necessário que se tenha alto desprendimento, grande capacidade de doação, muita vontade de encontrar o Senhor … para responder como o jovem Samuel: “Fala, Senhor, que teu servo escuta” (1Sm 3,10).

O fato de Samuel não conhecer o Senhor, de não tê-lo compreendido desde o início, não o impediu de acatar as orientações de seu mestre e se deixar conduzir pelo Senhor. Essa pode ser a primeira grande lição da Palavra Sagrada, para hoje: ouvir e deixar-se guiar pelo Senhor.

E se essa é uma lição, para hoje, devemos compreender sua complementação. Ouvir e deixar-se guiar pelo Senhor, parte do pressuposto de que devemos conhecê-lo. E uma das formas de o conhecermos é alguém no-lo apresentar. Foi o que fez o Batista: apresentou Jesus aos seus discípulos: “Eis o cordeiro de Deus” (Jo 1,36).

Tendo sido apresentados, os discípulos de João começam a seguir Jesus. (Jo 1,37). E aqui se dá o diálogo mais importante de suas vidas. Jesus os interpela (Jo 1,38), como quem pergunta: “O que é que vocês querem para suas vidas?” Como ambos estavam sedentos de um sentido maior para sua existência, quiseram saber de sua morada: “Mestre, onde moras?”. Só então Jesus os convida (Jo 1,39): “Venham comigo. Venham ver onde é minha morada. Acompanhem-me e saberão onde poderão me encontrar”. Eles foram, viram, e gostaram. Descobriram que a morada de Jesus é ao lado do seu povo!

Notemos que Jesus convida, mas não indica o endereço. Para saber de sua morada é necessário acompanhá-lo. Segui-lo. Trilhar seus passos… e os discípulos foram e viram e gostaram e voltaram para chamar aos outros. Estavam começando a conhecê-lo e Ele os guiava.

Essa pode ser uma segunda lição que a Palavra de Deus nos está ensinando: para ouvir e deixar-se guiar pelo Senhor é necessário encontrá-lo e saber onde é sua morada. Mas isso tem implicações. Implica em voltar-se para o outro, em chamar o outro para que também conheça a morada do Senhor.

Mas onde está o Senhor? Onde o Senhor reside? Onde se localiza a morada do Senhor?

A resposta nos é apresentada no discurso paulino. Embora as palavras do apóstolo tragam um tom de sexualidade, pois fala contra a imoralidade e a fornicação, na realidade não está condenando o sexo mas o mau uso do corpo. Compreenderemos melhor isso se prestarmos atenção às palavras de Paulo.

O apóstolo faz algumas indagações à comunidade de Corinto. Em sua pergunta existe uma afirmação: “Porventura ignorais que vossos corpos são membros de Cristo?” (1 Cor 6,15). Nessa indagação está a primeira afirmação: “respeitem vossos corpos, pois eles são membros de Cristo”. Mas nossos corpos não são somente membros de Cristo, são também um espaço em que reside o Espírito. Portanto, desrespeitar o próprio corpo ou o corpo de um irmão, é desrespeitar ao Senhor.

O apóstolo afirma isso em outra indagação: “Ou ignorais que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que mora em vós e que vos é dado por Deus?” (1 Cor 6,19). Embora a indagação seja formulada em outros termos, a afirmação é a mesma: “respeitem vossos corpos pois além de membros de Cristo, eles são templo do Espírito concedido por Deus.”

Esta, portanto, pode ser entendida como a terceira lição: O corpo, do homem e da mulher, deve ser respeitado, não em função de sua sexualidade, mas como membro de Cristo e templo do Espírito, dado por Deus. Ou seja, o respeito ao corpo é uma forma de afirmar a importância do ser humano. Respeitar o corpo é uma forma de afirmar a importância do ser humano em sua plenitude. E o ser humano pleno é aquele que ora, trabalha, alimenta-se, relaciona-se com outros seres humanos e com a natureza; o ser humano, em sua plenitude manifesta a presença do Senhor.

Todas as vezes que o ser humano é minimizado, não importa se por si mesmo ou por outro, nesse momento se está desrespeitando o corpo de Cristo. Nesse momento se está deixando de ouvir e seguir o Senhor, pois se está negando sua morada que é o santuário de nosso corpo.

O respeito ao ser humano é um ato de fé, pois quem o respeita é porque sabe onde mora o Senhor.





Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.


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