quinta-feira, 26 de outubro de 2017

“Professor só me deu”


Professor só me deu”

Nossa reflexão neste discurso tem a ver com o aprendizado e o comportamento do aprendiz em relação ao processo do aprender. Poderíamos dizer, também que se trata de uma reflexão sobre a falta de aprendizado que vem crescendo em nossas escolas.
E esta é uma reflexão que não se ocupa em julgar o estudante, mas em constatar um fato do qual, talvez, o estudante seja uma vítima... Mas a vítima fatal e em última instância é a própria sociedade que paga para ter o melhor e acaba recebendo os acidentes do processo!
A questão que desejamos refletir, neste momento, diz respeito a uma atitude que demonstra falta de aprendizado. Ela ocorre logo após alguma avaliação. Circunstância em que, invariavelmente, algum aluno procura o professor e, em tom de reclamação e recriminação, pergunta, afirma e acusa: “professor, só me deu isso de nota!?”
Para não dizer o que pensa e para não ser grosseiro o professor se cala. Mas lá no seu íntimo ele pensa – pensar ele pode: “Abestado, foi você e não eu quem fez a prova!” E vai adiante: “Se a nota foi essa é porque você não sabia mais”. Em acrescenta, ainda no íntimo do seu pensamento: “Eu não dei nota nenhuma. Ela é reflexo daquilo que você fez na prova. Se você acerta um número elevado de questões, a nota é alta, se acerta poucas questões a nota é baixa. Isso não depende do professor a quem só cabe ensinar. O aprendizado é do estudante. Se o estudante estuda, aprende e se aprende a nota vem como consequência. O professor, portanto, só elabora a prova e a corrige depois que ela foi respondida pelo estudante.”
Mas tudo isso fica só na cabeça do professor, pois se disser algo – mesmo que seja verdade – sua fala pode ser interpretada como grosseria, como resposta desrespeitosa ao aluno (lembrando que aluno significa “desprovido de luz” e nessa etimologia o professor é aquele que ajuda o estudante a se apropriar do lumem (luz) do saber.
Então repitamos: ao professor cabe ensinar; promover as condições de aprendizado – condições estas que, em muitos casos, é negada pela estrutura escolar/acadêmica e noutras vezes produzida pelos aluno. Mas ao estudante cabe estudar. Por incrível que pareça, por excelente que seja o professor, se não houver predisposição por parte do estuante, não haverá aprendizado e, consequentemente, não haverá boa nota.
Diferentemente do que ocorre no comércio onde o cliente compra um produto e deseja qualidade, no processo escolar isso não ocorre. O estudante que recebe as informações disponibilizadas pelo professor pode absorvê-las ou não. Se deseja e quando quer, aprende e tem boas notas – e se torna bom profissional! Mas, como ocorre em muitos casos, se o aluno é medíocre ou desinteressado, nada absorverá. E, o que é pior: dirá que o professor não lhe deu nota; em alguns casos os próprios pais cobrarão do professor – e não do aluno – uma melhor nota para o filho, sem cobrar do filho mais empenho no estudo!
Serão esses alunos e não os estudantes que, no final do bimestre ou do semestre, em tom choramingante dirão: “professor, você só me deu essa nota”. Ou então: “Professor, dá um pontinho! Se eu ficar com essa nota vou reprovar. Só um pontinho, professor!” E cada vez que vê o professor é a mesma cantilena lamuriosa: “Então, professor, vai me dar um pontinho?”
Claro que o professor que ouve a lamúria e não diz o que pensa. Mas pensa! Pensa mais ou menos o seguinte: “Como chegamos a esta situação? Se ele tivesse estudado não precisava mendigar nota.” E se lamenta: “Como pode alguém se humilhar a este ponto?”.
Pedir nota é uma confissão de incompetência. Aquele que precisa pedir nota não a merece, pois não foi capaz de consegui-la por si mesmo. E o fato de pedir nota significa que não está preocupado em estudar e aprender. Quer a nota para completar um requisito formal, mas não está preocupado com a postura ética pela qual pode dizer: “Fui aprovado pelos meus méritos” e não porque recebeu algumas migalhas de esmola!”
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura- RO

Educação: de quem é a responsabilidade?


Educação: de quem é a responsabilidade?

Estamos acostumados a ouvir falar que educação tem a ver com a escola ou é uma responsabilidade da escola. Não que não seja assim, mas não é só isso. Na realidade, educação é muito mais que isso! Ultrapassa a escola porque começa antes dela.
Então comecemos no começo. Para falar sobre algo, precisamos, primeiro, saber o que é aquilo sobre o quê estamos falando. Neste caso, em que consiste isso que chamamos de educação?
Os mestres da linguagem diziam que educação tem a ver com um processo. Ninguém nasce educado. Ninguém é plenamente educado. Da mesma forma que ninguém é “sem educação” ou seja, todos somos educados, mas, ao mesmo tempo, estamos nos educando. Nisso consiste o processo. Isso é o que sugere a professora Maria L. A. Aranha, no livro “Filosofia da Educação”, essa é uma palavra que vem do latim, “educare” e se refere ao processo de “conduzir de um estado a outro”. Envolve, portanto, um “agente” que conduz, uma “mensagem” que é transmitida e a um indivíduo que recebe essa mensagem.
E com base nisso somos levados a dizer que educação não se realiza isoladamente. Tem a ver com vida social. É processo coletivo.
Como estamos admitindo que se trata de um processo, somos levados a concluir que a ação educacional, que é coletiva, não tem um ponto de partida nem um ponto final; não se pode dizer: até aqui este indivíduo não era educado; a partir daqui ele está educado. Pode-se dizer que o indivíduo está se educando sempre. Pois sempre se aprimora em seus comportamentos, valores e posturas.
E, um detalhe: Percebeu? Até aqui, em nenhum momento mencionamos a instituição escolar como agente da educação!
Cabe, então, analisar a ideia de “conduzir de um estado a outro”. Quem conduz? Quem é conduzido? O que conduz é aquele que está numa situação ou condição na qual o conduzido ainda não chegou, mas acredita que deve chegar. E se esse ponto deve ser atingido é porque se acredita que ele seja bom. Trata-se, portanto, de um avanço valorativo. O que é conduzido é aquele que aceita, acata e deseja a condução; acredita que pode atingir um ponto onde ainda não está e, para isso, depende da ajuda daquele que já atingiu o ponto ou objetivo almejado... que não é um “ponto final”, mas uma meta de transição, uma catapulta para o ponto seguinte.
Então voltemos à nossa questão: de quem é a responsabilidade pela educação? De quem já deu o passo ainda não dado pelo que está inserido no processo. Concretizando isso podemos dizer que o adulto está numa situação ou estágio em que a criança ou o adolescente ainda não atingiu. Portanto cabe ao adulto educar a criança ou o adolescente ajudando-o a atingir ou desenvolver os valores que ele ainda não incorporou.
E quem são os responsáveis pela criança e pelo adolescente? Todos os adultos, mas em primeiro lugar os pais! Então a quem cabe a responsabilidade pela educação?
E a escola? Trata-se de uma instituição que tem outro papel: a ela cabe a transmissão de informações consideradas relevantes para o desenvolvimento do indivíduo. É uma instituição que supõe a educação e ajuda a moldá-la, mas com outros objetivos. Por exemplo, um dos objetivos do sistema escolar é preparar para o trabalho. Ou educar para o trabalho. Mas a escola não vai dizer ao estudante que o trabalho é algo bom e que este deve ser um objetivo de vida para todas as pessoas. A escola dirá ao indivíduo: você está no mundo e precisa trabalhar, portanto eu vou te ajudar a se preparar para isso.
A família estimula, ensina – educa – para perceber o valor do trabalho e a escola prepara para o exercício do saber: prepara para o trabalho. Cada instituição tem uma responsabilidade em relação ao processo educacional.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura - RO

Aprendemos com eles


Aprendemos com eles

Quem é professor já ouviu este tipo de pergunta: onde vou usar isto?
Vamos começar, então por onde tudo começou.
Tudo começou numa aula de história no ensino fundamental. O assunto eram os povos antigos. Naquele momento não havia referência à filosofia, pois a temática era história. Mas a reflexão depois da aula mostrou a ligação do tema de história com uma filosofia do cotidiano. E a questão é: o mundo antigo continua se manifestando em nosso mundo?
A resposta é sim! Basta observarmos e veremos os retalhos daquilo que os antigos fizeram em alguns ecos dentro de nossa sociedade. São saberes que repercutem em nossa sociedade: O mundo antigo continua ecoando em nosso meio.
Vejamos alguns exemplos.
Vivemos em sociedade: muitos de nós um aglomerado ao qual chamamos de cidade. Como aprendemos isso? Possivelmente a partir dos mesopotâmicos. A vida urbana, até onde sabemos, desenvolveu-se lá. Não podemos precisar se foi este ou aquele povo que começou a primeira cidade, mas sabemos que elas agregaram as pessoas.
E por que as pessoas se agregaram num amontoado urbano? Para solucionar problemas.
Inúmeros problemas que seriam insolúveis ou mortais para os indivíduos, foram resolvidos pelo grupo: caso típico é o da segurança. O grupo oferece segurança ao indivíduo e os indivíduos se protegem mutuamente; segurança que não haveria se permanecessem isolados. A vida urbana, se por um lado trouxe soluções, por outro apresentou problemas: a disputa por território e, evidentemente, por alimento.
Com os problemas se avolumando foi necessário desenvolver mais alguns elementos que permaneceram e entraram em nosso uso cotidiano: as armas e a política, por exemplo. A necessidade de proteção do grupo exigiu a produção de armas e as guerras possibilitaram o desenvolvimento de tecnologias para a utilização dos metais.
Enquanto os agricultores usavam a metalurgia para fabricar arados e enxadas os soldados desenvolviam espadas...
A metalurgia se desenvolveu e está em nosso meio. Os metais são uma das artérias de nossa sociedade tecnológica. Para qualquer lado que olhemos, eles estão presentes. Nossa sociedade depende deles. Garfos e caminhões, relógios e microfones... tudo tem metal modificado: na forma de ferramenta, utensilio ou joias.
Outra coisa que os antigos inventaram foi a política. Consequência da cidade e dos atritos que surgem da vida urbana e social, a política foi criada para minimizar ou gerenciar os conflitos. Vários aspectos de nossa política foi organizada pelos gregos antigos. Eles não a criaram, mas dera-lhe um toque requintado.
Não só em relação aos conceitos da política, como democracia, por exemplo, mas também em relação à forma de fazer política: a arte de falar em público e a eloquência são criações dos sofistas que ensinavam retórica e oratória aos cidadãos atenienses para desenvolver a democracia ali existente.
Noutras situações os sacerdotes antigos olharam para os céus e falaram sobre seus deuses. Movidos pela fé ou pelo medo os antigos ampliaram os conhecimentos. Para isso precisaram compreender a dança das estrelas e a divisão do tempo: dias, meses, anos... e essas dimensões temporais e o seu significado acabou definindo nossa sociedade.
A noção de tempo, outra artéria fluindo o sangue frenético de nossa sociedade, nasceu naquele momento em que os antigos olharam para o céu em busca dos seus deuses.
E, em nossa sociedade, o tempo e os céus, antigos objetos de culto, viraram objeto de exploração.
E assim por diante. Cada vez que buscamos a origem de algo que nos é importante, notaremos sua raiz plantada nos tempos antigos: os antigos nos legram seus saberes.
Começamos esta reflexão, uma filosofia do cotidiano, buscando os ecos do passado em nossos dias. Agora nos vem a indagação crucial: os antigos nos legaram algumas lições e contribuições. E nós, o que legaremos aos nossos descendentes.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO



Que nem galinha -(Baseado em Luiz Passos)

Ai, ai seu doutor, o professor
é que nem galinha:
toma no rabo e sai cantando uma modinha

Todo dia o aluno chega e entra
é a mesma lenga lenga
não estuda e quer passar
Analiso e desprezo
esta jogada
que fabrica analfabeto
já com pinta de doutor.
É vergonha nacional

Ai, ai seu doutor, o professoré que nem galinha:
toma no rabo e sai cantando uma modinha

Todo dia o professor é execrado
é portaria e decreto
para tudo piorar.
Não reage feito
vaca de presépio
é usado o tempo todo
pro sistema preservar
“Tô na rede social!”
Ai, ai seu doutor, o professor
é que nem galinha:
toma no rabo e sai cantando uma modinha

Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO

Que nem galinha


Que nem galinha
Peço licença ao colega, já falecido, Luiz Carlos Passos, missionário jesuíta em terras do antigo território de Rondônia. Naquela época ele cantava contra o MOBRAL, que alguns, com certeza hão de lembrar. Naquela época criticar as obras da ditadura era perigoso. Hoje tudo mudou: as coisa pioraram muito. A vantagem é que a gente tem a sensação de liberdade de expressão, coisa que não tínhamos naquela época.
Minha paródia já circula na internet, mas sua música parece que desapareceu. Aqui estou retomando minha paródia para convocar pais e professores a uma reflexão. Afinal o que é que queremos dessa panela de pressão que ganhou o apelido de escola:
Ai, ai seu doutor, o professor é que nem galinha:
toma no rabo e sai cantando uma modinha!
Todo dia o aluno chega e entra. É a mesma lenga lenga: não estuda e quer passar
Analiso e desprezo esta jogada que fabrica analfabeto que tem pinta de doutor.
É vergonha nacional
Ai, ai seu doutor, o professor é que nem galinha:
toma no rabo e sai cantando uma modinha!
Todo dia o professor é execrado é portaria e decreto para tudo piorar.
Não reage, feito vaca de presépio é usado o tempo todo pro sistema preservar
'Tô na rede social!'
Ai, ai seu doutor o professor é que nem galinha:
toma no rabo e sai cantando uma modinha!”
A troco de quê estou retomado isso? Perguntarão alguns. É que ando indignado com o que ocorre. Todos vêm mas parece que estão cegos.
Minha indignação não é só porque o professor vem tomando... de aluno, de sistema, de escola, de governo, dos pais … e da sociedade toda. Toma todo dia (talvez por isso o Passos dizia que é “que nem galinha”) enquanto está lecionando. Mas chega o dia em que isso acaba: é quando o aluno, já de-formado pelo sistema, lá no mercado de trabalho quando não dará conta de preencher um recibo ou calcular mentalmente um toco de uma compra de sete reais para a qual o cliente pagou com dez reais... Nessas circunstâncias haverá alguém que dirá que a culpa é da escola... – que “não ensinou direito”. Aí culparão a escola mas, por extensão, a culpa recairá sobre o professor – ele será aquele que “não ensinou direito”, dirão. E então o professor tomará novamente!
Estou a ponto de dizer que “perdi a fé no ser humano”. Estou a ponto de me postar contra o Gonzaguinha, quando cantou: “fé na vida fé no homem, fé no que virá. Nós podemos tudo, nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será”
Na escola, na sociedade, na economia, na política... só se vê gente querendo pisar em gente. A indecência se impondo sobre aquilo em que todos dizem acreditar. Valores sociais e humanos indo pelo ralo e nós assistindo a tudo como um filme na TV. Parece que perdemos nossa capacidade de nos indignar. Parece que os dramas do mar de lama que nos sufoca não nos dizem respeito. Parece que não acreditamos que as coisas podem piorar e que não estamos fazendo nada para impedir.
Foi aí que recordei a música do colega, lá dos anos 1980. Ele dizia: “todo dia, o aluno chega e senta. Ouve a mesma lenga-lenga. Só escreve o que mandar. Analisa com desprezo esporte e moda. Vibra com nosso progresso que é fruto do MOBRAL, a vergonha nacional”
Querem impingir a responsabilidade pela mudança ao professor. Mas o professor é vítima do sistema. Ele é quem “toma... e sai cantando” . Se algo tem que mudar são as nossas atitudes. Caso contrário continuaremos tomando... e cantando... que nem galinha!
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Rolim de Moura – RO

TEMPO COMUM e o Tempo de Deus

Também disponível em: * https://pensoerepasso.blogspot.com/2024/01/tempo-comum-os-tempos-de-jesus-de-nazare.html * https://www.recantodasl...