quinta-feira, janeiro 30, 2025

Apresentação do Senhor: Sinal de contradição

Malaquias 3,1-4; Hebreus 2,14-18; Lucas 2,22-40




Um anjo foi enviado com a finalidade de preparar o caminho, afirma Malaquias (3,1-4). O filho tem a mesma natureza dos pais, afirma o autor de Hebreus (2,14-18). É dessa forma que vamos encontrar Jesus, sendo apresentado no Templo (Lc 2,22-40): José e Maria, cumprindo o ritual, apresentam Filho de Deus que vem para redimir e anunciar o Reino.

Mas não é só isso! Ou, o que isso significa para nós?

Significa que, quando celebramos o Natal, vimos que Deus, de fato envia seu anjo para preparar os caminhos: primeiro para anunciar a vinda do Batista, preparando os caminhos do Senhor; depois para anunciar a vinda do Messias, que do seio de Maria, nasce para estabelecer uma nova aliança. Muito mais radical do que aquela em que o anjo anunciou que Sara conceberia Isaac. A Nova Aliança é mais radical porque não se baseia-se no templo, mas nos marginalizados; não mais num povo que pensava ser único merecedor da graça salvadora, mas nos estrangeiros…

De fato, Deus envia seu anjo…E quem nos fala disso hoje é Malaquias que viveu mais ou menos seis séculos antes do anjo falar com Maria. E suas palavras se cumprem em Jesus.

Hoje, aqui para nós, é ele quem nos fala sobre o anjo que vem preparar os caminhos, como fizera o Batista. Mas o foco do profeta não é o anjo, e sim aquele que vem depois do caminho preparado. Depois da sua ação purificadora...Depois disso é que as oferendas serão agradáveis a Deus. Depois de fazermos a reparação cobrada pelo anjo é que estaremos preparados para aquele que vem...

Mas em que que consiste essa preparação? Como será a purificação?

A resposta nos vem do autor de Hebreus: aprender com a prática de Jesus de Nazaré!

Como assim?

Jesus fez-se um de nós. Isso o sabemos. Acabamos de celebrar o Natal e aprendemos que em Jesus, Deus veio ao nosso encontro. E nisso está o ensinamento de Hebreus: “os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Jesus participou da mesma condição” (Hb 2,14). Ou seja, Deus fazendo-se humano, mostrou o motivo de ter se encarnado: oferecer alento aos desalentados; conforto aos abandonados; esperança aos desesperados; vida nova aos agredidos por todo tipo de exploração e angústia: fome, marginalização, exclusão… Por isso Jesus recusou os palácios e o templo. Optou por uma família humilde e conviveu com gente simples. Noutras palavras, deu voz aos sem voz; deu oportunidade de chegar a Deus àqueles que estavam abandonados pelo poder e pela religião elitista. “Pois, afinal, não veio ocupar-se com os anjos, mas com a descendência de Abraão. Por isso devia fazer-se em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e digno de confiança nas coisas referentes a Deus, a fim de expiar os pecados do povo” (Hb 2,16-17).

Mas quais são “os pecado do povo”, dos quais Jesus veio nos libertar?

Já o sabemos: esse pecado tem uma dimensão pessoal e se manifesta em nossas ações e omissões que agridem o amor! Como o confessamos no “ato penitencial”! Pedimos perdão por termos pecado: “por pensamento, atos e omissões”. Essa é a dimensão pessoal.

Ocorre que o pecado também tem uma dimensão social: Será que já paramos para contar quantas vezes pensamos mal das pessoas: colegas de trabalho, pessoas da comunidade, nossos pais, mães, filhos, genros, noras, sogros sogras… são tantas as pessoas das quais pensamos mal e, muitas vezes, até desejamos o mal. Pensamentos do mal!

E se não bastasse, além de pensar, nós agimos maldosamente para com as pessoas: nós difamamos e tramamos contra colegas de trabalho, mentimos, tentamos nos sobrepor aos outros…; no mundo dos negócios: “amigo sim, mas negócios à parte!”; tiramos proveito de quem está em dificuldades para nos dar bem nos negócios e assim acumulamos bens e riquezas que não nos pertencem, pois foram conseguidas com roubo, esperteza, malandragem… Atos maldosos.

E, também nos omitimos de socorrer quem precisa; omitimos nossa mão, nossa opinião contra o mal… nos omitimos e não nos engajamos no combate às causas da pobreza, da fome, da exclusão… E achamos que somos melhores que os outros, pois nossas orações são mais fervorosas. Será que ainda não nos demos conta de que exibimos e nos exibimos com terços feito penduricalhos e camisetas de Nossa Senhora… apenas para mostrar nossa piedade! E pensamos que nossas orações são suficientes para salvar o mundo! Nossos atos e omissões!

Realmente, Jesus veio para “expiar os pecados do povo”. E esses “pecados do povo” não está na falta de oração, pois as pessoas rezam; não se limita ao moralismo em relação a tais roupas e comportamentos permissivos, pois o que importa é o coração amoroso; não se limita a dar esmola, pois só isso não contribui para eliminar as causas da pobreza…

Realmente Jesus veio para “expiar os pecados do povo”. Por isso Simeão disse a seu respeito: "Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. (Lc 2,34-35). Vão cair os que não se põem a serviço do amor solidário; vão se reerguer aqueles que desejam aparar as garras do mal, refazendo o mundo com base no amor.

Realmente Jesus veio para “expiar os pecados do povo”. Por isso ele é sinal de contradição: ele não veio para compactuar com quem gera dor e sofrimento; ele veio para a libertação por isso ele é “luz para iluminar as nações”.




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

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