(Baseado em: Atos dos Apóstolos 12,1-11; II Timóteo 4,6-8.17-18; Mateus 16,13-19)
Festa de São Pedro e São Paulo! Aqui tem algo que vai além dos festejos juninos! É que estes dois personagens, podemos dizer, foram “escolhidos a dedo” por Jesus.
O primeiro, Pedro, a pedra que se tornou fundamental para a Igreja. É o homem da iniciativa. Aquele que sem pensar muito sabia, pois era guiado pela fé, que Jesus era muito mais do que só mestre. Ele era “o Messias, o Filho do Deus vivo" (Mt 16,16).
A mando de Herodes Pedro foi preso. Mas não se desesperou. Sabia que outros irmãos foram torturados e mortos (At 12,2). Sabia que podia ser executado depois da festa, mas tranquilamente, “dormia entre dois soldados, preso com duas correntes” (At 12,6).
A serenidade de Pedro contrasta com a reação de muitos de nós. Em uma situação extrema, muitos de nós entraríamos em desespero. Ele permaneceu sereno. Sabia que em razão da oração da Igreja (At 12,5), o Senhor não o abandonaria. E o anjo libertador veio para colocá-lo em pé: “Levanta-te depressa!” (At. 12, 7), Para o revestir: "Coloca o cinto e calça tuas sandálias!" e para clocá-lo a caminho: "Põe tua capa e vem comigo!"( At 12, 8).
Pedro sabia que o Senhor não o abandonaria, mas também sabia que a liberdade não é um milagre. Sabia que esse processo que depende de sua resposta. Deus o liberta, mas ele tem que caminhar. A superação da dificuldade depende, sim da oração e do apoio do Senhor, mas é resultado da ação humana. Deus não realiza milagre contra a ou independentemente da vontade humana, pelo contrário, Ele vem para responder ao esforço humano.
O outro personagem é Paulo. Aquele que, sem medo de não ser modesto, é capaz de afirmar: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé.” (2Tm 4,7).
Paulo deve ter sido um personagem admirável. Entre outras coisas pela sua dedicação apaixonada a Jesus. A julgar pelo vigor dos seus escritos, deve ter sido um pregador brilhante e incansável; certamente cativava pelos seus discursos.
Podemos, inclusive, dizer que, junto com Pedro, Paulo é cofundador da Igreja. Foi missionário. O ardor missionário de Paulo plantou sementes da Igreja ramificada pelo mundo.
Mas Paulo também passou por dificuldades e, nem por isso perdeu a esperança. Pelo contrário, sabia-se amparado pelo Senhor. Tinha certeza de que em suas dores o Senhor: “esteve a meu lado e me deu forças” (2Tm 4,17).
Paulo, também prisioneiro, sabia que estava em risco: “estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida” (2Tm 4,6). Mas, não perde o ardor: continua a obra missionária por meio das cartas. Sabe que a vitória sobre as dores está reservada “não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor” (2 Tm 4,8).
A mensagem paulina, portanto, além de ser otimista, é uma demonstração de que, apesar das dificuldades, existe a possibilidade da superação. Ele ensina que a superação das dores não é um dom gratuito. Pelo contrário, depende do engajamento, da ação; depende daquilo que nós realizamos. A superação dos sofrimentos é consequência daquilo que fazemos para superá-lo. E, mais uma vez, a graça de Deus vem como resposta ao nosso esforço. Àquele que se esforça, dedica-se à causa do reino, pode dizer, como Paulo que “Agora está reservada para mim a coroa da justiça” (2 Tm 4,8).
Por que é necessário esse engajamento, por parte do cristão? Para ajudar na instalação do reino de paz e justiça. É a ação do cristão que realiza e faz acontecer as transformações necessárias ao mundo corrompido. A ação do cristão não se resume à oração para que o mundo seja melhor. A ação do cristão supõe, ao lado e como consequência da oração, a ação.
Sem a ação do cristão o mundo continuará sem conhecer Jesus e se não o conhecem, dirão, a respeito de Jesus aquilo que disseram os que com Ele conviveram: "Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas" (Mt 16,14). Dirão isso e muito mais, sem realmente conhecê-lo.
Ao cristão cabe esse anúncio. Esse esclarecimento. Se o cristão não o disser e não o demonstrar, o mundo continuará sem saber quem é e como realizar as obras de Jesus. As obras de salvação, as obras de transformação. Isso implica dizer que se o cristão não apresentar Jesus ao mundo, o mundo não o conhecerá.
Essa é a função da chave, “dada” a Pedro (Mt 16,19). A “chave do céu” é entregue a Pedro para conduzir a Igreja: os cristãos que reconhecem em Jesus o Messias. Mas não se trata de conhecer, por saber quem é Ele, mas em agir como Ele ensinou. Se o cristão não faz isso é porque ainda não O conhece, mesmo que frequente a casa de oração ou a comunidade.
O poder a chave é da Igreja, do povo de Deus. O povo de Deus, ao realizar as obras do Senhor, liga a terra e o céu. Por isso a afirmação paulina: “não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor” (2 Tm 4,8). Por isso, a pergunta de Jesus, continua sendo dirigida a nós: "E vós, quem dizeis que eu sou?"
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
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