quinta-feira, 6 de julho de 2023

Meu jugo e meu fardo

(Baseado em: Zacarias 9,9-10; Romanos 8,9.11-13; Mateus 11,25-30)




Hoje dois personagens chamam nossa atenção: o profeta Zacarias e o apóstolo Paulo.

Zacarias (9,9-10) chama nossa atenção a respeito de uma ação do Senhor: Uma proposta de paz e desarmamento. Paulo (Rom 8,9.11-13), chama nossa atenção para as posturas a serem assumida na vida: Não segundo as propostas mundanas, mas de acordo com o Espírito.

Tanto Zacarias quanto Paulo fazem propostas para mudanças. Elas devem acontecer no comportamento; nas atitude, nas expectativas… Mudança de vida! Mas, para que essas mudanças ocorram é necessária uma outra, esta indicada por Jesus: fazer-se pequenino!

Na proposta de Zacarias nos lembra os governantes da antiguidade. Uma pessoa que mostra seu poder pelas aparências, pelo esplendor e luxo. Apresenta-se com carros e cavalos e exércitos (Zc 9,10). Preocupa-se apenas em fazer cumprir sua vontade, independentemente de isso ser ou não o melhor para seu povo. Aliás, para o monarca, o povo é o que menos importa.

Não é essa a figura do rei, apresentado por Zacarias. Há uma mudança de perspectiva, pois o rei, apresentado pelo profeta, vem ao encontro; ele é justo e salvador; ele é simples, pois “vem montado num jumento” (Zc 9,9) ao contrário do comportamento dos monarcas que se apresentam montados em belos cavalos e esperando os aplausos.

O rei humilde, apresentado pelo profeta, vem, não para a guerra e conquista, mas para a paz entre as nações. Ele quebra o arco (o rei salvador elimina as armas). Carros e cavalos perderão o valor pois seu objetivo é anunciar a paz. E, havendo paz, as fronteiras deixarão de ter sentido. Por isso, o reino desse rei justo, humilde e salvador, será tão abrangente: de mar a mar e atingirá os “confins da terra” (Zc 9,10). Seu domínio é extenso não poque é poderoso e conquistador, mas porque é justo e vem em nome da paz.

Paulo, cobra mudança de atitude: viver, não de acordo com as vontades carnais, “mas segundo o espírito” (Rm 8,9). Podemos dizer que ele é mais exigente que Zacarias. Propõe radicalidade completa, sem meios termos. Trata-se de fazer uma opção definitiva cujo resultado, pode conduzir à vida (Rm 8,13). Mas recusá-la pode levar à morte!

Então, qual a consequência dessa nova postura, dessa mudança de atitude?

Um redirecionamento na vida, para acolher o espírito de vida. São as atitudes, ou a forma de conduzir o dia a dia, que demonstram a presença do Espírito; que evidenciam nossas opções e posturas. Aquilo que está em nosso espírito e manifesta nossa personalidade.

Não se trata de dizer, mas de fazer. A vida cristã exige eliminar o “procedimento carnal” (Rm 8,13), para viver “segundo o espírito”. E isso implica assumir a postura dos “pequeninos”, como ensina Jesus (Mt 11,25-30), e não da ostentação.

Cabe lembrar que somos devedores de uma dívida “não para com a carne, para vivermos segundo a carne” (Rm 8,12), mas com o Espírito de vida que nos “vivificará” (Rm 8,12). O espírito de vida, está presente naqueles que realizam, em suas vidas, os atos do Espírito: amor, solidariedade, altruísmo… posturas de quem não está em busca da ostentação.

O Espírito de vida e força para superar o espírito carnal, confere forças para superar os desafios, as dificuldades, os problemas, as dores… Tudo que se torna um jugo, ou fardo, pesado, é substituídos por Jesus, que oferece: meu “fardo é leve” (Mt 11,30).

A leveza do fardo, ou do jugo, manifesta-se numa vida de simplicidade, de amizade, de superação dos conflitos… no estar à disposição do outro!

Para que isso isso aconteça é necessário que se quebrem, ou se eliminem, as armas e demais instrumentos de violência; que se acabem com os símbolos de poder e os mecanismos de dominação… é necessário aprender com Jesus! “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29).

E, para isso acontecer, se faz necessário assumir não a dominação, mas a mansidão, a humildade, que não foram reveladas “aos sábios e entendidos”, aos reis, presidentes e governantes..., mas aos que se fazem pequenos. E estes, justamente por não almejarem a grandeza, são capazes de ampliar os domínios da paz e do amor. O amor não nasce do poder, mas da singeleza, da mansidão, da pureza, da solidariedade, da simplicidade...

É para quem assim procede que Jesus dirige suas palavras: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,29-30). E quando as pessoas puderem assim proceder, se instalará o reino do amor, cujo “domínio se estenderá de um mar a outro mar, e desde o rio até aos confins da terra” (Zc 9,10).

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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