sexta-feira, 27 de maio de 2022

Ascensão: Testemunhas de Cristo

(Reflexões baseadas em: Atos dos Apóstolos 1,1-11; Efésios 1,17-23; Lucas 24,46-53)




Os mistérios do céu podem gerar em nós inquietação ou esperança.

Inquietação porque o espírito humano busca certezas e nem sempre se dá conta de que o ato de fé exige mais do que certeza, exige compromisso com algo que não pode ser demonstrado. E esperança porque, mesmo parecendo absurdo, somente o ato de fé pode impulsionar a vida e propor novos caminhos.

E não precisa ser fé religiosa, pode ser fé num sonho… tudo é conduzido pela esperança… caso contrário a inquietação leva ao desespero! Mas a fé abre caminhos!

A inquietação pode levar ao desespero ou a um ato de fé. O desespero decorre da incapacidade de perceber possibilidades; de uma incerteza que não admite imprecisões, sem se dar conta de que é justamente a imprecisão que impulsiona o viver. Mas para isso é necessário um ato de fé. E o ato de fé faz mergulhar na esperança que abre caminhos e horizontes!

A inquietação estava presente entre os apóstolos (At 1,1-11). Na ceia ainda estavam confusos, mesmo depois de terem convivido com o Senhor e dele terem ouvido inúmeras explicações e exemplos de vida. Apesar disso ainda se perguntavam e indagavam ao Mestre: “Senhor, é agora que vais restaurar o reino em Israel?” (At 1,6). Não haviam compreendido a mensagem nem a proposta. Não haviam entendido que o Reino vai além de Israel!

Que lhes faltava? O ato de fé.

Como ainda não estavam amadurecidos na fé, Jesus precisou dar novos detalhes. E explicou: Não cabe a vocês saberem das coisas de Deus (At 1,7). Mesmo contemplando a ascensão ainda se postavam na inquietação. Permaneceram “olhando para o céu” (At 1,10) esperando uma resposta… que estava nas nuvens, mas na caminhada...

Nãose tinham dado conta de que o ato de fé, não é algo que vem do céu, mas é uma atitude pessoal. Por isso a interpelação que lhes é dirigida pelos mensageiros: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (At 1,11). Ou seja, ponham-se a caminho. A inquietação desaparece quando se faz um mergulho no processo da caminhada, num ato de fé.

Ea orientação para isso é dada por Paulo, quando escreve aos efésios (1,17-23).

O apóstolo, como que em uma oração, pede ao Pai que a comunidade receba um “espírito de sabedoria”e a luz da esperança (Ef 1,17-18). Sabedoria para entender que só o ressuscitado pode oferecer certezas; e esperança para se por na caminhada da vida.

Eisso também vale para nós. Para entendermos, num ato de fé, que toda esperança, toda riqueza do ser humano, consiste na glória junto aqueles que nos precederam. Nossa riqueza é uma “herança com os santos” de Deus. Ou seja, o ato de fé impulsiona para algo que está além de toda inquietação; algo que só pode ser percebido exatamente pelo ato de fé.

Mas para entender tudo isso e ser fiel à mensagem e proposta de Jesus é necessário aprender com ele (Lucas 24,46-53). E se prestarmos atenção às suas palavras e gestos notaremos que ele age como um pedagogo. Não um pedagogo dos dias atuais que se preocupa com regras e normas sem atentar para a essência da caminhada. Jesus encarna a postura original do pedagogo, aquele que conduz no caminho da aprendizagem e para a aprendizagem: visando o pleno desenvolvimento da pessoa; visando a plena sintonia com o plano do Pai; visando e estimulando a convivência com as demais pessoas.

ÉJesus quem mostra o caminho e faz isso ao longo de sua vida; é ele quem conduz nos e para os caminhos do Reino. Ele ensina isso mostrando que as Escrituras Sagradas não só prefiguram sua vinda e sua permanência na história humana, mas principalmente ensinam que cabe aos seus seguidores levar adiante as propostas de esperança. Eis suas palavras: “Assim está escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém” (Lc 24,46-47). Ou seja, algo novo pode se desenvolver na vida de quem faz o ato de fé e deposita sua esperança naquele que ressuscitou.

Nisso consiste o Ser Testemunha: aprender com esse mestre que sabe conduzir não para seguir regras e normas que dificultam a vida, mas alimentando a esperança de uma vida plena na sintonia com o Espírito que o Pai prometeu! Essa é a esperança dos que se fazem Testemunhas de Cristo!







Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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