(Reflexões baseadas em: Atos dos Apóstolos 2,1-11; 1 Coríntios 12, 3b-7.12-13; João 20, 19-23)
Quando lemos a passagem do livro dos Atos dos Apóstolos que menciona o dia de Pentecostes (At 2,1-11), certamente ficamos admirados com tantos fenômenos e, com certeza, nos fazemos algumas indagações, querendo entender aquelas maravilhas.
Se Jesus tinha atribuído a missão de sair pregando, porque os discípulos ainda estavam reunidos em Jerusalém? Eles ouviram um barulho “como se fosse uma forte ventania”. Os discípulos viram “línguas como de fogo”. Se é “como se fosse”, então não ocorreu ventania nem fogo? Cheios do Espírito, os discípulos começaram a falar em outras línguas, isso ocorreu como um milagre ou já conheciam essas outras línguas? Eram, de fato, muitas línguas ou uma só? Afinal, que língua era essa?
Entretanto, será que estamos fazendo a pergunta correta? O que Deus está querendo nos dizer no dia de Pentecostes? Será que, no dia de Pentecostes, em vez dos fenômenos, não devêssemos olhar para o gesto de Jesus? (Jo 20,19-23).
Pra começar, nossa fé nos ensina que a celebração do Pentecostes (ou seja, cinquenta dias após a Páscoa) quer chamar nossa atenção para um fato: estamos celebrando o que se pode chamar de manifestação sensível da ação do Espírito de Deus. Não que o Santo Espírito não estivesse agindo; nem que nunca tivesse se manifestado na história sagrada. Pelo contrário, o Espírito sempre agiu ao longo da história. Acompanhou o plano divino desde sempre e, no ato da criação, pairava sobre as águas junto com o Verbo Divino.
Ocorre que a ação criadora, no início, foi um ato do Pai. Na comunhão com o Filho e o Espírito, o Pai fez com que tudo passasse a existir. A ação salvadora coube ao Filho. O Verbo divino, pela ação do Espírito de Vida, encarnou-se no ventre de Maria, fez-se humano e habitou entre nós, nascido da mulher Maria. E em sua pregação Jesus estabeleceu as bases da Igreja, a comunidade do Povo de Deus.
Cabe, portanto, ao Espírito de Luz, guiar as ações da Igreja para que a Igreja continue colaborando na obra criadora de Deus. Por isso os discípulos estavam reunidos, esperando a manifestação do Espírito a fim de serem revestidos pela força do Senhor. E eis que vem o Espírito de todas as Graças e concede a cada um aquilo que é o seu dom. Ou seja, a cada indivíduo o Espírito concede o dom com o qual ele pode fazer a Igreja de Cristo crescer e o mundo ser melhor. E isso nos leva ao ensinamento de Paulo (1Cor 12, 3b-7.12-13): há diversidade de dons, diversidade de ministérios, diversidade de atividades… mas é o mesmo Espírito que age em todos.
O Espírito de unidade concede o dom com o qual cada indivíduo pode colaborar para o bem de todos os demais indivíduos e crescimento da Igreja, a comunidade dos que acreditam. “A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor 12,7). E, para que não restem dúvidas o apóstolo explica novamente, reafirmando: “De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito” (1Cor 12,13).
Essas palavras do apóstolo nos ajudam entender: não importa se houve ou não línguas de fogo. Não importa se houve ou não um vento forte ou só uma brisa suave. Não importa se os discípulos falaram usando esta ou aquela língua… não importam os sinais externos, nem se foram coisas simples ou eventos maravilhosos .
O que é realmente importa?
Que o Espírito de Amor, de união, de sabedoria, de coragem; o Espírito eclesial, de comunidade solidária… Esse Espírito foi dado, não como um presente, mas como um companheiro, um amigo que estimula para a realização de coisas grandiosas… para o bem de todos, para o bem comum, para o bem da comunidade…
Notemos que quando Jesus, fazendo-se presente no grupo reunido, concede o Espírito Santo, não o faz de forma suntuosa, mas com um sopro de amizade, com um gesto de carinho, com uma demonstração de amor. Primeiro dá a paz. Depois dá a missão. Só então, para firmar o compromisso e fortalecer a missão de servir é que sopra o Espírito Santo. “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio. E depois de ter dito isto, soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,21-22). E o Espírito é dado em vista do bem comum.
Neri de Paula Carneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
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