sexta-feira, maio 20, 2022

Páscoa 6: Brilhando com a glória de Deus

(Reflexões baseadas em: Atos dos Apóstolos 15,1-2.22-29; Apocalipse 21,10-14.22-23; João 14,23-29)




As novidades sempre criam embaraço, por serem um ponto de interrogação: nunca sabemos onde podem nos levar. Se não isso, pelo menos apresentam novos desafios, geram novas inquietações e necessidades de novas respostas.

Essa situação, a novidade da mensagem do Ressuscitado (At 15,1-2.22-29), provocou esse desconforto entre os primeiros cristãos. Como agir se a novidade exige novas posturas? Como entender as antigas tradições, se a proposta do Ressuscitado cobra novas convicções?Afinal a quem dirigir a mensagem salvadora: à comunidade tradicional ou àqueles que não conhecem a proposta de Jesus? Quem tem uma palavra de conforto e orientação?

Eram tempos de dúvidas. Tempos difíceis. Mas o Espírito de Verdade ensinou o caminho(Jo 14,23-29). A visão da Cidade Santa (Ap 21,10-14.22-23) apresentou-se como uma resposta.

Mas antes disso e para não impor uma verdade absoluta, sem base numa tradição, sem consultar aqueles que haviam convivido com o Senhor… a sensatez mandou pedir ajuda e orientação: “Decidiram que Paulo, Barnabé e alguns outros fossem a Jerusalém, para tratar dessa questão com os apóstolos e os anciãos” (At 15,2). E a resposta veio na forma de uma mensagem universalizante: evitar a idolatria e seguir os passos de Jesus. Como ensinaram os apóstolos que haviam convivido com o Senhor: “Decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis” (At 15,21). E essa passou a ser uma resposta valida para todos, em todos os tempos!

E, caso ainda houvesse dúvidas… e elas existiam, o autor do livro do Apocalipse esclarece: Ninguém fica de fora. Na Cidade Santa, figura da Igreja; na habitação do próprio Deus, tem espaço e acolhida para todos. O convite não é apenas para um pequeno grupo, mas estendido a todos. Em todos os tempos e lugares!

Na imagem da Cidade Santa, sobre suas portas estavam escritos os nomes das tribos da Antiga Aliança: “Estava cercada por uma muralha maciça e alta, com doze portas. Sobre as portas estavam doze anjos, e nas portas estavam escritos os nomes das doze tribos de Israel. (Ap 21,12). Ou seja, o ponto de partida e a vinda do Senhor, dependeu da porta de entrada que foi o antigo povo de Deus: os nomes da “doze trios de Israel” escritos sobre as partas.

Entretanto o fundamento da Cidade, figurando a Igreja e a habitação do Senhor, eram os apóstolos. A base da Igreja não está nas portas, e sim no alicerce. E este alicerce não é outro senão os apóstolos. Aqueles que conviveram com Jesus, o Cordeiro. “A muralha da cidade tinha doze alicerces, e sobre eles estavam escritos os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro” (Ap 21,14).

Sabendo que os apóstolos são o fundamento da Igreja a comunidade que se deparava com um problema, procurou-os em busca de orientação (At 15,1-2). Sabendo que o verdadeiro templo e a verdadeira luz para as comunidades é o próprio Cordeiro, o autor do Apocalipse orienta: tendo o Senhor por guia, dispensam-se os demais preceitos. Sabendo que as normas antigas estavam ultrapassadas, que cedem lugar para aquele que estabeleceu as normas, afirma: “Não vi templo na cidade, pois o seu Templo é o próprio Senhor, o Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro. A cidade não precisa de sol, nem de lua que a iluminem, pois a glória de Deus é a sua luz e a sua lâmpada é o Cordeiro.” (Ap 21,22-23).

Então, em que se baseia a vida da Igreja? Qual é a novidade da mensagem de Jesus de Nazaré? Qual é a novidade que não deixa ninguém em dúvida?

A resposta é uma só: a luz que vem da Cidade Santa. E essa luz é o próprio Jesus, aquele que concede o Espirito de Amor, que vem do Pai.

E se os apóstolos são o fundamento e alicerce sobre o qual nasce e cresce a Igreja, o impulso para esse crescimento é o próprio amor de Cristo para com a Igreja, a comunidade dos que aderem à sua proposta de amor: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” ensina Jesus (Jo 14,23). E para assegurar a verdade dessa mensagem de amor, Jesus dá uma garantia: “o Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14,26).

Resta saber se nós vamos nos deixar iluminar e guiar pela luz da glória que é o próprio Deus…




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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