(Reflexões baseadas em: Isaías 60, 1-6; Efésios 3,2-3a.5-6; Mateus 2,1-12)
Para a Igreja o Natal não se resume a um dia.
Ele se prolonganaquilo que se denomina de tempo de Natal. Mas este é um período curto. Em seguida vem o tempo comum, que começa com o Batimos do Senhor e prossegue até a quarta feira de cinzas, quando se inicia a quaresma.
Nosso comentário de hoje se dá justamente ao redor do Batismo do Senhor, iniciando o tempo comum, ou seja, o período em que recordamos, liturgicamente, alguns episódios da vidada de Jesus.
Alguém, com certeza, perguntará: Mas Jesus precisou de ser batizado, como nós? Sim! Não!
Sim porque nasceu e viveu como um ser humano a fim de nos mostrar que também podemos fazer o que ele fez. Suas dores e alegrias as vivenciou como ser humano. Mesmo na hora do último sofrimento, na cruz, enfrentava tudo como ser humano. Qual seria seu mérito exemplar se nas provações tivesse se valido de sua divindade? Nesse caso poderíamos dizer: fez isso porque era Deus. Teve medo das dores e se refugiu na divindade. Mas não foi assim: sofreu as adversidades como ser humano e por ser humano.
Daíque seu batismo foi um processo natural e humano. Uma espécie de simbologia com a finalidade de dizer que a vida cristã começa nesse banho. E, no caso da Igreja Católica, esse banho purificador e de introdução ocorre com a criança ainda pequena. Sendo que os pais pedem o banho purificador: por isso o batismo que deve ser confirmado mais tarde com o sacramento do crisma, quando a criança já puder fazer escolhas. Jesus fez isso, escolheu seu momento e se fez batizar, confirmando sua missão e nos dando o exemplo.
Mas Jesus não precisava do batismo, pois nasceu sem pecado. Por isso seu banho não foi para purificação dos pecados, mas para Deus o apresentar. E Lucas (3,15-16.21-22) nos descreve a cena. “Quando todo o povo estava sendo batizado, Jesus também recebeu o batismo. E, enquanto rezava, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba. E do céu veio uma voz: 'Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer.'” (Lc 3,21-22). Essa apresentação/batismo é tão importante para a fé cristã, que os quatro evangelistas a retratam: Jo 1,31-34; Mt 3,13-17; Mc 1,9-11. E os quatro evangelistas mostram a mesma cena: João batizando; o Espírito se manifestando e o Pai apresentando o Filho batizado. Por isso, em nossas igrejas antes de batizarmos nossas crianças as apresentamos para a comunidade. Só então as batizamos com o batismo de Jesus, com água, mas para receber o que João menciona: “Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo”(Lc 3,16). Tudo realizado em nome da Trindade Santa, como no batismo de Jesus.
Isso para nos dizer que o batismo do cristão tem implicações. Não se resume a um pouco de água, óleo e mais alguns símbolos como a cruz e as vestes brancas. Pelo batismo a pessoa recebe o Espírito para ser fortalecido e se tornar capaz de fazer o que Jesus fez.
Como isso pode ser realizado? Seguindo as orientações do profetas e do apóstolos.
Isaías(42,1-4.6-7), fala de um Servo, que sofre, é verdade, mas também sobre ele repousa o Espírito do Senhor. E por ser um com o Espírito de Deus, o Servo é benevolente, está sempre disposto a oferecer mais uma oportunidade de redenção: “Não quebra uma cana rachada nem apaga um pavio que ainda fumega; mas promoverá o julgamento para obter a verdade” (Is 42,3). Além disso, o Servo “não se deixará abater” até que a justiça seja implantada; e que os países distantes conheçam seus ensinamentos. Isso porque o Servo será promotor da justiça; aliança para os povos; será o libertador pois tirará os cativos da prisão e dará visão aos cegos. Será a “luz das nações”
Essa proposta, nos ensinam os apóstolos (At 10-34-38), inicialmenteera destinada aos hebreus, mas em função da ação de Jesus passa a ser destinada a todas as nações. Uma vez que “Deus não faz distinção entre as pessoas. Pelo contrário, ele aceita quem o teme e pratica a justiça, qualquer que seja a nação a que pertença” (At 10,34-35).
Épara recordar tudo isso que o apóstolo Pedro, neste trecho dos Atos dos Apóstolos, faz seus ouvintes recordarem o que ocorreu na Judeia, começando na Galileia: Jesus ao ser batizado por João “foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele” (At 10, 37-38). Ou seja, a ação de Jesus ganha destaque a partir de sue batismo, que foi o momento em que se definiu a mediação da trindade: O filho recebendo o Espírito de Pai que envia o Filho a fazer o bem, curar e libertar. O batismo de Jesus, tem a mesma função do nosso: fazer de nós, não só morada de Deus, mas também agentes de mudanças, transformações e revoluções, como fez Jesus.
Neri de Paula Carneiro.
Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador
Outros escritos do autor:
Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;
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