sexta-feira, 25 de março de 2022

Quaresma 4 – Vou voltar para meu pai

(Reflexões baseadas em: Josué 5,9-12; 2Coríntios 5,17-21; Lucas 15,1-3.11-32)




Você já se deu conta de que todos os dias temos possibilidades de nos tornarmos uma nova pessoa? Nos lançarmos em novos projetos? Vivermos uma nova vida?

Isso é o que o apóstolo Paulo está propondo aos cristãos da comunidade de Corinto (2Coríntios 5,17-21): assumir a novidade que é a vida nova em Cristo. Também é isso que Josué (Josué 5,9-12) ouve de Deus: o fim de uma situação de sofrimento, ou seja, a proposta de dar um novo rumo para a história, o início de uma nova história...

E, principalmente, é o que Jesus nos apresenta, por meio das palavras de Lucas (Lucas 15,1-3.11-32) com a parábola do filho que retorna à casa do pai.

Os companheiros de marcha, que andavam com Josué,recebem o comunicado: a partir de agora teriam como alimento não mais o “maná”, o alimento do céu, mas “os produtos da terra” (Js 5,11-12). A terra da qual estavam tomando posse. Essa transição, deixando de ser andarilhos do deserto para se tornarem produtores foi sua proposta para redirecionar a vida. A vida de sofrimentos, passaria a ser uma vida de fartura.

Notemos, entretanto, que não se trata apenas de um presente divino. Trata-se de colher o alimento, que é “fruto da terra”.Para isso, entretanto, existe todo um processo de trabalho, pois se tem colheita, sem ter antes, o plantio, o preparo da terra, o preparo da semente… O alimento, dom de Deus, portanto, não se apresenta espontaneamente. Depende do trabalho, do esforço, da dedicação. Não é resultado de um ato isolado, milagroso, mas de um conjunto de atividades que sintetizamos na palavra trabalho.

Isso implica dizer que existe uma nova vida; que é possível mudar de vida, que é possível reconstruir a vida… mas, com certeza essa vida ou situação melhor não nasce espontaneamente, mas nasce como fruto de trabalho. Como resultado de dedicação!

Mas não é só isso. Ao se colher os “frutos da terra”, resultado do esforço e do trabalho de alguém, é necessário o gesto da gratidão. Josué e seus companheiros fizeram isso: celebraram a páscoa (Js 5,10); celebraram a saída de uma situação de sofrimento e a passagem para uma nova vida.

Qual é a fonte para essa vida nova? Paulo responde: “Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo. E tudo vem de Deus, que, por Cristo nos reconciliou” (2Cor 5,17-18). A fonte da nova vida é o próprio Cristo vivo.

Coroando essa proposta,Lucas nos apresenta Jesus contando a parábola dos dois filhos. O mais novo querendo uma nova vida, pediu a partilha dos bens. Foi para a vida nova que desejava e nela perdeu tudo. Sua nova vida, em vez de alegrias, virou tragédia. Decidiu-se por trilhar novo caminho, buscando outra vida. Decidiu voltar para junto do pai que o acolhe de braços abertos.

Sua aventura o trouxe de volta ao lar. Voltou para o lugar de onde havia partido, e aí encontrou a realização. A acolhida do pai, o retorno ao que havia deixado, a volta às origens… essa foi sua nova vida, seu novo começo: o retorno ao que havia abandonado!

Por sua vez, ali ao lado do pai, vivera sempre o irmão mais velho. Nunca abandonara o pai. Sempre teve tudo ao lado do pai. Mas nunca havia percebido esse convívio como algo bom e desejável…; seu cotidiano, ao lado do pai, não o estava deixando ver a riqueza em seu cotidiano. E, ao ver o pai recebendo o irmão aventureiro, sentiu-se humilhado, excluído, abandonado, desprestigiado… Tanto se ressentiu com a festa ao irmão aventureiro que nem quis entrar para comemorar o retorno do irmão. Ele “ficou com raiva e não queria entrar” (Lc 15,28). Foi necessário o pai vir ao seu encontro para mostrar que a felicidade, a vida nova, aquilo que realmente importa, estava ali, ao alcance da mão. A vida nova e feliz estava ali, junto ao pai e isso o irmão mais velho sempre tivera…

Cabe nos perguntarmos, e espero que você me ajude em busca da resposta: quem é o “filho pródigo”: o irmão mais novo que aprontou todas e voltou arrependido para o pai ou o irmão mais velho, magoado com a acolhida do irmão que retornava, não se dava conta do valor do convívio com o pai?

A felicidade de uma vida nova, que o irmão procurou, não estava longe, noutro país,num mudo de aventuras; sempre esteve ali, onde estava o irmão mais velho, trabalhador dedicado. Ambos os irmãos não haviam se dado conta disso. Um foi buscar longo; o outro não se dera conta do valor… Como, então, redimensionar a vida? O que fazer para perceber e usufruir do valor daquilo que está ao nosso redor…?

Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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