sábado, 24 de outubro de 2020

Não maltrates

Quem lê a bíblia pode perceber as maravilhas que Deus faz em favor de seu povo. O livro do Êxodo é um exemplo disso. E hoje, neste trigésimo domingo do tempo comum, ao lermos Ex 22,20-26, podemos superar qualquer dúvida: O senhor, definitivamente, toma o partido de seu povo. Mas, em meio ao povo, faz escolhas e opções de classe: opta pelo estrangeiro (Ex 22,20), pelo órfão e sua mãe viúva (Ex 22,21) mas, principalmente, faz uma opção pelo pobre (20,24).

É maravilhosa a forma como Deus defende o indefeso; como se coloca ao lado daquele que não tem companhia; como faz questão de ameaçar aqueles que ameaçam aos fracos. Mostra que sabe usar sua mão poderosa e a força de sua ira: “minha ira se inflamará” (Ex 22,23) contra aquele que causa a dor do indefeso, diz o Senhor. Mas, por outro lado, mostra sua compaixão, mostra sua face amorosa quando defende o fraco que clama por justiça e diz que “eu o ouvirei, porque sou misericordioso.” (Ex 22, 26).

Então, se você ouvir por aí, ou ler em algum lugar, alguém dizendo que não se pode misturar a prática religiosa com questões sociais, com política… pode crer que esse faz parte do time do anticristo. Pois Deus não é apartidário. Pelo contrário, Ele toma partido contra os poderosos opressores e defende as vítimas do sistema sócio-econômico ou da ambição dos usurários e banqueiros. “Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, a um pobre que vive ao teu lado, não agirás como um agiota.” (Ex 22, 24).

Essa postura do Deus do antigo testamento, defendendo o fraco, repercute na postura de Paulo, hoje na carta aos tessalonicenses (1Ts 1,5c-10). Aparece justamente quando o apóstolo elogia, não eventuais orações vazias, mas atitudes de solidariedade. Paulo elegia os tessalonicenses porque depois de terem ouvido a Boa Nova, anunciada pelo apóstolo, eles tornaram-se “um modelo para todos os fiéis” (1Ts1,7). O exemplo dessa comunidade foi tão convincente que passou a ser mais eficiente que a própria pregação (1 Ts 1,8), “pois todos contam como fomos recebidos por vós” (1Ts 1,9). Sua solidariedade perdurou por séculos, tanto que nos dias atuais somos convidados a olhar nossas atitudes tendo como parâmetro o que fizeram os tessalonicenses.

E se tudo isso ainda não for suficiente para demonstrar a necessidade da prática da fé, Mateus (22,34-40), mostra como Jesus subverte os valores antiquados e resume todos os mandamentos e ensinamentos dos profetas (Mt 22,40. E acaba mostrando que todos os mandamentos se resumem em dois, que na prática são um só: trata-se do mandamento do AMOR. Um amor que, ao mesmo tempo, está voltado para Deus, sem deixar de estar voltado para o outro. Amar a Deus e amar ao próximo: essa é a lei!

E Jesus é bem específico, ao dizer que “toda a lei e os profetas DEPENDEM desses dois mandamentos”. Ou seja, não adianta nenhuma outra atitude, dita cristã, se essa outra atitude não for pautada pelo mandamento do amor.

A questão, agora, é saber o porquê dessa opção em favor do amor para com o outro; o porquê da defesa do pobre, do fraco, do injustiçado.

A resposta ou o porquê disso é porque aqueles que estão em situação de vulnerabilidade não têm ninguém em sua defesa. E estão nessa situação, justamente, por estarem abandonados.

É a existência de pessoas não amadas, sofrendo, sendo vítimas de todo tipo de espertalhão é que o Livro Sagrado fala em sua defesa. E a lei, ou a nova lei, vale enquanto persistirem as situações contra as quais ela foi criada. Enquanto existirem pessoas sendo enganadas, ludibriadas, extorquidas, roubadas em seus direitos… vale advertência do livro do Êxodo: quando o pobre gritar em seu sofrimentos “eu ouvirei seu clamor. Minha ira se inflamará, e eu vos matarei à espada” (Ex 22,22-23).

E você: não quer ser destinatário da ira do Senhor? Então não maltrates aqueles que convivem com você. Mas não seja bonzinho apenas por medo da Ira do Senhor. Seja justo e honesto em todas as suas atitudes porque essa é a coisa certa a ser feita.

E se alguém ainda te disser que não deve misturar coisas da religião com a busca pela justiça social, então essa pessoa não deve ser levada a sério, pois: ou não entende nada do que o Senhor fala pela bíblia, ou faz parte do time do anticristo. Quanto a nós que abraçamos aquilo que o Senhor nos ensina, sigamos sua orientação: “não maltrates!”

Neri de Paula Carneiro

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