sábado, outubro 17, 2020

Para que todos saibam

Quais os planos de Deus? Quem é escolhido por Deus? O que deve ser ofertado a Deus?

Estas são algumas indagações que podemos nos fazer, diante das leituras que a Igreja nos apresenta neste vigésimo nono domingo do tempo comum.

A primeira indagação tem a ver com a primeira leitura, retirada do profeta Isaías (Is 45,1.4-6). Nestes poucos versículos o profeta mostra como Ciro, rei persa, portanto um estrangeiro, é visto e indicado como emissário de Deus. O contexto é o final do período exílico, quando Ciro vence os babilônios e o profeta vê nisso um indício de que o fim do cativeiro está próximo, pois o jovem rei está vencendo seus inimigos. E, do ponto de vista político, trata-se de uma leitura simples: derrotando os adversários, Ciro pode ser visto como aliado do povo hebreu, que fora exilado quando Nabucodonosor dominou Jerusalém.

Os dados históricos são fáceis de entender. A grande questão é saber qual o propósito de Deus em permitir que seu povo seja dominado e exilado. A resposta histórica: porque o império babilônico está em expansão e os descendentes de abraão estão em decadência moral e política. Mas do ponto de vista religioso, pode-se dizer que o cativeiro ocorreu porque os dirigentes do povo se corromperam, aderiram a outros deuses e aceitaram os valores das nações dominantes. Ou seja, a corrupção da classe dirigente respingou malefícios sobre o povo.

Como o Senhor não abandona os seus, Isaías vê em Ciro o enviado de Deus, para purificar o povo, depois de “dobrar o orgulho dos reis” (Is 45,1). O rei persa é escolhido pelo nome, “por causa de meu servo Jacó, e de meu eleito Israel” (Is 45,4), diz o Senhor que se apresenta como único Deus (Is 45,5-6).

Qual o plano de Deus? Apresentar-se: “Eu sou o Senhor, não há outro”!

Paulo (1 Ts 1,1-5) vai acrescentar um ingrediente novo: vai mostrar que esse único Deus é, também, trino. E por ser trino, uma comunidade, mobiliza a comunidade para a união e a oração, como a comunidade de Tessalônica, “reunida em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 1,1), mediante a força do Espírito Santo (1Ts 1,5). É a ação da trindade.

Com isso, Paulo mostra que, não só o estrangeiro Ciro é escolhido pelo Senhor, mas o próprio Senhor se manifesta aos estrangeiros, pois a comunidade cristã à qual o apóstolo dirige esta carta é uma comunidade sediada numa cidade grega. Ou seja, a Igreja que nasceu do sangue derramado do cordeiro, nasce com vocação para ir além das fronteiras. É uma igreja missionária.

Sendo uma comunidade missionária, o que a Igreja pode entregar a Deus?

Evidentemente não vai ser a atitude vil dos representantes do povo, como mostra Mateus (Mt 22,15-21). Aqueles que se fazem representantes do povo traçam planos para enganar e tirar proveito próprio. Mesmo sendo de grupos adversário como os fariseus e os herodianos (Mt 22, 15-16) são capazes de se unir para praticar maldades. O mesmo que fazem atualmente os partidos adversários que se unem com o objetivo de alcançar o poder… e os benefícios que ele confere.

Esse exemplo nefasto se perpetuou e muitos daqueles que, atualmente, são ou pretendem ser representantes do povo manobram para enganar à população. Da mesma forma que tentaram enganar a Jesus. Aqueles foram desmascarados pelo Mestre. Cabe a nós, nos dias atuais, não nos deixarmos levar na onda dos espertalhões. Desmascarar aqueles que nada plantam junto ao povo, mas em tempos eleitoreiros querem colher votos dos desavisados.

É claro que o imposto devido, se justo e retornável em forma de benefícios sociais, devem ser pagos. Por isso, Jesus admite que se deve dar “a César o que é de César”. Isso porque o cristão não está aqui para desestabilizar o sistema. Mas, por outro lado, o cristão é aquele que dá “a Deus o que é de Deus.” (Mt 22,21)

Em que consiste isso?

Consiste em manter uma atitude, ao mesmo tempo orante e atuante na sociedade. Deus não perde nem lhe é acrescentado nada, se apenas nos prostrarmos em recitações do orações ou estardalhosa profusão de preces. Ao Senhor importa a atitude e a postura diante e ao longo da vida.

Ciro, o persa, deu a liberdade ao cativos. A comunidade de Tessalônica deu, segundo escreve Paulo, “a atuação da vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança” (1 Ts, 1,3). A postura de Ciro e a dos tessalonicenses foi semelhante: fizeram algo pelo outro. A fé, a caridade e a esperança dos tessalonicenses tinham o objetivo de ajudar.

O que se deve ofertar a Deus, portanto, muito mais do a orações vazias de ação, são as ações em forma de oração, para que todos saibam que o quê nos move não é só a fé. Somos movidos, também pela esperança… e principalmente pela caridade comprometida.

Neri de Paula Carneiro

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