quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

O corpo de Cristo

(Reflexões baseadas em: Neemias 8,2-4a.5-6.8-10; 1 Coríntios 12,12-30; Lucas 1,1-4;4,14-21)




Você já parou para observar a dinâmica dos nossos encontros de oração dominical, em nossas comunidades cristãs?

Não importa se somos católicos ou de qualquer das denominações evangélicas. A dinâmica é a mesma. Claro que cada denominação tem a sua característica e seu jeito específico de enfatizar um ou outro aspecto: entre os católicos um momento muito importante é da Eucaristia; algumas denominações evangélicas enfatizam a Santa Ceia.... Mas isso não muda o roteiro: um momento de acolhida, momentos para cantar, momento de ouvir a Palavra de Deus, momento de refletir a Palavra de Deus (homilia, sermão, pregação…), momento de oração pessoal pedindo e agradecendo e um momento de despedida.

Algo semelhante nos apresenta o livro de Neemias (8,2-4a.5-6.8-10). O sacerdote, diante da assembleia faz a leitura do Livro Santo: “Ele abriu o livro à vista de todo o povo. E, quando o abriu, todo o povo ficou de pé” (Ne 8,5). Ou seja, o povo se posicionou mostrando respeito e prontidão para ouvir a proposta divina. Então “Esdras fez a leitura do livro, desde o amanhecer até ao meio-dia”. E enquanto o sacerdote fazia leitura o “povo escutava com atenção a leitura do livro da Lei” (Ne 8,3). Após a leitura, o povo faz reverencia à Palavra anunciada. “Depois inclinaram-se e prostraram-se diante do Senhor, com o rosto em terra” (Ne 8,6). Em seguida vem a explicação, a pregação, ou a homilia, como queiramos..., pela qual é dito ao povo que deve manter a alegria de servir ao Senhor. E, por fim a assembleia é despedida; orientada a voltar para casa pondo em prática o que aprendeu: “Ide para vossas casas e comei carnes gordas, tomai bebidas doces e reparti com aqueles que nada prepararam, pois este dia é santo para o nosso Senhor” (Ne 8,10).

Como se vê, o que o povo de Deus fazia, em tempos remotos, fazemos nós em nossas igrejas. Evidentemente, cada denominação ao seu modo, mas todos bebemos na mesma fonte: a Palavra Santa do Senhor.

A mesma coisa observamos na narrativa de Lucas (1,1-4;4,14-21). Depois de pesquisar sobre a vida de Jesus, fala à comunidade (Lc 1,1-4). Mas por que ele faz isso? Para demonstrar “a solidez dos ensinamentos” sobre o Mestre (Lc 1,4). Ele mostra isso, na própria pessoa de Jesus. E o que faz Jesus, nesta narrativa de Lucas? Faz suas pregações nas várias cidades e as pessoas gostam disso, pois o elogiam (Lc 4,15). E como judeu, cumpre com suas obrigações religiosas; segundo o costume, naquele sábado foi à sinagoga; apresentou-se para fazer a leitura (Lc 4,16). Leu e fez a pregação. Aquilo que fizera em outros locais, faz agora em sua cidade. Ele afirma, categoricamente: esta escritura não é para o passado, nem para o futuro. É para agora: “Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir.” (Lc 4,21). Com isso querendo nos dizer que a Palavra de Deus  é o caminho para a vida. É no momento em que estamos vivendo, o presente, que devemos por em prática os ensinamentos.

E qual é esse ensinamento que Jesus apresenta? A necessidade de construção de uma nova sociedade a fim de, nela, instalar as portas do Reino de Deus. Jesus leu o trecho do profeta Isaías que falava a seu respeito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-19).

E quando entendemos o que Paulo disse à comunidade de Corinto (1Cor 12,12-30) percebemos que essa missão, ou esse cumprimento da profecia, assumida por Jesus, ele a transmite aos seus discípulos. Hoje, os discípulos somos nós. E o somos como membros de um corpo, uma vez que formamos “um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito” (1Cor 12,13).

Somos membros do corpo de Cristo, como diz o apóstolo: “todos juntos, sois o corpo de Cristo e, individualmente, sois membros desse corpo” (1Cor 12,27). Por esse motivo também somos continuadores de sua missão que consiste em promover as pessoas e o bem das pessoas. Esse bem corresponde à instalação de “um ano da graça do Senhor.” (Lc 4,19).

Portanto, cada um dos momentos de cada uma das nossas celebrações, não importa se na Igreja Católica ou em qualquer uma das denominações evangélicas, tem como finalidade fazer com que nos percebamos como membros do Corpo de Cristo. E, como tal, nos comprometamos com o bem uns dos outros, como ensina Paulo: “para que não haja divisão no corpo e, assim, os membros zelem igualmente uns pelos outros. Se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele; se é honrado, todos os membros se regozijam com ele” (1Cor 12,25-26).

E se assim não nos percebemos é porque ainda estamos separados do Corpo de Cristo.




Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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