sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Transfiguração: O livro de Deus

(Daniel 7,9-10.13-14; 2Pedro 1,16-19; Mateus 17,1-9)




Por que Jesus se transfigurou (Mateus 17,1-9)? Ele tinha necessidade de se mostrar no esplendor de sua divindade?

Por que se mostrou pleno apenas aos três e não aos doze? Por que pediu sigilo sobre o fato?

Você percebeu que a cena da transfiguração, narrada por Mateus, é bastante parecida com a cena descrita por Daniel (7,9-10.13-14)? O profeta fala a respeito de um ancião recebendo a visita de um “filho de homem”. Notemos que o “filho de homem”, descrito pela visão de Daniel, é servido por “todos os povos, nações e línguas”. Esse “Filho de Homem” recebe “poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá” (Dn 7,14).

Notemos que, na cena da Transfiguração o rosto de Jesus “brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz”. E, em seguida, interrompendo o susto de Pedro: “uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: "Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!" (Mt 17,3.6). Notemos, aqui, que o importante não é o resplendor de Jesus, mas a ordem divina: ESCUTAI-O!

Como podemos notar, ambas as cenas, em Daniel e em Mateus, tem muito em comum. Podemos, por isso, dizer que a profecia de Daniel se confirma na Transfiguração de Jesus. Por isso, também podemos dizer que tanto em Daniel como em Mateus, o Senhor está nos mandando um recado: o tempo está próximo.

Lá em Daniel os livros que estão para serem abertos, representam a vida de cada um: é o Julgamento. Na Transfiguração o Senhor nos faz o alerta: não se distanciar do projeto divino e para isso é necessário saber que Jesus é o Filho amado e deve ser ouvido! E deve ser ouvido porque ele está prestes a abrir os livros das nossas vidas! O que temos em nosso livro?

Mas por que a cena de mistério? Por que Jesus pede sigilo? Por que não se mostrou a todos? Por que desejou se mostrar por inteiro apenas aos três?

Uma resposta, talvez, pode ser essa que vem das palavras de Pedro (2 Pd 1,16-19).

O ar de mistério, ao redor de Jesus, talvez estivesse ocorrendo porque nem todos os que se faziam batizar; nem todos os primeiros cristãos; nem todos aqueles que ouviam as novidades a respeito de Jesus, o Cristo, estavam aderindo à sua proposta. E não aderiam à sua proposta porque, segundo Pedro os incrédulos estavam imaginando que Jesus fosse apenas mais uma lenda! Mais um mito! Mais um charlatão! Mais um daqueles que tiravam proveito enganando e enriquecendo às custas do povo. Por isso, Pedro diz: “Não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua majestade” (2Pd 1,16).

Se Jesus fosse mais uma das tantas lendas ou um desses charlatães que se aproveitam da fé popular, não teria sentido alimentar a fé. E Jesus não queria ser seguido por causa de milagres. Não queria ser seguido porque podia alimentar multidões. Não queria ser seguido porque era popular entre os pobres. Não queria que o seguissem por suas belas palavras!

Ele queria ser seguido, sim! Mas que esse seguimento ocorresse por adesão a um projeto de vida; adesão a um plano traçado pelo Pai para a toda a eternidade. Jesus queria a adesão a uma proposta que fizesse sentido para cada um dos seus seguidores porque esse seguimento implicava em salvação; implicava em ter o nome inscrito no livro da vida; aquele livro que estava para ser aberto e que representava um divisor de águas: o momento da separação entre os que alimentaram a fé com gestos de bem em defesa da vida; e aqueles que espalham sementes de morte.

Mas os boatos estavam dificultando a adesão a esse projeto de vida. Por isso Pedro afirma: Não está falando em nome de fantasias e de mitos enganosos. Ele falava em nome daquele que, efetivamente passara da morte para a vida. Bem do jeito que Daniel havia dito, com sua “visão noturna”. Pedro insiste dizendo que efetivamente Jesus “recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando do seio da esplêndida glória se fez ouvir aquela voz que dizia: ‘Este é o meu Filho bem-amado, no qual ponho o meu bem-querer’” (1Pd 1,17).

Temos assim o sentido e o porquê da Transfiguração: Jesus quer mostrar que traz a mensagem salvadora e que não é um mito charlatão. Jesus quer adesão pela fé e não com base em boatos ou milagres que alguns usam para se aproveitar. Jesus traz uma boa notícia: proposta de uma vida plena, mas somente para quem tem o nome no livro!

A Transfiguração de Jesus é um anúncio de como podemos ser, quando seguimos seus passos, escrevendo nosso nome no livro de Deus




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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