quinta-feira, 20 de julho de 2023

Os justos brilharão

(baseado em: Sabedoria 12,13.16-19; Romanos 8,26-27; Mateus 13,24-43)



A contemplação do Reino. Assim podemos entender a proposta que Deus nos faz, hoje.

E quais os critérios para contemplarmos e entendermos esse Reino, proposto pelo Pai, ensinado por Jesus e para o qual nos dirige o Divino Espírito?

Sabemos que é destinado aos justos, aos simples, aos excluídos e a quem tem “fome e sede de justiça”. Outros critérios podemos buscar em Mateus 13, 24-43. Só lembrando que todo o capítulo 13, do evangelho segundo Mateus, é uma coleção de parábolas (histórias de comparações) com as quais Jesus nos apresenta o Reino e os caminhos para alcançá-lo.

Hoje Jesus nos apresenta o Reino por meio de três comparações: “é como um homem que semeou boa semente” (Mt 13,24); é como “uma semente de mostarda” (Mt 13,31) e na terceira comparação Jesus diz que o “O Reino dos Céus é como o fermento” (Mt 13,33).

Essas três comparações nos dão algumas pistas a respeito do Reino: a primeira pista é a afirmação do Reino: ele “é”. Esse verbo é usado para indicar a existência. Jesus diz que ele “É” porque ele existe; admitamos ou não o Reino é uma realidade. A segunda pista diz respeito a “boa semente”. A boa semente, quando plantada, germina. Isso significa que o Reino, embora existente em si mesmo, ente nós ele precisa germinar, para crescer. E a germinação depende do solo, que somos nós. A terceira pista mostra o dinamismo de crescimento do Reino. Como a semente de mostarda: pequenina, mas em solo fértil cresce e frutifica e dá abrigo. Esse abrigo do reino está disponível a todos. A quarta pista, o fermento, mostra como o Reino pode crescer. Para que isso ocorra, é necessário que a mulher faça a mistura (protagonismo feminino), é o dom da fecundidade, cujo exemplo é Maria

O homem, pode até ser bom semeador, e usar uma boa semente, mas sem a fecundidade feminina não há crescimento. A terra-mãe é fecunda e faz nascer a semente. A semente é boa, e germina. Mas o fermento (que é masculino), pode até ser excelente, mas sem a mistura feita pelo dom fermento, não é eficiente. Não faz crescer. O crescimento do Reino-entre-nós, depende da mistura do fermento na massa. A interação faz o crescimento. O crescimento do Reino não é para indivíduos isolados, mas para a comunidade. É o fermento, misturado pela fecundidade feminina, que faz o Reino crescer na comunidade, semente-do-Reino.

Outra característica, do Reino, encontramos no livro da Sabedoria (12,13.16-19). Destacando, aqui, o fato de que o Reino é o convívio com Deus. Um Deus que fundamenta seu poder na justiça. Notando que a justiça divina não se liga a um principio legal, mas à equidade. Ou seja, cumprir uma lei qualquer, nem sempre é uma ação justa, mas é justo quem domina a “própria força”, quem “julga com clemência”, quem governa “com grande consideração” (Sb 12,18). Assim faz o Senhor, para nos mostrar como agir, pois esse agir leva ao dom da esperança e “o perdão aos pecadores” (Sb 12,19).

Também Paulo (Rm 8,26-27), oferece informações a respeito do Reino. Mesmo sem mencionar o Reino, ao dizer que o "Espírito vem em socorro da nossa fraqueza” e que “é o próprio Espírito que intercede em nosso favor” (Rm 8,26), Paulo está demonstrando que as sementes do Reino se estendem em favor das pessoas, pois é dom do Espírito cuja ação é uma ação do Reino porque “é sempre segundo Deus que o Espírito intercede” (Rm 8,27).

Outra importante característica do Reino é a dimensão trinitária. O Reino é dom do Pai, manifestada pelo Espírito e anunciada pelo Filho. A ação de Jesus de Nazaré, anunciando o Reino, é uma manifestação do Espírito que nos conduz ao Pai. E isso para nos indicar que o Reino de Deus entre nós acontece e se manifesta na vida comunitária. O fermento do reino, é uma mistura comunitária. O reino é uma oferta para todos; é recebido individualmente, mas se manifesta na interação, a exemplo da Trindade Santa.

Por fim, não podemos nos esquecer que diante da proposta do Reino, o ser humano tem que tomar uma decisão: assumir-se como trigo ou como joio.

A opção, a escolha, é de cada um. A proposta de ser trigo é oferecida a todos. Mas alguns preferem ser joio. Ser trigo é aceitar o reino e todas as maravilhas inerentes à presença e convívio com Deus. Ser joio é escolher o afastamento definitivo da convivência com Deus, no Reino que nos foi preparado. Ser trigo é se juntar à comunidade em favor da comunidade. Ser joio é afastar-se comunidade, escolhendo ser queimado no fogo do isolamento (Mt 13,42).

Aqueles que escolhem e acolhem a semente e o fermento do Reino, esses são aqueles que “brilharão como o sol no Reino de seu Pai” (Mt 13, 43)




Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

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