quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Tu tens o poder



(Reflexões baseadas em: Lv 13,1-2.44-46; 1Cor 10,31-11,1; Mc 1,40-45)







Em diferentes oportunidades temos dito que Deus age a partir das condições que o ser humano oferece. Ou, dizendo de outra forma: Deus não age se o ser humano não fizer a sua parte.

E podemos dizer mais, não existe milagre se o ser humano não oferecer as condições para Deus operar. Ou seja, Deus respeita o principal milagre com o qual nos presenteou: a liberdade.

Somos livres para fazer o certo e o errado; para fazer o bem, para negligenciá-lo ou para fazer o mal. Somos livres para colaborar com a obra do Senhor ou com a obra do adversário. Com a liberdade – livre arbítrio que nos foi presenteada por Deus – podemos decidir sobre tudo que nos diz respeito e também aquilo que fazemos e interfere ou repercute na vida dos outros. Somos senhores de nossas vidas. E Deus está junto a nós para assegurar que o bem que escolhemos fazer repercuta sobre as pessoas.

Isso pode ser comprovado a partir do que a Santa Palavra nos ensina. O trecho do Evangelho segundo Marcos (Mc 1,40-45), demonstra isso de forma muito clara. Mas o trecho de Marcos tem que ser lido à luz da passagem do livro do Levítico (Lv 13,1-2.44-46), no qual o Senhor estabelece as normas do puro e do impuro. E no trecho em questão não sobra dúvidas “Se o homem estiver leproso é impuro, e como tal o sacerdote o deve declarar” (Lv 13,44).

O leproso, portanto, é impuro. E não deve aproximar-se das demais pessoas, segundo o Levítico. Mas o que faz o leproso, mencionado no trecho narrado por Marcos? Faz exatamente o oposto. Procura a multidão dos seguidores de Jesus e interpela o Mestre. O leprozo, impuro, busca sua purificação!

Em lugar de gritar, como indica o Levítico: “impuro, impuro” (Lv 13,45) e afastar-se das demais pessoas, o homem, movido pelo desespero e pela sua liberdade, ao aproximar-se de Jesus porta-se com humildade. Ajoelha-se e implora. “Um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: ‘Se queres tens o poder de curar-me’” (Mc 1,40). Jesus o curou, mas não foi o Mestre que o procurou para lhe ofereceu a cura, foi ele que tomou a iniciativa de pedir a recuperação.

Aqui, o mais importante não foi a cura operada por Jesus, mas a iniciativa do leproso, o homem impuro, marginalizado, excluído. Mesmo sabendo que todos o excluíam, por causa de sua condição, ele tomou a iniciativa e procurou Jesus. E apelou para o poder do Mestre. E o Mestre não se negou a interferir em seu favor.

Para melhor visualizar esta situação, imaginemos dois estudantes em véspera de prova. Ambos apelam para a ajuda de Deus e fazem, inclusive, a mesma prece: “Senhor, ajuda-me a fazer uma boa prova amanhã. Que eu saiba as respostas de todas as questões”. Depois da prova veremos que o primeiro estudante, que havia prestado atenção às aulas, feito todas as tarefas e estudado em preparação, efetivamente tirou boa nota. Ele faz nova prece: “Senhor obrigado por ter me ajudado a lembrar as respostas das questões”. O segundo, que foi relapso durante as aulas, não fez as tarefas e nem se preparou, ficou com nota baixa. Em vez de uma prece de agradecimento, faz uma lamentação: “Senhor, por que me abandonaste? Por que não me ajudaste e não me iluminaste para saber as respostas?” Ele foi negligente e ainda culpou a Deus pelo seu fracasso.

Ambos fizeram o mesmo pedido, mas somente um ofereceu as condições para Deus agir. O Espírito Santo, realmente iluminou o primeiro estudante, pois havia condições para isso. Mas não teve como realizar a obra de “dar sabedoria” para aquele que fez uso equivocado de sua liberdade.

Com isso podemos entender o motivo pelo qual Jesus pede ao leproso curado que não faça alarde de sua cura, mas apresente-se ao sacerdote para que ele cumpra o ritual estabelecido pelo Levítico. “Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato” (Mc 1,45). Caso ele não cumprisse todos os preceitos, poderia passar a informação de que Jesus era apenas um mago. Mas cumprindo os preceitos divinos demonstrou que efetivamente fez de sua vida um ato de amor a Deus.

Esse personagem curado, escolheu cumprir a vontade de Deus antes da cura e depois da cura. E, também escolheu pedir a ajuda divina durante sua enfermidade. Neste ponto seria interessante fazermos o nosso exame de vida. Como a temos conduzido? Com quais pré requisitos nos apresentamos a Deus para lhe pedirmos suas graças? Vivemos para satisfazer nossas vontades esperando que o Senhor cuide de nós? Ou procuramos fazer aquilo que é certo, e pedimos a ajuda de Deus para continuarmos acertando?

Aqui vale seguir o conselho paulino(1Cor 10,31-33.11,1). Notemos que o apóstolo não aconselha a comunidade a fazer o que achar conveniente para que Deus esteja entre eles. Pelo contrário, afirma categoricamente: “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1Cor 10,31). E, sendo assim, Deus se faz presente e oferece sua graça para edificar a vida.







Neri de Paula Carneiro.

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Outros escritos do autor:

Filosofia, História, Religião: https://www.webartigos.com/index.php/autores/npcarneiro;

Literatura: https://www.recantodasletras.com.br/autores/neripcarneiro.

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